(Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended, Documented, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos)
I.
A ORIGEM DOS “CINCO PONTOS”
A.
O PROTESTO DO PARTIDO ARMINIANO, NA HOLANDA
Os
Cinco Pontos do Calvinismo tiveram sua origem a partir de um protesto que os
seguidores de James Arminius (um professor de seminário holandês) apresentaram
ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de seu líder. O protesto
consistia de “cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou
conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. O partido
arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda
(Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar
com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto. As doutrinas às quais
os arminianos fizeram objeção eram as relacionadas com a soberania divina, a
inabilidade humana, a eleição incondicional ou predestinação, a redenção
particular (ou expiação limitada), a graça irresistível (chamada eficaz) e a
perseverança dos santos. Essas são doutrinas ensinadas nesses símbolos da
Igreja Holandesa, e os arminianos queriam que elas fossem revistas.
B.
OS “CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO”
Os
cinco artigos de fé contidos na “Remonstrance” podem ser resumidos no seguinte:
1.
Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da incredulidade.
2.
Cristo morreu por todos os homens, em geral, e em favor de cada um, em
particular, embora somente os que crêem sejam salvos.
3.
Devido à depravação do homem, a graça divina é necessária para a fé ou qualquer
boa obra.
4.
Essa graça pode ser resistida.
5.
Se todos os que são verdadeiramente regenerados vão seguramente perseverar na
fé é um ponto que necessita de maior investigação. Esse último ponto foi depois
alterado para ensinar definitivamente a possibilidade de os realmente regenerados
perderem sua fé, e, por conseguinte, a sua salvação. Todavia, nem todos os
arminianos estão de acordo, nesse ponto. Há muitos que acreditam que os
verdadeiramente regenerados não podem perder a salvação e estão eternamente
salvos.
C.
A BASE FILOSÓFICA DO ARMINIANISMO
Conforme
expõe J.I.Packer (O “Antigo” Evangelho, pp. 5, 6) a teologia contida nessa
“Remonstrance” (ou Representação) “originou-se de dois princípios filosóficos:
primeiro, que a soberania de Deus é incompatível com a liberdade humana, e, portanto,
também com a responsabilidade humana; em segundo lugar, que habilidade é algo
que limita a obrigação... Com bases nesses princípios, os arminianos extraíram
duas deduções:
Primeira,
visto que a Bíblia considera a fé como um ato humano livre e responsável, ela
não pode ser causada por Deus, mas é exercida independentemente dEle;
Segunda,
visto que a Bíblia considera a fé como obrigatória da parte de todos quantos
ouvem o Evangelho, a capacidade de crer deve ser universal. Portanto, eles
afirmam, as Escrituras devem ser interpretadas como ensinando as seguintes
posições:
1.
O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa crer
salvaticiamente (salvificamente) no Evangelho, uma vez que este lhe seja
apresentado;
2.
O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa rejeitá-lo;
3.
A eleição divina daqueles que serão salvos alicerça-se sobre o fato da previsão
divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação;
4.
A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom
da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a
possibilidade de salvação para todo aquele que crê;
5.
Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça, conservando
a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se perdem. Dessa
maneira, o arminianismo faz a salvação do indivíduo depender, em última
análise, do próprio homem, pois a fé salvadora é encarada, do princípio ao fim,
como obra do homem, pertencente ao homem e nunca a Deus”.
D.
A REJEIÇÃO DO ARMINIANISMO PELO SÍNODO DE DORT E A FORMULACÃO DOS CINCO PONTOS
DO CALVINISMO
Em
1618 foi convocado um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar
os pontos de vista de Armínio à luz das Escrituras. Essa convocação foi feita
pelos Estados Gerais da Holanda para o dia 13 de novembro de 1618. Constou de
84 membros e 18 representantes seculares. Entre esses estavam 27 delegados da
Alemanha, Suíça, Inglaterra e de outros países da Europa. Durante os sete meses
de duração do Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos. Após um
exame minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da
época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo concluiu
que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser
rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Não somente isso,
mas o Concílio impôs censura eclesiástica aos “remonstrantes”, - depondoos de
seus cargos, e a autoridade civil (governo) os baniu do país por cerca de seis
anos.
Além
de rejeitar os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino
bíblico a respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido,
desde então, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de
Calvino ter sido grande defensor e expositor desse assunto. Embora cause
estranheza a muitos essa posição, devido à mudança teológica que as igrejas têm
sofrido desde vários séculos, os reformadores eram unânimes em condenar o
arminianismo como uma heresia ou quase isso. A salvação era vista como uma obra
da graça de Deus, do começo ao fim, sem qualquer contribuição do homem. Essa
posição pode ser resumida na seguinte proposição: Deus salva pecadores.
II.
OS CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO CONTRASTADOS COM OS CINCO PONTOS DO CALVINISMO
A.
O LIVRE ARBÍTRIO OU HABILIDADE HUMANA CONTRASTADO COM A INABILIDADE TOTAL OU
DEPRAVAÇÃO TOTAL
Arminianismo: Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela
queda, o homem não ficou reduzido a um estado de incapacidade total. Deus,
graciosamente, capacita todo e qualquer pecador a arrepender-se e crer, mas o
faz sem interferir na liberdade do homem. Todo pecador possui uma vontade livre
(livre arbítrio), e seu destino eterno depende do modo como ele usa esse livre
arbítrio. A liberdade do homem consiste em sua habilidade de escolher entre o
bem e o mal, em assuntos espirituais. Sua vontade não está escravizada pela sua
natureza pecaminosa.. O pecador tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus
e ser regenerado ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido
precisa da assistência do Espírito, mas não precisa ser regenerado pelo
Espírito antes de poder crer, pois a fé é um ato deliberado do homem e precede
o novo nascimento. A fé é o dom do pecador a Deus, é a contribuição do homem
para a salvação.
Calvinismo:
Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no
Evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu
coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, pois
está escravizada à sua natureza má; por isso ele não irá - e não poderá jamais
- escolher o bem e não o mal em assuntos espirituais. Por conseguinte, é
preciso mais do que simples assistência do Espírito para se trazer um pecador a
Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe
dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a
salvação, mas é ela própria parte do dom divino da salvação.
É
o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.
B.
