.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Ana Paula Valadão e Agenor Duque: Briga no chiqueiro gospel e as tais bases bíblicas









Eis ai um caso clássico de um babado de redes sociais cristãs em que as opiniões se dividem entre as menos erradas e as mais absurdas. Um verdadeiro espetáculo de horror doutrinário em que a maioria pensa que entendeu alguma coisa, mas, na verdade, não entendeu nada

A cantora gospel e pastora (ai, ai...), Ana Paula Valadão foi a um evento organizado pelo mais patético dos líderes gospel de que se tem notícia: o autoproclamado apóstolo Agenor Duque. A fuzarca evangélica foi denominada de Congresso Fogo de Avivamento para o Brasil. A coisa em si já é medonha. Só o fato de alguém com algum vinil de respeitabilidade aceitar participar de uma bosta destas já é coisa lamentável. Contudo, Ana Paula Valadão atendeu ao convite e, para nossa satisfação, fez a única coisa digna e “de Deus” a justificar a sua presença naquele bordel religioso. A madame ungida das Alterosas foi lá e profetizou, com alguma coragem, uma brisa de boa doutrina naquele lugar fedorento. E isto foi muito bom. 

Não é preciso ser perfeito para ser profeta, basta dar voz ao que provém verdadeiramente de Deus. Isto não é bancar a pitonisa sobre a história alheia e nem alardear conselhos e fofocas nos ouvidos da congregação, “Palavras proféticas” originadas sabe-se lá de onde. Profetizar é admoestar, exultar e proclamar a verdade das Escrituras.

Dona Ana, aprendeu alguma coisa quando há uns dois anos um cantor que não gosta de ser chamado de gospel fez a mesma coisa na “igreja dela”. O camarada, um ex-Raimundos, foi à Lagoinha e desceu a lenha contra o mercantilismo no louvor. Foi bom. Eu mesmo achei que fosse presepada do músico. Escrevi isto aqui. Foi preconceito meu por saber que ele foi seguidor da Bola de Merda do apóstolo Rina. Desculpo-me e retifico: Edificou.

Debate sobre o fato e as versões

As “mídias sociais” cristãs então passam a debater uma versão equivocada dos fatos. Começam com o pressuposto de que Ana Paula Valadão criticou os lencinhos e “objetos de projeção da fé”, o que não é verdade. Basta assistir com atenção o vídeo postado neste artigo. Antes fosse o caso! Até porque, o emprego destes objetos consagrados  é um dos fundamentos mais visíveis da teologia (no caso, um vento de doutrina) que ela e sua família defendem: a Palavra da Fé e sua congênere, a Confissão Positiva. 


Ana, André e Márcio Valadão são promotores dos ensinos de Kenneth Erwin Hagin. Entre os líderes famosos influenciados por Hagin também temos o Missionário R. R. Soares, a apóstola Valnice Milhomens, o apóstolo Renê Terra Nova. Ana e o seu irmão,  André Valadão, estudaram no seminário Rhema, fundado por Hagin, na cidade de Tulsa no estado de Oklahoma (EUA). A influencia desta doutrina na teologia da Lagoinha é tão forte que até mesmo a marca que André criou para as suas bugigangas e roupas de inspiração evangélica -um escudo cortado por uma espada- é praticamente uma cópia do símbolo do ministério do heresiarca Hagin. Você pode ler mais sobre pontos de contato da fé AQUI.

O importante a destacar é que para esta gente, palavras ditas em nome do Senhor Deus têm poder, não no sentido do entendimento bíblico reformado, mas na idiota pretensão de que a declaração é capaz de colocar Jesus contra a parede e garantir ao fiel algum tipo de milagre, ou benção material, nestes termos imperativos. E dá-lhe: “eu declaro”, “eu tomo posse”, “eu profetizo sobre a sua vida” e “eu exijo” “em nome de Jesus (Oi?)”.

