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sábado, 30 de outubro de 2021

Rm 1 Cuidado! Antes de Ler a Carta aos Romanos.

 


Introdução 

Se você deseja estudar a Carta de Paulo aos Romanos, é bom se prevenir. Mais do que qualquer outro texto das Escrituras Sagradas, seu conteúdo transformou a vida de muitos homens na história da igreja, trazendo grande impacto e profunda transformação nas gerações seguintes.
Se você deseja continuar, faça-o! Mas lembre-se, seu conteúdo é “perigosamente maravilhoso!”
Muitos líderes da igreja influentes, em diferentes séculos, dão testemunho do impacto produzido pela Epístola aos Romanos em suas vidas, tendo sido ela, em diversos casos, o instrumento para sua conversão.

Agostinho de Hipona (354-430)

No verão do ano 386, Santo Agostinho, então professor de retórica em Milão, ainda não convertido, Ali adquiriu o costume de ouvir, as pregações do Bispo Ambrósio. A mensagem atingia cada vez mais o seu coração. Começou a  apreciar a Bíblia e a entender que todo o Antigo Testamento é um caminho rumo a Jesus Cristo. Começou, então, a ler a Bíblia e sobretudo as Cartas de São Paulo e narra que, no tormento das suas reflexões, tendo-se retirado num jardim, ouviu uma voz infantil repetindo uma cantiga que nunca tinha ouvido: tolle, lege, tolle, lege, "toma e lê, toma e lê" (Confissões VIII, 12).
Ao tomar o manuscrito que estava ao lado do amigo, seus olhos caíram nestas palavras de Paulo: “A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências” (Rm 13.13,14).
Entendeu que esta palavra se dirigia a ele, e assim ele registra:

“Não li mais nada, e não precisei de coisa alguma. Instantaneamente, ao terminar a sentença uma clara luz inundou meu coração e todas as trevas da dúvida se desvaneceram” (Confissões VIII.29). Sentiu assim dissipar-se as trevas da dúvida e encontrou-se enfim livre para se doar totalmente a Cristo: "Tinhas convertido a ti o meu ser" (Confissões, VIII, 12).


Martinho Lutero (1483-1546)

Em Novembro de 1515, este monge agostiniano e professor de teologia, começou a expor a Epístola de Paulo aos romanos aos seus alunos, até setembro de 1516. Conforme preparava as lições, apreciava cada vez mais a doutrina da justificação pela fé: “Ansiava muito por compreender a Epístola de Paulo aos Romanos, e nada me impedia o caminho, senão a expressão: ‘a justiça de Deus’, por que a entendia como se referindo àquela justiça pela qual Deus é justo e age com justiça quando pune os injustos... Noite e dia refleti até que... captei a verdade de que a justiça de Deus é aquela justiça pela qual, mediante a graça e a pura misericórdia, Ele nos justifica pela fé. Daí por diante, senti-me renascer e atravessar os portais abertos do paraíso. Toda a Escritura ganhou novo significado e, ao passo que antes ‘a justiça de Deus’ me enchia de ódio, agora se me tornava indizivelmente bela e me enchia de maior amor. Esta passagem veio a ser para mim uma porta para o céu.” (Luther’s Work, edição de Weimar, vol. 54)

Esta Epístola é o mais importante documento do Novo Testamento, o evangelho na sua expressão mais pura”. Aos olhos de numerosos historiadores, o comentário à Epístola aos Romanos por Lutero, em 1516, foi o verdadeiro ponto de partida da Reforma. O momento decisivo na vida de Lutero foi a descoberta que a justiça de Deus, não como julgamento e exigências, mas dada por Deus através de sua graça. A justiça de Deus revelada em Cristo. As consequências desta nova compreensão tiveram grande repercussão na história.

Philip Melanchthon (1497-1560).

Foi um dos maiores colaboradores de Lutero e redigiu a “Confissão de Augsburgo” (1530). Em 1521 concluiu sua famosa obra Loci Communes (“Tópicos comuns” da Teologia), que é de fato uma explicação da Epístola aos Romanos que na sua visão fornecia o sumário da doutrina cristã. A dogmática luterana primitiva confundiu-se, na realidade, com uma dogmática da Epístola aos Romanos. Melanchton converteu-se no principal líder do luteranismo após a morte de Lutero e é considerado o primeiro sistemático da Reforma.