A ELEIÇÃO CONDICIONAL CONTRASTADA COM A ELEIÇÃO INCONDICIONAL
Arminianismo: A escolha divina de certos indivíduos para a salvação, antes da
fundação do mundo, foi baseada na Sua previsão (presciência) de que eles
responderiam à Sua chamada (fé prevista). Deus selecionou apenas aqueles que
Ele sabia que iriam, livremente e por si mesmos, crer no Evangelho. A eleição,
portanto, foi determinada ou condicionada pelo que o homem iria fazer. A fé que
Deus previu e sobre a qual Ele baseou a Sua escolha não foi dada ao pecador por
Deus (não foi criada pelo poder regenerador do Espírito Santo), mas resultou
tão somente da vontade do homem. Foi deixado inteiramente ao arbítrio do homem
o decidir quem creria e, por conseguinte, quem seria eleito para a salvação.
Deus escolheu aqueles que Ele sabia que iriam, de sua livre vontade, escolher a
Cristo. Assim, a causa última da salvação não é a escolha que Deus faz do
pecador, mas a escolha que o pecador faz de Cristo.
Calvinismo:
A escolha divina de certos indivíduos para a salvação, antes da fundação do
mundo, repousou tão somente na Sua soberana vontade. A escolha de determinados
pecadores feita por Deus não foi baseada em qualquer resposta ou obediência
prevista da parte destes, tal como fé ou arrependimento. Pelo contrário, é Deus
quem dá a fé e o arrependimento a cada pessoa a quem Ele escolheu. Esses atos
são o resultado e não a causa da escolha divina. A eleição, portanto, não foi
determinada nem condicionada por qualquer qualidade ou ato previsto no homem.
Aqueles a quem Deus soberanamente elegeu, Ele os traz, através do poder do
Espírito, a uma voluntária aceitação de Cristo.
Desta
forma, a causa última da salvação não é a escolha que o pecador faz de Cristo,
mas a escolha que Deus faz4do pecador.
C.
A REDENÇÃO UNIVERSAL OU EXPIAÇÃO GERAL CONTRASTADA COM A REDENÇÃOPARTICULAR OU
EXPIAÇÃO LIMITADA
Arminianismo: A obra redentora de Cristo tornou possível a salvação de todos,
mas na verdade não assegurou a salvação de ninguém. Embora Cristo tenha morrido
por todos oshomens, em geral, e em favor de cada um, em particular, somente
aqueles que creem nEle são salvos. A morte de Cristo capacitou a Deus a perdoar
pecadores na condição de quecreiam, mas na verdade não removeu (expiou) o
pecado de ninguém. A redenção de Cristosó se torna efetiva se o homem escolhe
aceitá-la.
Calvinismo:
A obra redentora de Cristo foi intencionada para salvar somente os eleitos e,
de fato, assegurou a salvação destes. Sua morte foi um sofrimento
substitucionário da penalidade do pecado no lugar de certos pecadores
específicos. Além de remover o pecado do Seu povo, a redenção de Cristo
assegurou tudo que é necessário para a sua salvação, incluindo a fé que os une
a Ele. O dom da fé é infalivelmente aplicado pelo Espírito a todos por quem
Cristo morreu, deste modo, garantindo a sua salvação.
D.
A POSSIBILIDADE DE SE RESISTIR À OBRA DO ESPIRITO SANTO CONTRASTADA COM A
CHAMADA EFICAZ DO ESPÍRITO OU GRAÇA IRRESISTÍVEL
Arminianismo: O Espírito chama internamente todos aqueles que são externamente
chamados pelo convite do Evangelho. Ele faz tudo que pode para trazer cada
pecador à salvação. Sendo o homem livre, pode resistir de modo efetivo a essa
chamada do Espírito. O Espírito não pode regenerar o pecador antes que ele
creia. A fé (que é a contribuição do homem para a salvação) precede e torna
possível o novo nascimento.
Desta
forma, o livre arbítrio limita o Espírito na aplicação da obra salvadora de
Cristo. O Espírito Santo só pode atrair a Cristo aqueles que O permitem atuar
neles. Até que o pecador responda, o Espírito não pode dar a vida. A graça de
Deus, portanto, não é invencível; ela pode ser, e de fato é, freqüentemente,
resistida e impedida pelo homem.
Calvinismo:
Além da chamada externa à salvação, que é feita de modo geral a todos que ouvem
o evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos uma chamada especial interna,
a qual inevitavelmente os traz à salvação. A chamada externa (que é feita
indistintamente a todos) pode ser, e, freqüentemente é, rejeitada; ao passo que
a chamada interna (que é feita somente aos eleitos) não pode ser rejeitada. Ela
sempre resulta na conversão. Por meio desta chamada especial o Espírito atrai
irresistivelmente pecadores a Cristo. Ele não é limitado em Sua obra de
aplicação da salvação pela vontade do homem, nem depende, para o Seu sucesso,
da cooperação humana. O Espírito graciosamente leva o pecador eleito a
cooperar, a crer, a arrepender-se, a vir livre e voluntariamente a Cristo. A
graça de Deus, portanto, é invencível. Nunca deixa de resultar na salvação
daqueles a quem ela é estendida.
E.
A QUEDA DA GRAÇA CONTRASTADA COM A PERSEVERANÇA DOS SANTOS
Arminianismo: Aqueles que crêem e são verdadeiramente salvos podem perder sua salvação
por não guardar a sua fé. Nem todos os arminianos concordam com este ponto.
Alguns
sustentam que os crentes estão eternamente seguros em Cristo; que o pecador, uma
vez regenerado, nunca pode perder a sua salvação.
Calvinismo:
Todos aqueles que são escolhidos por Deus e a quem o Espírito concedeu a 5 fé,
são eternamente salvos. São mantidos na fé pelo poder do Deus Todo Poderoso e nela
perseveram até o fim. Sumário dessas Posições: De acordo com o Arminianismo: A salvação
é realizada através da combinação de esforços de Deus (que toma a iniciativa) e
do homem (que deve responder a essa iniciativa). A resposta do homem é o fator
decisivo (determinante). Deus tem providenciado salvação para todos, mas Sua
provisão só se torna efetiva (eficaz) para aqueles que, de sua própria e livre
vontade, “escolhem” cooperar com Ele e aceitar Sua oferta de graça. No ponto
crucial, a vontade do homem desempenha um papel decisivo. Desta forma é o
homem, e não Deus, que determina quem será o recipiente do dom da salvação.