McAlister, apesar das recentes tentativas de passar à limpo
a história, é o pai do neopentecostalismo nacional.
A banda neopentecostal brasileira toca a mesma cantiga aperreante desde que o bispo canadense Robert McAlister, outro heresiarca de marca maior, sugeriu aos evangélicos brasileiros que estes poderiam fabricar a sua própria água benta no televisor de casa e trocar ofertas financeiras por bençãos. Desde então, tantas rosas ungidas, bolos consagrados, toalhinhas umedecidas de suor, etc. depois, toda a sorte de excremento gospel vem sendo vendido à gente tola por seus prosélitos, cito:  RR Soares, Edir Macedo e aprendizes. A igreja evangélica decidiu largar a proposta da Reforma e se bandear para o lado de Tetzel, aquele frade dominicano do século XVI que vendia indulgencias e traquitanas sacras, com tamanha destreza que levou Lutero a “perder a linha” e dar o pontapé inicial na Reforma Protestante.

O causo

Voltando ao absurdário da semana, o que Ana Paula Valadão criticou, muito acertadamente, NÃO foi o uso da toalhinha como ponto de contato da fé. Isto é também coisa da cartilha dela. A reclamação foi pela “Heresia Plus”: a adição da idolatria e da simonia no negócio do cão. Isto é: a reivindicação de certos apóstolos acerca da co-autoria dos eventuais milagres que possam acontecer.

Você recebeu um símbolo para ajudar na sua fé que é uma toalhinha, daqui a pouco mais pessoas de Deus vão orar aqui e você vai ser curado, vai receber vitórias. Mas eu quero dizer que você não estará recebendo da parte de homens, você não estará recebendo da parte de pessoa que tem nome na Terra, mas que você dê sempre o reconhecimento Àquele que é o Todo Poderoso. Honre somente a Ele, Jesus Cristo”, disse Valadão.
 


Muitos destes apóstolos se dizem vasos dos milagres de Deus. Arrogam para as suas “igrejas” a residência oficial do Eterno e se dizem prepostos dos direitos espirituais e do poder de Deus. E querem ludibriar os incautos e arrancar-lhes o dinheiro. E que não sejam tão descaradamente assumidos como semideuses, o fazem insinuantes e ladinos, ao colocarem seus nomes nas bugigangas e erigirem imensos outdoors com suas imagens nas fachadas e portas dos templos. Suas imagens vão em tudo o que se distribui na congregação. São onipresentes. Os picaretas declaram aos ventos a sua unção particular e cobram por isto. Mas aí, o fazem em nome de Deus. Jesus é sempre coadjuvante na benção e o protagonista no dízimo e nas ofertas. Jesus só sabe o número da conta bancária da igreja por que Ele é onisciente. Nem cheque e nem extrato bancário jamais foram depositados em seu altar. São mesmo uns bons sacanas, estes tais apóstolos modernos.

E o Chacrinha Gospel rebateu

Em resposta à admoestação de Valadão, o autodeclarado apostolo Agenor Duque, golpeou lembrando que Ana Paula Valadão não é nenhuma catedrática da fé reformada e é um enorme ventilador gospel a “ventar” as suas doutrinas espúrias junto com a farofa teológica da moda. Duque lembrou-se da tal unção do leão. O primeiro grande passo de Ana Paula Valadão em sua descida na ladeira da credibilidade. De quatro, Ana Paula protagonizou uma cena dantesca, que não se sabia se era teatro de comédia ou pornô mexicano. Duque arrematou a sua autodefesa afirmando que os seus lenços umedecidos de suor, ao menos tem base bíblica, já os urros e o rastejar sensual de Ana Paula Valadão não tem respaldo nas Escrituras.
 
 


Se você não crê eu respeito, mas respeita quem crê. Teve uma pastora que falou mal dos lencinhos na televisão, mas eu tenho base bíblica para mostrar isso”, afirmou Agenor durante um de seus programas na TV. “Eu poderia pegar o meu horário, mas eu não vou fazer isso, e colocar uma imagem da senhora dizendo que está cheia do Espírito Santo andando de quatro e fingindo que é um leão. Eu nunca achei base bíblica nisso”, pontuou.

O Chacrinha gospel deve se referir ao fato relatado no livro de Atos 19:11-12: 


"E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam". 

