Uma lição de casa para os desigrejados (baseado em fatos reais).
Júnior tem mais
de 30 anos de idade. É casado e há pouco mais de um mês viu sua
filhinha nascer. Fruto de muita expectativa não só dele e de sua esposa,
mas também de toda a família e da igreja onde congrega. Tal expectativa
se justifica pelo fato de que há mais de três anos, na primeira
tentativa em ser mãe, sua esposa perdeu o casal de gêmeos que esperava.
Júnior mora
longe da igreja. Precisa ir de carro. Para poder deslocar-se comprou um
semi-novo e o financiou em 60 prestações. Seu salário na ocasião
permitia o valor das mesmas. Mas, após 15 prestações, Júnior perdeu o
emprego, sendo contratado por outra empresa por um salário bem menor. As
prestações foram ficando insuportáveis e, com o tempo, vieram os
atrasos. Júnior, então, temendo pelo pior, pensa em devolver o carro ao
banco ou vendê-lo em condições facilitadíssimas para quem se
interessasse. Justamente agora que está com uma filha de apenas um mês
em casa!
Foi quando,
então, que a bênção aconteceu! Um grupo de irmãos da igreja, liderados
pelo pastor, se reuniu para ajudar Júnior a pagar as prestações do carro
durante 1 ano.Isso mesmo: 1 ano! No primeiro mês de arrecadação do
grupo um valor suficiente para quitar duas prestações foi levantado. Eu
mesmo e um casal de amigos fizemos questão de participar do grupo que se
reuniu em torno de Júnior. Enquanto isso, tentará mudar de emprego, a
fim de conseguir um salário melhor e liberar os irmãos do compromisso.
Estive na
igreja do Júnior recentemente. Era Culto de Missões. Uma missionária
brasileira que trabalhou na África estava pregando. Compartilhou na
ocasião acerca da fidelidade de Deus durante seu tratamento contra um
Câncer e que, liberada pelos médicos, retornaria para o Campo
Missionário na África*. Dezoito irmãos da igreja de Júnior foram à
frente naquele culto. Formavam o Conselho Missionário, composto de
homens e mulheres, jovens e veteranos. Arquitetos, engenheiros,
empresários, prestadores de serviço, professores, assistentes sociais,
estudantes e donas de casa se mesclavam no grupo. Um ex-presidiário
também fazia parte daquele conselho, mas não estava presente, pois
assumira um compromisso de pregar a Palavra de Deus em uma outra igreja
naquela mesma hora. O Conselho emocionou a igreja com a apresentação de
um projeto missionário, onde seus integrantes pretendem levar a
comunidade a investir em um centro de recuperação de dependentes
químicos no interior do Estado do Rio de Janeiro e também em uma
associação de apoio aos encarcerados (Rio de Janeiro), além de campos
missionários na América do Sul (Brasil e outros países) e também no
continente africano. Batizaram a iniciativa de Projeto Atos 1.8
("Jerusalém, Judéia, Samaria até os Confins da Terra"). Diante de meus
olhos vi as páginas da Bíblia encarnarem.
Voltei para
casa pensando na saúde da comunidade de Júnior. Uma igreja que
certamente tem seus problemas e imperfeições e frequentada e liderada
por gente imperfeita, mas, a despeito, as pessoas ali estão tentando
viver de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo. Sem dúvida, uma igreja
que pode ser chamada assim. A igreja de Júnior tem mais de 60 anos de
existência. Tem cultos regulares, liturgia, cancioneiro, templo e CNPJ. É
uma instituição, portanto. Mas, não deixou de ser bíblica, profética,
Koinônica, relacional, engajada, missionária, sensível, espiritual, e
guiada mesmo pelo Espírito Santo por causa disso.
Instituições são neutras (lição de casa para os desigrejados). Não há nada de errado nelas. A corrupção está sim no coração das pessoas que a compõem.
A igreja de
Júnior é uma instituição. Mas, como está cheia de gente apaixonada por
Deus ali, estão fazendo uma enorme diferença na vida de muitos. Na de
Júnior já fez e na dos missionários também fará. Conversei com Júnior
sobre o feito e perguntei como se sentia. Estava emocionado e grato a
Deus e aos irmãos. Disse-me que não imaginava aquilo. Ele nada pediu.
Quando souberam do problema, os irmãos agiram! Detalhe: Júnior não tem
ideia de quem o está ajudando. Bonito! Bíblico! Isso é uma igreja!
Viva a igreja de Júnior! Viva a Igreja de Cristo!
*Antes da publicação deste artigo no GENIZAH a missionária foi chamada à presença do Senhor. Agora descansa na glória!
Idauro Campos é pastor congregacional, mestre em Ciências da Religião. Colabora com o GENIZAH e acredita na relevância da Igreja.
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