Este era o sistema de doutrina apresentado na “Remonstrance” (Representação)
dos Arminianos e rejeitado pelo Sínodo de Dort em 1619, por não ser bíblico. De
acordo com o Calvinismo: A salvação
é realizada pelo infinito poder do Deus Triuno. O Pai escolheu um povo, o Filho
morreu por ele e o Espírito Santo torna a morte de Cristo eficaz para trazer os
eleitos à fé e ao arrependimento; desse modo, fazendo-os obedecer
voluntariamente ao evangelho. Todo o processo (eleição, redenção, regeneração,
etc.) é obra de Deus e é operado tão somente pela graça. Desta forma, Deus e
não o homem, determina quem serão os recipientes do dom da salvação. Este
sistema de teologia foi reafirmado pelo Sínodo de Dort em 1619 como sendo a
doutrina da salvação contida nas Escrituras Sagradas. É o sistema apresentado
na Confissão de Fé de Westminster e em todas as Confissões Reformadas.
Na
época do Sínodo de Dort foi formulado em “cinco pontos” (em resposta aos cinco pontos
submetidos pelos arminianos à Igreja da Holanda) e têm sido, desde então, conhecidos
como “os cinco pontos do Calvinismo”.
III.
A DIFERENÇA ENTRE O CALVINISMO E O ARMINIANISMO
Os
assuntos envolvidos nesta controvérsia histórica são, de fato, graves, pois
afetam vitalmente o conceito cristão de Deus, do pecado e da salvação. Packer,
contrastando esses dois sistemas, afirma: “A diferença entre eles não é
primariamente uma questão de ênfase, mas de conteúdo. Um deles proclama um Deus
que salva; o outro alude a um Deus que permite ao homem salvar a si mesmo. O
primeiro desses pontos de vista apresenta os três grandes atos da Santa
Trindade na recuperação da humanidade perdida - eleição por parte do Pai,
redenção por parte do Filho, chamada por parte do Espírito Santo - como sendo
dirigidos às mesmas pessoas, garantindo infalivelmente a salvação delas. Mas o
outro ponto de vista empresta a cada um desses atos uma referência diferente (o
objeto da redenção seria a humanidade inteira, os objetos da chamada seriam aqueles
que ouvem o evangelho, e os objetos da eleição seriam aqueles que correspondem
a essa chamada), e nega que a salvação de qualquer pessoa seja garantida por
qualquer desses atos. Essas duas teologias, assim sendo, concebem o plano da salvação
em termos inteiramente diferentes. Uma delas faz a salvação depender da obra de
Deus, e a outra faz a salvação depender da obra do homem. Uma delas considera a
fé como parte do dom divino da salvação, mas a outra pensa que a fé é a
contribuição do homem para a sua salvação. Uma delas atribui a Deus toda a
glória pela salvação dos crentes, mas a outra divide as honras entre Deus, que,
por assim dizer, 6 construiu o maquinismo da salvação, e o homem, que põe esse
maquinismo em funcionamento quando crê. Não há dúvida de que essas diferenças
são importantes, e o valor permanente dos ‘cinco pontos’, como um sumário do
calvinismo, é que eles deixam claro os pontos em que divergem e a extensão da
divergência entre os dois conceitos.” (O “Antigo” Evangelho, p. 7)
IV.
O “PONTO” QUE OS “CINCO PONTOS” DO CALVINISMO PRETENDEM ESTABELECER
Enquanto
reconhece o valor permanente dos cinco pontos como um sumário do Calvinismo,
Packer adverte contra o perigo de se equiparar o Calvinismo com os cinco pontos
apenas. Em seu livro referido ele apresenta cinco razões porque essa
equiparação é incorreta (pp. 8-16). Uma dessas razões apresentadas é a
seguinte: “...o próprio fato que
a
soteriologia calvinista é exposta sob a forma de cinco pontos distintos (um
número devido, conforme já explicamos, meramente ao fato de ter havido cinco
pontos arminianos para serem respondidos pelo Sínodo de Dort) tende por
obscurecer o caráter orgânico do pensamento calvinista sobre a questão. Pois
esses cinco pontos, apesar de declarados em separado, na verdade são
indivisíveis uns dos outros. Eles dependem uns dos outros; ninguém pode
rejeitar um deles sem rejeitar a todos, pelo menos no sentido tencionado pelo
Sínodo de Dort. Para o Calvinismo, na realidade, só há um ponto a ser enfatizado
no campo da soteriologia: o ponto que “Deus salva pecadores”. Deus - o Jeová Triuno;
Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas trabalhando em conjunto, em
sabedoria, poder e amor soberanos, a fim de realizar a salvação de um povo
escolhido. O Pai escolhendo, o Filho cumprindo a vontade do Pai de remir, e o
Espírito Santo executando o propósito do Pai e do Filho, mediante a renovação
do homem. Salva - Ele faz tudo, do começo ao fim, tudo quanto é mister para
levar os homens da morte no pecado à vida em glória: Ele planeja, realiza e
transmite a redenção, e também chama e conserva, justifica, santifica e
glorifica. Pecadores - homens conforme Deus os encontra, isto é, culpados, vis,
impotentes, incapazes de levantar um dedo para cumprirem a vontade de Deus ou melhorarem
a sua porção espiritual. Deus salva pecadores - e a força dessa confissão não pode
ser enfraquecida pelo rompimento da unidade da obra da divina Trindade, ou por dividir
a efetivação da salvação entre Deus e o homem, como se a parte decisiva fosse a
humana, ou por suavizar a incapacidade do pecador, de tal maneira que ele
mereça ser louvado, juntamente com o Salvador, por sua própria salvação. Esse é
o grande ponto da soteriologia calvinista que os “cinco pontos” buscam
estabelecer, e que é negado pelo arminianismo, em todas as suas formas: a
saber, que os pecadores não podem salvar a si mesmos em qualquer sentido,
porquanto a salvação, do começo ao fim, em sua totalidade, no passado, no
presente e no futuro, vem do Senhor, a quem cabe toda a glória para sempre.
Amém”. (op. cit., pp. 9,10)
V.
EVIDÊNCIAS BÍBLICAS PARA OS CINCO PONTOS DO CALVINISMO
Uma
vez que essas cinco doutrinas não são apresentadas na Bíblia como unidades separadas
ou independentes, mas são entretecidas na mensagem bíblica como um sistema único,
harmonioso e interrelacionado, cada uma delas só pode ser inteiramente
apreciada se for vista à luz das outras quatro. Elas se explicam e se apoiam,
mutuamente. Julgar essas doutrinas individualmente, sem relacionar uma com a
outra, seria como tentar avaliar um quadro de Rembrandt olhando-se para cada
uma das cores de cada vez e nunca vendo a obra como um todo. Por isso, a
evidência bíblica para cada ponto não deve ser julgada separadamente, mas à luz
de uma visão das cinco doutrinas como um só sistema. Quando 7 assim
adequadamente correlacionadas, elas formam uma corda de cinco tiras de
inquebrável. resistência.
A.