Agenor deve saber, pois todo meliante conhece o certo, para lucrar com o errado, que nem tudo o que é relatado nas Escrituras é para a direção de nossos costumes. O livro de Atos é um livro de relatos e, apresenta diversos fatos que ocorreram e que não são para serem necessariamente imitados. Muitas vezes, até mesmo episódios em que os apóstolos “de verdade” cometeram erros são relatados por Lucas, o autor do livro. Falsos ensinos encontraram acolhida pela Igreja por algum tempo, tudo para ali adiante, os santos serem admoestados pelo Espírito de Deus com a Verdade. Desta forma se constrói a sã doutrina. Foi assim com Pedro em relação às práticas judaizantes, por exemplo. Foi com Paulo, quando cedeu aos nazarenos. 

Os debates acerca da doutrina envolveu os pais da Igreja. A nossa herança é uma construção de séculos fundamentada em Cristo. É perguntar, como o Felipe o fez ao eunuco: - Entendes o que lês? 

Simão queria comprar os "truques"
de São Pedro. Sambarilove!
O apóstolo Paulo era um homem que sempre ambicionava se fazer menor, em favor da grandeza de Cristo. Não seria homem de incentivar a idolatria de sua própria figura. Se o Chacrinha gospel pretende se justificar apegando-se a qualquer texto no relato de Atos, que seja aquele no contexto certo! Como a passagem relatando a existência naquele tempo de uma figura exatamente como Agenor Duque: Simão, o Mago, picareta da época, referido nos Atos dos Apóstolos (8, 18-19). Um charlatão que queria comprar os segredos milagreiros de São Pedro, o poder de transmitir pela imposição das mãos o Espírito Santo e promover maravilhas. Simão, o mágico, ambicionava o mesmo que Agenor, o pilantra: Lucrar com a fé dos incautos. Este episódio origina a palavra simonia. Delito constante no direito canônico consistindo na venda de favores divinos, bênçãos, cargos eclesiásticos, prosperidade material, bens espirituais, coisas sagradas, perdões, objetos ungidos, etc. Tudo em troca de dinheiro. Sambarilove!

http://www.genizahvirtual.com/

terça-feira, 15 de março de 2016

DIDAQUE


"Doctrina Apostolorum" – "Doutrina dos doze Apóstolos"

O Didaque, descoberto em 1873, provavelmente foi escrito cerca do ano 100 d.C. A primeira parte contém preceitos morais sob o esquema dos "dois caminhos", o da vida e o da morte, enquanto que a segunda parte fornece orientações pertinentes ao culto e ao governo eclesiástico, entremeadas com declarações acerca das últimas coisas.

Capítulo I

Os dois caminhos: o da vida exige o amor a Deus e ao próximo

Introdução (Didaqué) do Senhor aos gentios.

1 - Há dois caminhos: um da vida e outro da morte [Jer 21,8; Dt 5,32s; 11,26-28; 30,15-20; Ecli 15,15-17]. A diferença entre ambos é grande.
2 - O caminho da vida é, pois, o seguinte: primeiro amarás a Deus que te fez; depois a teu próximo como a ti mesmo [Dt 6,5; 10,12s; Ecli 7,30; Lev 19,18; Mt 22,37]. E tudo o que não queres que seja feito a ti, não o faças a outro [Mt 7,12; Lc 6,31].
3 - Eis a doutrina relativa a estes mandamentos: Bendizei aqueles que vos amaldiçoam, orai por vossos inimigos, jejuai por aqueles que vos perseguem. Com efeito, que graça vós tereis, se ama is os que vos amam? Não fazem os gentios o mesmo? Vós, porém, amai os que vos odeiam e não tenhais inimizade [Mt 5,44s; Lc 6,27s; 6,32s].
4 - Abstém-te dos prazeres carnais [1Ped 2,11]. Se alguém te bate na face direita, dá-lhe também a outra e tu serás perfeito. Se alguém te obrigar a mil (passos), anda dois mil com ele. Se alguém tomar teu manto, dá-lhe também tua túnica. Se alguém toma teus bens, não reclames, pois de todo o jeito não podes [Mt 5,39ss; Lc 6,29].
5 - Dá a todo aquele que te pedir, sem exigir devolução. Pois a vontade do Pai é que se dê dos seus próprios dons. Bem-aventurado é aquele que dá conforme a lei, pois é irrepreensível. Ai daquele que toma (recebe)! Se, porém, alguém tiver necessidade de tomar (receber), é isento de culpa. Mas se não estiver em necessidade, terá que se responsabilizar pelo motivo e pelo fim por que recebeu. Colocado na prisão, ele não sairá de lá, até ter pago o último quadrante (vintém) [Mt 5,25s; Lc 12,58s].
6 - Mas é verdade que a este propósito também foi dito: Que tua esmola sue em tuas mãos, até que souberes a quem dar [Ecli 12,1].
Capítulo II