William Tyndale (1484-1536)

Este pastor protestante e acadêmico inglês, mestre em Artes na Universidade de Oxford foi profundamente influenciado pela carta de Paulo ao Romanos. Traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês. Seu objetivo era fazer o Novo Testamento um livro tal que "todo menino de arado" pudesse lê-lo e se tornasse mais conhecedor das Escrituras que o próprio clero. Apesar de numerosas traduções para inglês, parciais ou completas, terem sido feitas a partir do século VII, a Bíblia de Tyndale foi a primeira a beneficiar da imprensa, o que permitiu uma ampla distribuição.
Tyndale estudou as escrituras e começou a defender as teses da Reforma Protestante, muitas das quais eram consideradas heréticas, primeiro pela Igreja Católica que o perseguira e depois pela Igreja Anglicana. As traduções de Tyndale foram banidas pelas autoridades e o próprio Tyndale foi queimado na fogueira em 1536 em Vilvoorde (10Km a nordeste de Bruxelas), na atual Bélgica, sob a instigação de agentes de Henrique VIII e a Igreja Anglicana. Suas últimas palavras foram, "Senhor, abre os olhos ao rei da Inglaterra", o que de fato aconteceu anos depois.
Ele fez a seguinte declaração sobre Romanos:

“Visto que esta epístola é a principal e a mais excelente parte do Novo Testamento, e o mais puro Euangelion, quer dizer, boas novas e aquilo que chamamos de Evangelho, como também luz e caminho, que penetra o conjunto da Escritura, creio que convém que todo cristão não somente a conheça de cor, mas também se exercite nela sempre e sem cessar, como se fosse o pão cotidiano da alma. Na verdade, ninguém pode lê-la demasiadas vezes nem estudá-la suficientemente bem. Sim, pois, quanto mais é estudada, mais fácil fica; quanto mais é meditada, mais agradável se torna, e quanto mais profundamente é pesquisada, mais coisas preciosas se encontram nela, tão grande é o tesouro de bens espirituais que nela jaz oculto”.

João Calvino (1509-1564)

Teólogo francês, influenciou profundamente a Reforma Protestante. Foi inicialmente um humanista, e depois do seu afastamento da Igreja Católica, começou a ser visto, como uma das vozes mais influentes do movimento protestante. Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça. Para muitos historiadores, ele foi para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã.
Calvino também foi profundamente influenciado pela Carta de Paulo aos Romanos, em 1539 escreveu:

“Se... conseguirmos atingir uma genuína compreensão desta Epístola, teremos aberto uma amplissíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros das Escrituras”.

Foi explicando a Epístola aos Romanos, seu primeiro comentário bíblico (publicado somente em 1540), que Calvino preparou a segunda edição das Institutas da religião cristã (1539), formulando as principais teses da doutrina calvinista”.

John Wesley (1703-1791)

O coração de Wesley foi tomado por um fogo ao ouvir um estudo sobre a Carta aos Romanos. No dia 24 Maio de 1738, Wesley visitou a sociedade moraviana perto da Rua Aldersgate.  Ali experimentou a sua conversão, que ele descreveu no seu diário:

“Ao entardecer eu fui sem grande vontade a uma sociedade na Rua de Aldersgate, onde alguém estava a ler o prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos. Cerca de um quarto para as nove, enquanto ele estava a descrever a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, eu senti o meu coração estranhamente aquecido. Eu senti que confiava em Cristo, somente em Cristo para a salvação; e uma certeza foi-me dada que Ele havia retirado os meus pecados, mesmo os meus, e me havia salva da lei do pecado e da morte.” (Works [1872], vol. 1)

Este momento crítico da vida de João Wesley, para muitos historiadores, foi o acontecimento que mais que todos os outros, deu início ao Avivamento Evangélico do Século XVIII.

Karl Barth – (1886-1968)

Teólogo reformado suíço considerado por alguns como o maior teólogo protestante do século 20. Sua influência expandiu-se muito além do domínio acadêmico, chegando a incorporar a cultura,  o que levou a Barth ser apresentado na capa da revista TIME em 20 de abril de 1962.
Barth rejeitou sua formação na teologia liberal predominante típica do protestantismo europeu do século XIX, bem como as tendências mais conservadoras do cristianismo, assumindo  a teologia dialética chamada posteriormente de neo-ortodoxia - um termo que rejeitou enfaticamente.
Barth enfatizou a soberania de Deus, particularmente através da reinterpretação da doutrina calvinista das eleições, do pecado da humanidade e da "distinção qualitativa infinita entre Deus e a humanidade". Suas obras mais famosas são a sua Epístola aos Romanos, que marcou um recorte claro de seu pensamento anterior, e seu enorme trabalho de treze volumes, a Igreja Dogmática, uma das maiores obras de teologia sistemática já escritas. O Papa Pio XII disse que Karl Barth foi “o melhor teólogo desde Tomás de Aquino”.
Em Agosto de 1918, publicou sua exposição da Epístola aos Romanos, e logo no prefácio escreveu:

“O leitor perceberá por si mesmo que este comentário foi escrito comum jubiloso sentimento de descoberta. A poderosa voz de Paulo era nova para mim e se o era para mim, certamente o será para muitos. Entretanto, agora que terminei minha obra, vejo que resta muita coisa que ainda ouvi”.

Alguém teceu a seguinte comentário: “Sua análise caiu como uma granada no pátio de recreio dos teólogos”.

Charles E. B. Cranfield (1915-2015)

Considerados um dos maiores professores de NT em todo mundo, serviu como Capelão do exército na Segunda Guerra Mundial, como pastor para prisioneiros de guerra antes de ensinar por 30 anos como professor emérito de teologia da Universidade de Durham, no Reino Unido.
É autor do famoso Comentário de Romanos “A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans”, e “On Romans and Other New Testament Essays” cujos dois volumes integram a impressionante série mundialmente conhecida como International Critical Commentary (Icc, com 52 volumes), da qual é um dos editores.
Em 1985 fez a seguinte declaração:

“Tendo-me empenhado muito seriamente com a epístola aos Romanos durante mais de um quarto de século, ainda a encontro sempre nova e não posso lê-la sem prazer. Minha mais séria esperança é que cada vez mais pessoas se comprometam seriamente com ela, e, ouvindo o que ela tem a dizer, encontrem no Deus fiel, compassivo e Todo-Poderoso, como que ela se preocupa, alegria e esperança, bem como força até nestes sombrios, ameaçadores e – para muitos – dias carregados de angustia, através dos quais temos que viver”.


John R. W. Stott (1921-2011)

Pastor e teólogo anglicano britânico, conhecido como um dos grandes nomes mundiais evangélicos. Foi um dos principais autores do pacto de Lausanne, em 1974. Em 2005, a revista Time o colocou entre as 100 pessoas mais influentes do mundo.
Durante muitos anos foi reitor da Igreja anglicana de All Souls, em Londres. Em  1994 escreveu um dos seus grandes trabalhos acadêmicos que foi o comentário da  Carta de Paulo aos Romanos. Ele afirma o seguinte sobre esta carta: “Ela é a mais completa, a mais pura e a mais grandiosa declaração do evangelho encontrada no Novo Testamento”.

Conclusão:
F. F. Bruce afirmou:

“Não é possível predizer o que pode acontecer quando as pessoas começam a estudar a Epístola aos Romanos. O que sucedeu com Agostinho, Lutero, Wesley e Barth acionou grandes movimentos espirituais que deixaram sua marca na história do mundo. Mas coisas parecidas com essas aconteceram muito mais vezes com pessoas bem comuns, quando as palavras desta epístola penetraram nelas com poder. Assim, aqueles que a lerem até esse ponto, estejam preparados para as consequências de prosseguirem na leitura. O leitor está avisado!”

Do ponto de vista doutrinário, é uma das mais ricas e a mais notavelmente estruturada. Calvino afirma “Esta epístola toda inteira é disposta metodicamente...  entre as muitas e notáveis virtudes, a epístola possui uma em particular, a qual nunca é suficientemente apreciada, a saber: se porventura conseguirmos atingir a genuína compreensão desta epístola, teremos aberto uma amplíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros da escritura”.

Historicamente nenhuma carta exerceu igual influência; um teólogo protestante chegou a dizer que a história da Igreja se confundia com a da interpretação desta epístola. Não há como negar que este texto sempre ocupou um lugar privilegiado na história da exegese.

Sua interpretação desempenhou papel decisivo na vida destes grandes homens, conforme descrevemos acima, e particularmente em dois momentos cruciais da história da Igreja: No século V, quando Pelágio criou uma das grandes controvérsias sobre a gratuidade da salvação e no século XVI, quando se redescobriu a doutrina da Justificação pela graça.

O estudo desta carta é vital para a saúde teológica da igreja de Cristo. Todos os reformadores da igreja viam Romanos como sendo a chave divina para o entendimento de toda a Escritura.
Então, caso você decida estudar esta carta, esteja alerta, como nos adverte F. F. Bruce.