Depravação Total Ou Inabilidade Total
O
ponto de vista que alguém toma a respeito da salvação será determinado, em
grande escala, pelo conceito que essa pessoa tem a respeito do pecado e de seus
efeitos sobre a natureza humana. Por isso, o primeiro ponto tratado pelo
sistema calvinista é a doutrina bíblica da depravação total ou inabilidade
total. Quando o calvinista fala do homem como sendo totalmente depravado, quer
dizer que sua natureza é corrupta, perversa e totalmente pecaminosa. O adjetivo
“total” não significa que cada pecador está tão completamente corrompido em
suas ações e pensamentos quanto lhe seja possível ser. O termo é usado para
indicar que todo o ser do homem foi afetado pelo pecado. A corrupção estende-se
a todas as partes do homem, corpo e alma. O pecado afetou a totalidade das
faculdades humanas - sua mente, sua vontade, etc. (Confissão de Fé, VI, 2).
Também se pode usar o adjetivo “total” para incluir nele toda a raça humana,
sem exceção. Como resultado dessa corrupção inata, o homem natural é totalmente
incapaz de fazer qualquer coisa espiritualmente boa. É o que se quer dizer por
“inabilidade total”. A inabilidade referida nessa terminologia é a “inabilidade
espiritual”. Significa que o pecador está tão espiritualmente falido que ele
nada pode fazer com respeito à sua salvação. É evidente que muitas pessoas não
salvas, quando julgadas pelos padrões humanos, possuem qualidades admiráveis e
realizam atos virtuosos. Porém, no campo espiritual, quando julgadas pelos
padrões divinos, são incapazes de fazer o bem (Confissão de Fé, XVI, 1 e 7). O
homem natural está escravizado pelo pecado: é filho de Satanás, rebelde para
com Deus, cego para com a verdade, corrompido e incapaz de salvarse a si mesmo
ou de preparar-se para a salvação. Em resumo, o não regenerado está morto em
pecado e sua vontade está escravizada à sua natureza má. O homem não veio das
mãos do seu Criador nessa condição depravada. Deus fez a Adão perfeito, sem
qualquer maldade em sua natureza. Originalmente, a vontade de Adão estava livre
do domínio do pecado. Ele não estava sujeito a qualquer compulsão natural para
escolher o mal; porém, por sua queda, trouxe a morte espiritual sobre si mesmo
e sobre toda a sua posteridade. Desse modo, lançou a si mesmo e a toda a raça
na ruína espiritual e perdeu para si e para os seus descendentes a habilidade
de fazer escolhas certas no campo espiritual. Seus descendentes ainda são
livres para escolher - todo homem faz escolhas em sua vida - mas, visto que a
geração de Adão nasce com natureza pecaminosa, não tem a habilidade para escolher
o bem ao invés do mal. Por conseguinte, a vontade do homem não é mais livre (i.e.,
livre do domínio do pecado) como era livre a vontade de Adão, antes da queda.
Em vez disso, a vontade do homem, como resultado da depravação herdada, está
escravizada à sua natureza pecaminosa. A Confissão de Fé de Westminster nos dá
uma declaração clara e concisa dessa doutrina: “O homem, caindo em um estado de
pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem
espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural,
inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu
próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso” (IX, 3). 1. Como
resultado da transgressão de Adão, os homens são nascidos em pecado e são, por
natureza, espiritualmente mortos; portanto, para se tornarem filhos de Deus e
entrarem no Seu reino precisam nascer de novo, do Espírito.
1.
Como resultado da transgressão de Adão, os homens são nascidos em pecado e são,
por natureza, espiritualmente mortos; portanto, para se tornarem filhos de Deus
e entrarem no Seu reino precisam nascer de novo, do Espírito.
a)
Quando Ad ão foi colocado no jardim do Éden, foi advertido para não comer do
fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, sob pena de imediata morte
espiritual;
b)
Adão desobedeceu e comeu do fruto proibido (Gn 3:1-7); por conseguinte, trouxe morte
espiritual sobre si mesmo e sobre a raça;
c)
Davi confessou que tanto ele, como os demais homens, foram nascidos em pecado (Sal.
51).
d)
Porque os homens são nascidos em pecado e são, por natureza, espiritualmente mortos.
Jesus ensinou que, para alguém entrar no reino de Deus, é preciso nascer de novo.
(Jo. 3.5-7)
2.
Como resultado da queda, os homens estão cegos e surdos para a verdade espiritual.
Suas
mentes estão entenebrecidas pelo pecado; seus corações são corruptos e malignos
(Gen. 6:5; 8:21; Ec. 9:3; Jr. 17:9; Mc. 7:21-23; Jo. 3:19; Ro. 8:7-8; 1Co. 2:14;
Ef. 4:17;- 19, 5:8; Tt. 1:15) ):
3.
Antes dos pecadores nascerem no reino de Deus pelo poder regenerador do
Espírito, são filhos do diabo e estão debaixo de seu controle. São escravos do
pecado (Jo. 8:34, 44; Rom. 6:20; Ef. 2:12; 2Tim. 2:25-26; Tt. 3:3; 1Jo. 3:10);
:
4.
O domínio do pecado é universal: todos os homens estão debaixo do seu poder;
por conseguinte, ninguém é justo, nem um só (Rom. 3:9-18).
5.
Os homens, sendo deixados em seu estado de morte, são incapazes, por si mesmos,
de se arrepender, de crer no evangelho ou de vir a Cristo. Não têm poder, em si
mesmos, para mudar sua natureza ou preparar-se para a salvação (Jer. 13:23; Mt.
7:18; Jo. 6:37, 44, 65 Rom. 11:35; 1Co. 2:14; 2Co. 3:5).
B.