Dos deveres para com a vida e a propriedade do próximo

1 - O segundo mandamento da Instrução (Didaqué) é:
2 - Não matarás, não cometerás adultério; não te entregarás à pederastia, não fornicarás, não furtarás, não exercerás magia, nem bruxaria (charlatanice). Não matarás criança por aborto, nem criança já nascida; não cobiçarás os bens do próximo.
3 - Não serás perjuro [Mt 5,33; Ex 20,7], nem darás falso testemunho; não falarás mal do outro, nem lhe guardarás rancor.
4 - Não usarás de ambigüidade nem no pensamento nem na palavra, pois a duplicidade é uma trama fatal [Prov 21,6].
5 - Tua palavra não seja falsa, nem vã; mas, ao contrário, seja cheia de sinceridade e seriedade (comprovada pela ação).
6 - Não serás cobiçoso nem rapace, nem hipócrita, nem malicioso, nem soberbo. Não nutrirás má intenção contra teu próximo [Ex 20,13-17; Dt 5,17-21].
7 - Não odiarás ninguém, mas repreenderás uns e rezarás por outros, e ainda amarás aos outros mais que a ti mesmo (que tua alma).

Capítulo III

Advertências contra a paixão e a idolatria

1 - Meu filho, evita tudo o que é mau e semelhante ao mal.
2 - Não sejas odiento, pois o ódio conduz à morte; nem ciumento, nem brigalhão ou provocador, pois de tudo isso nascem os homicidas.
3 - Meu filho, não sejas cobiçoso de mulheres, pois a cobiça conduz à fornicação. Evita a obscenidade e os maus olhares, pois de tudo isto nascem os adúlteros.
4 - Meu filho, não sejas dado à adivinhação, pois ela conduz à idolatria. Abstém-te também da encantação (feitiçaria) e da astrologia e das purificações, nem procures ver ou ouvir (entender) estas coisas, pois tudo isto origina a idolatria.
5 - Meu filho, não sejas mentiroso, pois a mentira conduz ao roubo; não sejas avarento ou cobiçoso de fama, pois tudo isto origina o roubo.
6 - Meu filho, não sejas furioso, pois isto conduz à blasfêmia; não sejas insolente nem malvado, pois tudo isto origina as blasfêmias.
7 - Sê, antes, manso, pois os mansos possuirão a terra [Mt 5,5; Sl 31,11].
8 - Sê longânime, misericordioso, sem falsidade, tranqüilo e bom e guarda com toda a reverência a instrução ouvida.
9 - Não te eleves a ti mesmo e não entregues teu coração à insolência; não vivas com os ‘grandes’, mas com os justos e humildes.
10 - Tu aceitarás os acontecimentos da vida como sendo bons, sabendo que a Deus nada daquilo que acontece é estranho.