Eleição Incondicional
Devido
ao pecado de Adão, seus descendentes entram no mundo como pecadores culpados e
perdidos. Como criaturas caídas, eles não têm desejo de ter comunhão com o seu
Criador. Ele é santo, justo e bom, ao passo que eles são pecaminosos, perversos
e corruptos- Deixados à sua própria escolha, eles inevitavelmente seguem o deus
deste século e fazem a vontade do seu pai, o diabo. Consequentemente, os homens
têm se desligado do Senhor dos céus e têm perdido todos os direitos de Seu amor
e favor. Teria sido perfeitamente justo para Deus ter deixado todos os homens
em seus pecados e miséria e não ter demonstrado misericórdia a quem quer que
seja. É neste contexto que a Bíblia apresenta a doutrina da eleição. A doutrina
da eleição declara que Deus, antes da fundação do mundo, escolheu certos
indivíduos dentre todos os membros decaídos da raça de Adão para ser o objeto
de Seu imerecido amor. Esses, e somente esses, Ele propôs salvar. Deus poderia
ter escolhido salvar todos os homens (pois Ele tinha o poder e a autoridade
para fazer isso), ou Ele poderia ter escolhido não salvar ninguém (pois Ele não
tem a obrigação de mostrar misericórdia a quem quer que seja), porém não fez
nem uma coisa nem outra. Ao invés disso, Ele escolheu salvar alguns e excluir
(preterir) outros. Sua eterna escolha de determinados pecadores para a salvação
não foi baseada em qualquer ato ou resposta prevista da parte daqueles
escolhidos, mas foi baseada tão somente no Seu beneplácito e na Sua soberana
vontade. Desta forma, a eleição não foi condicionada nem determinada por
qualquer coisa que os homens iriam fazer, mas resultou inteiramente do
propósito determinado pelo próprio Deus. Os que não foram escolhidos foram
preteridos e deixados às suas próprias inclinações e escolhas más. Não cabe à
criatura questionar a justiça do Criador por não escolher todos para a
salvação. É suficiente saber que o Juiz de toda a terra tem agido bem e
justamente. Deve- se, contudo, ter em mente que se Deus não tivesse
graciosamente escolhido um povo para Si mesmo, e soberanamente determinado
prover-lhe e aplicar-lhe a salvação, ninguém seria salvo. O fato de Ele ter
feito isto para alguns, à exclusão dos outros, não é de forma alguma injusto para
os excluídos, a menos que se mantenha que Deus estava na obrigação de prover salvação
a todos os pecadores - o que a Bíblia rejeita cabalmente. A doutrina da eleição
deve ser vista não apenas contra o pano de fundo da depravação e culpa do
homem, mas também deve ser estudada em conexão com o Eterno Pacto ou acordo
feito entre os membros da Trindade. Pois foi na execução deste pacto que o Pai
escolheu desse mundo de pecadores perdidos um número definido de indivíduos e
deuos ao Filho para serem o Seu povo. O Filho, nos termos desse pacto,
concordou em fazer tudo quanto era necessário para salvar esse povo escolhido e
que lhe foi concedido pelo Pai. A parte do Espírito na execução desse pacto foi
e é a de aplicar aos eleitos a salvação adquirida para eles pelo Filho. A
eleição, portanto, é apenas um aspecto (embora muito importante) do propósito
salvador do Deus Triuno, e dessa forma não deve ser vista como salvação. O ato
da eleição em si mesmo não salvou ninguém. O que ele fez foi destacar (marcar) alguns
indivíduos para a salvação. Desta forma, a doutrina da eleição não deve ser divorciada
das doutrinas da culpa do homem, da redenção e da regeneração, pois de outra forma
ela será distorcida e deturpada. Em outras palavras, se quisermos manter em sua
perspectiva bíblica, e corretamente entendido, o ato da eleição do Pai deve ser
relacionado com a obra redentora do Filho, que Se deu a Si mesmo para salvar os
eleitos e com a obra renovadora do Espírito, que traz o eleito à fé em Cristo.
1.
Declarações gerais mostrando que Deus tem um povo eleito, que Ele predestinou
esse povo para a salvação e, desta forma, para a vida eterna (Dt. 10.14-15; Sl.
33:12; Ag. 2:23; Mt. 11:27; 22:14 )
2.
Antes da fundação do mundo, Deus escolheu determinados indivíduos para a
salvação.
Sua
escolha não foi baseada em qualquer resposta ou ato previsto, a ser cumprido
pelos escolhidos. A fé e as boas obras são o resultado e não a causa da escolha
divina.
a)
Deus fez a escolha: (1Ts 1:4; 2:13);
b)
A escolha divina foi feita antes da fundação do mundo: (Ef. 1:4; 2Ts. 2:13;
2Tim. 1:9 Ap. 13:8; 17:8);
c)
Deus escolheu determinados indivíduos para a salvação - seus nomes foram escritos
no livro da vida antes da fundação do mundo: Ap 13:8;17:8.[acima]
d)
A escolha divina não foi baseada em qualquer mérito previsto naqueles a quem
Ele escolheu, nem foi baseada em quaisquer obras previstas, realizadas por
eles: (Ro. 9.11-16; 10:20);
e)
As boas obras são o resultado e não a base da predestinação: Ef. 1.12; 2:10;
Jo. 15:16)
f)
A escolha divina não foi baseada na fé prevista. A fé é o resultado e,
portanto, a evidência da eleição divina, não a causa ou base de Sua escolha:
(At. 13.48; 18:27 Fl.
1:2;
2:12; 2:13; 1Ts. 1:4-5; 2Ts. 2:13-14);
g)
É através da fé e das boas obras que alguém confirma sua chamada e eleição:
(2Pe. 1.5-11);
3.
A eleição não é a salvação, mas é para a salvação. Assim como o presidente
eleito não se torna o presidente de fato até o dia da sua posse (instalação),
assim aqueles que são eleitos para a salvação não são salvos até que sejam
regenerados pelo Espírito e justificados pela fé em Cristo:(Em Efésios 1:4
Paulo mostra que os homens foram eleitos “em Cristo” antes que o mundo
existisse. Em Rm 16:7 ele mostra que os homens não estão realmente “em Cristo”
até que se convertam).
(Ro.
11.7; 2Ti. 2:10; At. 13:48; 1Ts. 2:13-14)
4.
A eleição foi baseada na misericórdia soberana e especial de Deus. Não foi a
vontade do homem, mas a vontade de Deus que determinou que pecadores iriam ser
alvos da misericórdia e ser salvos: (Ex. 33.19; Dt. 7:6-7; Rom. 9:11-24;
11:4-36 )
5.
A doutrina da eleição é apenas uma parte da doutrina bíblica mais ampla da
soberania de Deus. As Escrituras não apenas ensinam que Deus predestinou certos
indivíduos para a vida eterna, mas que todos os eventos, grandes ou pequenos,
acontecem como o resultado do eterno decreto de Deus. O Senhor Deus reina sobre
os céus e a terra com absoluto controle. Nada acontece fora do Seu eterno
propósito: (1Cr 29.10-12; Jó 42:1-2; Sl. 115:3; 135:6; Is. 14:24-27; 46:9-11;
55:11; Jer. 32:17; Dan. 4:35; Mt. 19:26)
C.
Redenção Particular Ou Expiação Limitada
Como
já foi observado, a eleição em si não salva ninguém; apenas destaca alguns pecadores
para a salvação. Os que foram escolhidos pelo Pai e dados ao Filho precisam ser
redimidos para serem salvos. Para assegurar sua redenção, Jesus Cristo veio ao mundo
e tomou sobre Si a natureza humana para que pudesse identificar-Se com o Seu povo
e agir como seu representante ou substituto. Cristo, agindo em lugar do Seu
povo, guardou perfeitamente a lei de Deus e dessa forma produziu uma justiça
perfeita a qual é imputada ao Seu povo ou creditada a ele no momento em que
cada um é trazido à fé nEle. Através do que Ele fez, esse povo é constituído
justo diante de Deus. Os que constituem esse povo são libertos da culpa e
condenação como resultado do que Cristo sofreu por eles. Através do Seu
sacrifício substitucionário Ele sofreu a penalidade dos seus pecados e assim
removeu sua culpa para sempre. Por conseguinte, quando Seu povo é unido a Ele
pela fé, é-lhe creditada perfeita justiça pela qual fica livre da culpa e condenação
do pecado. São salvos não pelo que fizeram ou irão fazer, mas tão somente na
base da obra redentora de Cristo.
O
Calvinismo histórico tem mantido de modo consistente a convicção de que a obra redentora
de Cristo foi definida em desígnio e realização; isto é, foi intencionada para render
completa satisfação em favor de certos pecadores específicos e que, de fato, assegurou
a salvação a esses indivíduos e a ninguém mais. A salvação que Cristo adquiriu
para o Seu povo inclui tudo que está envolvido no processo de trazê-lo a um correto
relacionamento com Deus, incluindo os dons da fé e do arrependimento. Cristo não
morreu simplesmente para tornar possível a Deus perdoar pecadores. Nem deixa Deus
aos pecadores a decisão se a obra de Cristo será ou não efetiva. Pelo
contrário, todos aqueles por quem Cristo morreu serão infalivelmente salvos. A
redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição.
Todos
os calvinistas concordam que a obediência e o sofrimento de Cristo são de valor
infinito, e que, se fosse o propósito de Deus, a satisfação rendida por Cristo
teria salvado todos os membros da raça humana. Não seria requerido de Cristo
mais obediência nem sofrimento maior para assegurar a salvação de todos os
homens do que foi requerido para a salvação apenas dos eleitos. Mas Ele veio ao
mundo para representar e salvar apenas aqueles que Lhe foram dados pelo Pai.
Desta forma, a obra salvadora de Cristo foi limitada no sentido em que foi
designada para salvar uns e não outros, mas não foi limitada em valor, pois seu
valor é infinito. Ela teria assegurado a salvação de todos, se essa tivesse
sido a intenção de Deus. Os arminianos também estabelecem uma limitação na obra
expiatória de Cristo, mas de natureza inteiramente diferente. Eles acreditam
que a obra salvadora de Cristo foi designada para tornar possível a salvação de
todos os homens, desde que eles creiam, e de que a morte de Cristo, em si
mesma, não assegura ou garante a salvação para ninguém. Desde que todos os
homens serão salvos como resultado da obra redentora de Cristo, devese admitir
que há uma limitação. Essa limitação consiste num desses dois pontos: ou a
expiação foi designada para assegurar a salvação para certos pecadores e não
para outros, ou ela foi limitada no sentido em que não foi intencionada para
assegurar a salvação de ninguém, mas apenas para tornar possível a Deus perdoar
os pecadores na condição da fé. Em outras palavras, a limitação deve ser
colocada, em desígnio, na sua extensão, (não foi intencionada para todos), ou
na sua eficácia (ela não assegura a salvação para ninguém). Como Boettner
adequadamente observa, "para o calvinista a expiação é como uma ponte
estreita que atravessa todo o rio; para o arminiano, é como uma grande e larga
ponte que vai apenas até a metade do caminho" (The Reformed Doctrine of
Predestination, p. 153). Desta forma, são os arminianos que impõem uma
limitação maior à obra de Cristo.
1.
As Escrituras descrevem o fim intencionado e realizado pela obra de Cristo como
a salvação completa do Seu povo. (reconciliação, justificação e santificação).
a)
As Escrituras declaram que Cristo veio, não para capacitar os homens a se
salvarem a si mesmos, mas para salvar pecadores: (Mt. 1.21; Lc. 19:10; Gl.
1:3-4; Tt. 2:14; 1Pe. 3:18);
b)
As Escrituras declaram que, como resultado do que Cristo fez e sofreu., Seu
povo é reconciliado com Deus, justificado, e recebe o Espírito Santo que o
regenera e santifica.
Todas
essas bênçãos foram asseguradas por Cristo mesmo, ao Seu povo.
l)
Cristo, pela Sua obra redentora, assegurou a reconciliação ao Seu povo: (Rom 5:10-
11; 2Co. 5:18-19; Ef. 2:15-16; Cl 1:21-22)
2)
Cristo assegurou a justiça e o perdão que Seu povo necessita para a sua
justificação.
(Rom. 3:24-25; 5:8-9; 1Co. 1:30; Gál. 3:13; Col. 1:13-14; Heb. 9:12; 1Pe. 2:24)
3)
Cristo assegurou o dom do Espírito, o qual inclui regeneração e santificação e tudo
que está incluído nessas graças: Ef 1:3-4; Fil. 1:29; At. 5:31 Tt. 2:14; 3:5-6
Ef. 5:26; 1Co. 1:30; Heb. 9:14; 13:12 1Jo. 1:7)
2.
Passagens que apresentam o Senhor Jesus Cristo, em tudo que Ele fez e sofreu
pelo Seu povo, como cumprindo os termos de um pacto ou concerto gracioso no
qual entrou com Seu Pai celestial antes da fundação do mundo:
a)
Jesus foi enviado ao mundo pelo Pai para salvar o povo que o Pai Lhe deu. Os
que o Pai Lhe deu vêm a Ele e nenhum deles se perderá: (Jo. 6:35-40)
b)
Jesus, como o bom Pastor, dá a Sua vida pelas Suas ovelhas. Todos os que são
Suas ovelhas são trazidos por Ele ao aprisco, levadas a ouvir a Sua voz e a
seguí-lo. Notemos que o Pai tem dado as ovelhas a Cristo! (Jo. 10:11-29)
c)
Jesus, em Sua oração sacerdotal, roga não pelo mundo mas por aqueles que o Pai
lhe dera. Em cumprimento à tarefa dada pelo Pai, Jesus realizou a Sua obra.
Essa obra era tornar Deus conhecido do Seu povo e dar-lhe a vida eterna: (Jo.