Capítulo IV

É melhor dar que receber. Deveres do senhor e dos escravos

1 - Meu filho, lembra-te dia e noite daquele que te anuncia a palavra de Deus e o honrarás como ao Senhor, pois onde se proclama sua soberania aí está o Senhor presente [Hb 13,7].
2 - Todos os dias procurarás a companhia dos santos, para encontrar apoio em suas palavras.
3 - Não causarás cismas, mas reconciliarás os que lutam entre si. Julgarás de maneira justa, sem considerar a pessoa na correção das faltas [Dt 1,16s; Prov 31,9].
4 - Não demorarás em procurar o que te há de acontecer ou não.
5 - Não terás as mãos sempre estendidas para receber, retirando-as quando se trata de dar.
6 - Se possuíres algo, graças ao trabalho de tuas mãos, dá-o em reparação por teus pecados.
7 - Não hesitarás em dar e, dando, não murmurarás, pois algum dia reconhecerás quem é o verdadeiro dispensador da recompensa.
8 - Não repelirás o indigente, mas antes repartirás tudo com teu irmão, não considerando nada como teu, pois, se divides os bens da imortalidade, quanto mais o deves fazer com os corruptíveis [At 4,32; Heb 13,16].
9 - Não retirarás a mão de teu filho ou de tua filha, mas desde sua juventude os instruirás no temor a Deus.
10 - Não darás ordens com rancor ao teu povo ou à tua serva, que esperam no mesmo Deus que tu, para que não percam o temor de Deus que está acima de todos. Com efeito, Ele não virá chamar segundo a aparência da pessoa, mas segundo a preparação do espírito.
11 - Vós, servos, sede submissos aos vossos senhores como se eles fossem uma imagem de Deus, com respeito e reverência [Ef 6,1-9; Col 3,20-25].
12 - Detestarás toda a hipocrisia e tudo o que é desagradável ao Senhor.
13 - Não violarás os mandamentos do Senhor e guardarás o que recebeste, sem acrescentar nem tirar algo.
14 - Na assembléia, confessarás tuas faltas e não entrarás em oração de má consciência. - Este é o caminho da vida.

Capítulo V

Do caminho da morte

1- O caminho da morte é o seguinte: em primeiro lugar, é mau e cheio de maldições: mortes, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias, práticas mágicas, bruxarias, rapinagens, falsos testemunhos, hipocrisias, ambigüidades (falsidades), fraude, orgulho, maldade, arrogância, cobiça, má conversa, ciúme, insolência, extravagância, jactância, vaidade e ausência do temor de Deus;
2 - Perseguidores dos bons, inimigos da verdade, amantes da mentira, ignorantes da recompensa da justiça, não-desejosos do bem nem do justo juízo, vigilantes, não pelo bem, mas pelo mal, estranhos à doçura e à paciência, amantes da vaidade, cobiçosos de retribuição, sem compaixão com os pobres, sem cuidado para com os necessitados, ignorantes de seu Criador, assassinos de crianças, destruidores da obra de Deus, desprezadores dos indigentes, opressores dos aflitos, defensores dos ricos, juizes iníquos dos pobres, pecadores sem fé nem lei. - Filho, fica longe de tudo isso.

Capítulo VI

Perfeito é quem aceita o jugo do Senhor

1 - Vigia para que ninguém te afaste deste caminho da instrução, ensinando-te o que é estranho a Deus [Mt 24,4].
2 - Pois, se puderes portar todo o jugo do Senhor, serás perfeito; se não puderes, faze o que puderes.
3 - Quanto aos alimentos, toma sobre ti o que puderes suportar, mas abstém-te completamente das carnes oferecidas aos ídolos, pois este é um culto aos deuses mortos.

Capítulo VII

Instrução sobre o batismo

1 - No que diz respeito ao batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente [Mt 28,19].
2 - Se não tens água corrente, batiza em outra água; se não puderes em água fria, faze-o em água quente.
3 - Na falta de uma e outra, derrama três vezes água sobre a cabeça em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
4 - Mas, antes do batismo, o que batiza e o que é batizado, e se outros puderem, observem um jejum; ao que é batizado, deverás impor um jejum de um ou dois dias.

Capítulo VIII

Sobre o jejum e a oração

1 - Vossos jejuns não tenham lugar (não sejam ao mesmo tempo) com os hipócritas; com efeito, eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; vós, porém, jejuai na quarta-feira e na sexta (dia de preparação).
2 - Também não rezeis como os hipócritas, mas como o Senhor mandou no seu Evangelho: Nosso Pai no céu, que teu nome seja santificado, que teu reino venha, que tua vontade seja feita na terra, assim como no céu; dá-nos hoje o pão necessário (cotidiano), perdoa a nossa ofensa assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do mal [Mt 6,9-13; Lc 11,2-4], pois teu é o poder e a glória pelos séculos.
3 - Assim orai três vezes por dia.