17.1-26)
d)
Paulo declara que todas as "bênçãos espirituais" que os santos
herdam, tais como filiação, redenção, perdão de pecados, etc., resultam do fato
de estarem "em Cristo", e liga essas bênçãos à sua fonte última - o
eterno conselho de Deus - onde repousa a grande bênção de terem sido escolhidos
em Cristo antes da fundação do mundo para serem filhos de Deus, por meio dEle
(Ef. 1:3-12).
e)
O paralelo que Paulo estabelece entre a obra condenatória de Adão e a obra salvadora
de Jesus Cristo, o "segundo Adão", pode ser melhor explicado na base
do princípio de que ambos figuravam numa relação pactual com o "seu
povo". Adão figurava como o cabeça federal da raça e Cristo como o cabeça
federal dos eleitos.
Assim
como Adão envolveu o seu povo na morte e condenação pelo seu pecado, assim também
Cristo trouxe justiça e vida ao Seu povo através de Sua justiça (retidão): Rom 5.12-19).
3.
Algumas passagens falam de Cristo morrendo por "todos" os homens e de
Sua morte como salvando "o mundo"; todavia, outras falam de Sua morte
como sendo definida em desígnio, isto é, para assegurar a salvação de um povo
específico.
a)
Há duas classes de textos que falam da obra salvadora de Cristo em termos gerais:
(1)
As que contém a palavra "mundo" (Jo. 1:9, 29;3:16,17; 4:42; 2Co 5:19;
1Jo 2:1,2; 4:14 e;
(2)
As que contêm a palavra "todos" (Rm 5:18; 2Co 5:14,15; 1Tm 2:4-6; Heb
2:9; 2Pe 3.9 ; Jo. 1:9; 29; 3:19; 3:16-17; 4:42; 2Co. 5:19; 1Jo. 2:1-2; 1Jo.
4:14; Rom. 5:18; 2Co 5:14-15; 1Ti. 2:4-6; Heb. 2:9; 2Pe. 3:9).
Uma
das razões para o uso dessas expressões era corrigir a noção falsa de que a
salvação era apenas para os judeus. Frases como "o mundo",
"todos os homens", "todas as nações", "toda criatura”,
eram usadas para corrigir esse erro. Essas expressões eram usadas para mostrar
que Cristo morreu para todos os homens sem distinção (i.e., Ele morreu tanto para
judeus como para gentios), mas elas não pretendem indicar que Cristo morreu por
todos os homens, sem exceção (i.e., Ele não morreu com o propósito de salvar
todo e qualquer pecador perdido).
b)
Há outras passagens que falam de Sua obra salvadora em termos definidos e mostram
que ela foi intencionada para salvar infalivelmente um determinado povo, a saber,
aqueles que Lhe foram dados pelo Pai: (Mt. 1:21; 26:28; Jo. 10:11; Jo.
11:50-53; At. 20:28; Ef. 5:25-27; Rom. 8:32-34; Heb. 2:17; 3:1; 9:15, 18; Ap.
5:9
D.
Chamada Eficaz do Espírito ou Graça Irresistível
Cada
membro da Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - participa e contribui para a
salvação de pecadores. Como já foi mostrado, o Pai, antes da fundação do mundo,
escolheu aqueles que iriam ser salvos e deu-os ao Filho para serem o Seu povo.
Na época oportuna o Filho veio ao mundo e assegurou a redenção desse povo. Mas
esses dois grandes atos - a eleição e a redenção - não completam a obra da
salvação, pois está incluída no plano divino para a recuperação do pecador
perdido a obra renovadora do Espírito Santo, pela qual os benefícios da
obediência e da morte de Cristo são aplicados ao eleito. A doutrina da Graça
Irresistível ou Eficaz está relacionada com essa fase da Salvação. Declarada de
modo simples, esta doutrina afirma que o Espírito Santo nunca falha em trazer à
salvação aqueles pecadores que Ele pessoalmente chama a Cristo. Ele aplica
inevitavelmente a salvação a todo pecador que Ele tencionou salvar, e é Sua intenção
salvar todos os eleitos. O apelo do evangelho estende uma chamada à salvação a todo
que ouve a mensagem. Ele convida a todos os homens, sem distinção, a beber da água
da vida e viver. Ele promete salvação a todo que se arrepender e crer. Mas essa
chamada geral externa, estendida igualmente ao eleito e ao não eleito, não
trará pecadores a Cristo. Por que? Porque os homens estão, por natureza, mortos
em pecado e debaixo de seu poder. Eles são, por si mesmos, incapazes de
abandonar os seus maus caminhos e se voltarem a Cristo, para receber
misericórdia. Nem podem e nem querem fazer isso.
Consequentemente,
o não regenerado não vai responder à chamada do evangelho para arrepender-se e
crer. Nenhuma quantidade de ameaças ou promessas externas fará um pecador cego,
surdo, morto e rebelde se curvar perante Cristo como Senhor e olhar somente
para Ele para a salvação. Tal ato de fé e submissão é contrário à natureza do homem
perdido. Por isso, o Espírito Santo, para trazer o eleito de Deus à salvação, estende-lhe
uma chamada especial interna em adição à chamada externa contida na mensagem do
evangelho. Através dessa chamada especial, o Espírito Santo realiza uma obra de
graça no pecador que, inevitavelmente, o traz à fé em Cristo. A mudança interna
operada no pecador eleito o capacita a entender e crer na verdade espiritual.
No campo espiritual, são lhe dados olhos para ver e ouvidos para ouvir. O
Espírito cria nele um novo coração e uma nova natureza. Isto é realizado
através da regeneração (novo nascimento), pela qual o pecador é feito filho de
Deus e recebe a vida espiritual. Sua vontade é renovada através desse processo,
de forma que o pecador vem espontaneamente a Cristo por sua própria e livre
escolha. Pelo fato de receber uma nova natureza que o habilita a amar a retidão,
e porque sua mente é iluminada de .forma a habilitá-lo a entender e crer no
evangelho, o pecador renovado (regenerado) volta-se para Cristo, livre e
voluntariamente, como seu Senhor e Salvador. Assim, o pecador que antes estava
morto, é atraído a Cristo pela chamada interna e sobrenatural do Espírito, a
qual, através da regeneração, o vivifica e cria nele a fé e o arrependimento.
Embora a chamada externa do evangelho possa ser, e freqüentemente é, rejeitada,
a chamada interna e especial do Espírito nunca deixa de produzir a conversão
daqueles a quem ela é feita.
Essa
chamada especial não é feita a todos os pecadores, mas é estendida somente aos eleitos.