Capítulo IX

Instrução sobre a celebração eucarística

1 - No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira:
2 - Primeiro sobre o cálice, dizendo: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu servo, que tu nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém.
3 - Sobre o pão a ser quebrado: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém.
4 - Da mesma maneira como este pão quebrado primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da terra seja unida a ti tua igreja (assembléia) em teu reino; pois tua é a glória e o poder pelos séculos! Amém.
5 - Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em nome do Senhor. Pois a respeito dela disse o Senhor: Não deis as coisas santas aos cães!

Capítulo X

Ação de graças depois da ceia

1 - Mas depois de saciados, bendizei (agradecei) da seguinte maneira:
2 - Nós te bendizemos (agradecemos), Pai Santo, por teu santo nome, que tu fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que tu nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos. Amém.
3 - Tu, Senhor, Todo-poderoso, criaste todas as coisas para a glória de teu nome e, para o gozo deste alimento e a bebida aos filhos dos homens, a fim de que eles te bendigam; mas a nós deste uma comida e uma bebida espirituais para a vida eterna por Jesus, teu servo.
4 - Por tudo te agradecemos, pois és poderoso; a ti, a glória pelos séculos. Amém.
5 - Lembra-te, Senhor, de tua Igreja, para livrá-la de todo o mal e aperfeiçoá-la no teu amor; reúne esta igreja santificada dos quatro ventos no teu reino que lhe preparaste, pois teu é o poder e a glória pelos séculos. Amém.
6 - Venha tua graça e passe este mundo! Amém. Hosana à casa de Davi [Mt 21,15]. Venha aquele que é santo! Aquele que não é (santo) faça penitência: Maranatá! [1Cor 16,22; Apoc 22,20] Amém.
7 - Deixai os profetas bendizer (celebrar a Eucaristia) à vontade.
Capítulo XI

Da hospitalidade para com os apóstolos e profetas

1 - Se, portanto, alguém chegar a vós com instruções conformes com tudo aquilo que acima é dito, recebei-o.
2 - Mas, se aquele que ensina é perverso e expõe outras doutrinas para demolir, não lhe deis atenção; se, porém, ensina para aumentar a justiça e o conhecimento do Senhor, recebei-o como o Senhor.
3 - A respeito dos apóstolos e profetas, fazei conforme as normas (texto grego: dogma) do Evangelho.
4 - Todo o apóstolo que vem a vós seja recebido como o Senhor.
5 - Mas ele não deverá ficar mais que um dia, ou, se necessário, mais outro. Se ele, porém, permanecer três dias é um falso profeta.
6 - Na sua partida, o apóstolo não leve nada, a não ser o pão necessário até a seguinte estação; se, porém, pedir dinheiro é falso profeta.
7 - E não coloqueis à prova nem julgueis um profeta em tudo que fala sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas este pecado não será perdoado [Mt 12,31].
8 - Nem todo aquele que fala no espírito é profeta, a não ser aquele que vive como o Senhor. Na conduta de vida conhecereis, pois, o falso profeta e o (verdadeiro) profeta.
9 - E todo profeta que manda, sob inspiração, preparar a mesa não deve comer dela; ao contrário, é um falso profeta.
10 - Todo profeta que ensina a verdade sem praticá-la é falso profeta.
11 - Mas todo profeta provado (e reconhecido) como verdadeiro, representando o mistério cósmico da Igreja, não ensinando, porém, a fazer como ele faz, não seja julgado por vós, pois ele será julgado por Deus. Assim também fizeram os antigos profetas.
12 - O que disser, sob inspiração: dá-me dinheiro ou qualquer outra coisa, não o escuteis; se, porém, pedir para outros necessitados, então ninguém o julgue.

Capítulo XII

Da hospitalidade para com os outros

1 - Todo aquele que vem a vós, em nome do Senhor, seja acolhido. Depois de o haverdes sondado, sabereis discernir a esquerda da direita (pois tendes juízo).
2 - Se o hóspede for transeunte, ajudai-o quanto possível. Não permaneça convosco senão dois ou, se for necessário, três dias.
3 - Se quiser estabelecer-se convosco, tendo uma profissão, então trabalhe para o seu sustento.
4 - Mas, se ele não tiver profissão, procedei conforme vosso juízo, de modo a não deixar nenhum cristão ocioso entre vós.
5 - Se não quiser conformar-se com isto, é um que quer fazer negócios com o cristianismo. Acautelai-vos contra tal gente.

Capítulo XIII

Deveres para com os verdadeiros profetas

1 - Todo verdadeiro profeta que quer estabelecer-se entre vós é digno de seu alimento.
2 - Do mesmo modo, também o verdadeiro mestre, como o operário, é digno de seu alimento.
3 - Por isso, tomarás as primícias de todos os produtos da vindima e da eira, dos bois e das ovelhas e darás aos profetas, pois estes são os vossos grandes sacerdotes.
4 - Se vós, porém, não tiverdes profeta, dai-o aos pobres.
5 - Se tu fizeres pão, toma as primícias e dá-as conforme manda a lei.
6 - Do mesmo modo, abrindo uma bilha de vinho ou de óleo, toma as primícias e dá-as aos profetas.
7 - E toma as primícias do dinheiro, das vestes e de todas as posses e, segundo o teu juízo, dá-as conforme a lei.

Capítulo XIV

Santificação do domingo pela eucaristia

1 - Reuni-vos no dia do Senhor para a fração do pão e agradecei (celebrai a Ceia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.
2 - Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado [Mt 5,23-25].
3 - Com efeito, deste sacrifício disse o Senhor: Em todo o lugar e em todo o tempo se me oferece um sacrifício puro, porque sou um grande rei — diz o Senhor — e o meu nome é admirável entre todos os povos [Mal 1,11-14].

Capítulo XV

Eleição dos bispos e diáconos

1 - Escolhei-vos, pois, bispos e diáconos dignos do Senhor, homens dóceis, desprendidos (altruístas), verazes e firmes, pois eles também exercerão entre vós a liturgia dos profetas e doutores (mestres).
2 - Não os desprezeis, porque eles são da mesma dignidade entre vós como os profetas e doutores.
3 - Repreendei-vos mutuamente uns aos outros, não com ódio, mas na paz, como tendes no Evangelho. E ninguém fale com (todo) aquele que ofendeu o outro (próximo), nem o escute até que ele se tenha arrependido.
4 - Fazei vossas preces, esmolas e todas as vossas ações como vós tendes no Evangelho de Nosso Senhor.

Capítulo XVI

Da parusia do Senhor
1 - Vigiai sobre vossa vida. Não deixeis apagar vossas lâmpadas nem solteis o cinto de vossos rins, mas estai preparados, pois não sabeis a hora na qual Nosso Senhor vem [Mt 24,41-44; 25,13; Lc 13,35].
2 - Reuni-vos freqüentemente para procurar a salvação de vossas almas, pois todo o tempo de vossa fé não vos servirá de nada se no último momento não vos tiverdes tornado perfeitos.
3 - Com efeito, nos últimos dias se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores; as ovelhas se transformarão em lobos e o amor em ódio [Mt 24,10-13; 7,15].
4 - Com o aumento da iniqüidade, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente e então aparecerá o sedutor do mundo como se fosse o filho de Deus. Ele fará milagres e prodígios e a terra será entregue em suas mãos e ele cometerá tais crimes como jamais se viu desde o começo do mundo [Mt 24,24; 2Tes 2,4-9].
5 - Então toda a criatura humana passará pela prova de fogo e muitos se escandalizarão e perecerão. Mas aqueles que permanecerem firmes na sua fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoam (pelo amaldiçoado) [Mt 24,10-13].
6 - Aparecerão os sinais da verdade: primeiro o sinal da abertura no céu, depois o sinal do som da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos [Mt 24,31; 1Cor 15-52; 1Tes 4,16].
7 - mas não de todos, segundo a palavra da escritura: O Senhor virá e todos os santos com Ele.
8 - Então verá o mundo a vinda do Senhor sobre as nuvens do céu [Mt 24,30; 26,64]