O Espírito não depende em nenhuma maneira da ajuda ou cooperação do pecador para
ter sucesso em Sua obra de trazê-lo a Cristo. É por essa razão que os
calvinistas falam da chamada do Espírito e da graça de Deus em salvar pecadores
como sendo "eficaz", "invencível" ou
"irresistível". A graça que o Espírito Santo estende ao eleito não pode
ser obstada, nem recusada; ela nunca falha em trazê-lo à verdadeira fé em
Cristo.
A
doutrina da Graça Irresistível ou da Vocação Eficaz é apresentada em termos bem
claros no capítulo X da Confissão de Fé de Westminster.
1.
Declarações gerais mostrando que a salvação é tanto obra do Espírito como é do
Pai e do Filho: (Rom. 8.14; 1Co. 2:10-14; 6:11; 12:3; 2Co. 3:6, 17-18; 1Pe.
1:2;)
2.
Através da regeneração ou novo nascimento, os pecadores recebem a vida
espiritual e são feitos filhos de Deus. A Bíblia descreve esse processo como
uma ressurreição espiritual, uma criação, o recebimento de um novo coração,
etc. A mudança interna, que é operada através do Espírito Santo, é fruto do
poder e da graça de Deus e de forma nenhuma depende da ajuda do homem para a
operação do Espírito ser bem sucedida.
a)
Os pecadores, através da regeneração, são trazidos para o Reino de Deus e
feitos Seus filhos. O autor desse "segundo" nascimento é o Espírito
Santo: o instrumento que Ele usa é a Palavra de Deus: (Jo. 1:12-13; Jo. 3:3-8;
Tt. 3:5; 1Pe. 1:3; 1Jo. 5:4)
2)
Através da obra do Espírito o pecador morto recebe um novo coração (uma nova
natureza) e é levado a andar na lei de Deus. Em Cristo ele torna-se uma nova criação:
(Dt. 30.6; Ez. 36:26-27; Gál 6:15; Ef. 2:10; 2Co. 5:17-18)
c)
O Espírito Santo ergue o pecador de seu estado de morte espiritual e o
vivifica: (Jo 5.21; Ef. 2:1, 5; Col. 2:13)
3.
Deus torna conhecidos aos Seus escolhidos os segredos do Reino através da
revelação interna e pessoal dada pelo Espírito: (Mt. 11:25-27; Lc. 10:21; Mt. 16:15-17;
Jo. 6:37, 44-45, 64-65 1Co. 2:14; Ef. 1:17;)
4.
A Fé e o Arrependimento são dons divinos, os quais são operados na alma através
da obra regeneradora do Espírito Santo: (At. 5.31; 11:18; 13:48; 16:14; 18:27;
Ef. 2:8-9; Fl 1:29; 2Tim. 2:25-26)
5.
O apelo do evangelho estende uma chamada geral externa à salvação a todos que ouvem
a mensagem. Em adição a essa chamada externa, o Espírito estende uma chamada especial
interna aos eleitos e só a esses. A chamada geral do evangelho pode ser, e geralmente
é, rejeitada, mas a chamada especial do Espírito não pode ser rejeitada. Ela sempre
resulta na conversão daqueles a quem é feita: (Ro. 1:6-7; 8:30; :23-24; 1Co.
1:1-2, 9, 23-31; Gál. 1:15-16; Ef. 4:4; 2Tim. 1:9; Heb. 9:15; Jud. 1:1; 1Pe.
1:15; 2:9; 5:10; 2Pe. 1:3; Ap. 17:14)
6.
A aplicação da salvação é toda pela graça e só é realizada através do infinito
poder de Deus: (Is. 55.11; Jo. 3:27; 17:2; Rom. 9:16; 1Co. 3:6-7; 4:7; Fil.
2:12-13; Tg. 1:18; 1Jo. 5:20)
E.
Perseverança Dos Santos Ou Segurança Dos Crentes
Os
eleitos não são apenas redimidos por Cristo e regenerados pelo Espírito; eles
são mantidos na fé pelo infinito poder de Deus. Todos os que são unidos
espiritualmente a Cristo, através da regeneração, estão eternamente seguros
nEle. Nada os pode separar do eterno e imutável amor de Deus. Foram
predestinados para a glória eterna e estão, portanto, assegurados para o céu. A
doutrina da perseverança dos santos não mantém que todos que professam a fé
cristã estão garantidos para o céu. São os santos - os que são separados pelo
Espírito - os que perseveram até o fim. São os crentes - aqueles que recebem a
verdadeira e viva fé em Cristo - os que estão seguros e salvos nEle. Muitos que
professam a fé cristã caem, mas eles não caem da graça pois nunca estiveram na
graça.
Os
crentes verdadeiros caem em tentações e cometem graves pecados, às vezes, mas esses
pecados não os levam a perder a salvação ou a separá-los de Cristo. A Confissão
de Fé de Westminster diz o seguinte a respeito dessa doutrina: "Os que Deus
aceitou em seu Bem-amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu
Espírito, não podem decair no estado da graça, nem total, nem finalmente; mas,
com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente
salvos" (XVII, 1). Boettner certamente está correto em afirmar que
"essa doutrina não se manifesta isoladamente, mas é uma parte necessária
do sistema calvinista de teologia. As doutrinas da Eleição e da Graça Eficaz
implicam logicamente na salvação certa daqueles que recebem essas bênçãos. Se
Deus escolheu homens de modo absoluto e incondicional para a vida eterna, e se
o Seu Espírito efetivamente aplica-lhes os benefícios da redenção, a conclusão inevitável
é que essas pessoas serão salvas" (op. cit., p.182). Os seguintes
versículos mostram que o povo de Deus recebe a vida eterna no momento em que
crê. Estes são guardados pelo poder de Deus mediante a fé e nada os pode
separar do Seu amor. Foram selados com o Espírito Santo que lhes foi dado como
garantia de sua salvação e, desta forma, estão assegurados para uma herança
eterna: (Is. 43.1-3; 54:10; Jer. 32:40; Mt. 18:12-14; Jo. 3:16, 36: 5:24;
6:35-40, 47; 10:27-30; 17:11-12, 15; Rom. 5:8-10; Rom. 8:1, 29-30, 35-39; 1Co. 1:7-9; 10:13; 2Co.
4:14, 17; Ef. 1:5, 13-14; 4:30; Col. 3:3-4; 1Ts. 5:23-24; 2Ti. 4:18; Heb. 9:12,
15; 10:14; 12:28; 1Pe. 1:3-5; 1Jo. 2:19, 25;
5:4, 11-13, 20; Jd. 1:24-25)
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