Rev Samuel Vieira

NÃO ULTRAPASSE OS LIMITES QUE DEUS LHE DEU

 

1 Sm 13

            Alguns anos atrás eu subi com um sofá dezesseis andares de um edifício. Naquela ocasião eu e minha família estávamos mudando de residência. O sofá não entrava dentro do elevador, e não tivemos escolha, tínhamos que subir dezesseis andares ou desmonta-lo. Você já sabe qual foi à conclusão. Naquele dia descobri que meu corpo não estava pronto para suportar aquela subida, quando coloquei o sofá no chão, ouvi um estralo na minha costa, naquele dia tudo continuou normal, ajudei depois ainda a subir um freezer para o andar de cima da cobertura. No outro dia não consegui levantar da cama, arrastei meu corpo pelo chão do quarto até chegar na maçaneta da porta, onde me apóie para me levantar. A partir daquele dia tenho convivido com uma hérnia de disco. Por isso quero dizer “não ultrapasse os limites que Deus lhe deu” sejam eles físicos ou espirituais.


Saul foi o primeiro rei de Israel e estava encurralado pelos filisteus; seus homens haviam se escondido entre cavernas, túmulos e penhascos para não serem vistos pelos inimigos. Samuel havia pedido para Saul espera-lo sete dias e então ele viria para oferecer a Deus holocaustos em favor de todo o povo que estava na guerra. Passaram-se os sete dias e Samuel não havia chegado, Saul resolveu então fazer a vez do sacerdote diante o fato de que seus homens haviam se cansado de esperar por Samuel.
Saul havia sido ungido por Deus para ser rei, e não para o ministério sacerdotal. Saul pecou quando fez o serviço de Samuel e não o esperou. Então percebemos aqui dois erros de Saul: primeiro não teve paciência para esperar Samuel; segundo fez algo que Deus não lhe deu autoridade para fazer. O segundo erro de Saul foi conseqüência em parte do primeiro.
Alguns membros de nossas igrejas vivem cometendo estes dois pecados.
Muitos têm pecado por causa da falta de paciência. Esta falta de paciência os leva a arrumarem confusão no transito, em filas de banco, restaurante, às vezes os levam a falarem palavras torpes ou baterem em seus filhos com ira ao invés de faze-lo com amor.
A falta de paciência demonstra a falta de um dos frutos do Espírito: longanimidade. Devemos buscar este fruto para nossa vida. Muitas decisões podem ser mais bem tomadas quando temos longanimidade.
Alguns têm cometido o segundo pecado de Saul, não só não fazem o que Deus não os outorgou a fazer como vivem cobiçando os cargos ou dons dos outros irmãos (Ex 20:17).
Precisamos compreender que Deus nos deu dons diferentes e nos colocou em posições diferentes dentro do corpo (Ef 4:11). Não devemos querer ser pé quando somos a mão, não devemos querer ser o olho, se Deus nos colocou como ouvido (1 Co 12:20-21). Devemos respeitar o dom de cada um e ser submisso a autoridade que Deus deu a cada um dentro do corpo.
Não deixemos que nossa falta de paciência para com aqueles que ainda não estão tão aptos dentro do corpo venha nos levar a pecar contra o corpo. Precisamos fazer com que todo o corpo trabalhe e não querer trabalhar por todo o corpo; precisamos esperar e se necessário ajudar os demais membros que necessitem de apoio a desenvolverem seus dons e não querer tomar o seu lugar no corpo.

A Minhoca





Conta uma velha lenda que há muitos e muitos anos, em uma vasta planície do Quênia, próximo ao coração da África, os animais se reuniram em uma clareira junto ao Rio Impumelelo, para descobrirem qual deles era o mais importante dentre todos. Era uma escolha difícil. O mais importante não seria apenas o mais forte, o mais formoso ou o mais esperto, mas aquele que, por sua tarefa natural, fosse imprescindível para todos os outros, e que sobre os seus ombros e o desempenho de seu trabalho pesasse o futuro de toda a bicharada.
Assim começou o grande concurso. Os animais mais formosos foram logo tomando à frente dos outros, para desfilarem diante do júri. Da mesma forma os mais robustos abriram espaços entre a platéia e se colocaram em posição de destaque. Os pequenos e feios, coitados, foram tomando os lugares de trás. No mundo animal, quando se trata de força e coragem, vem-nos logo à mente o leão. O búfalo, o rinoceronte e o elefante também são muito fortes. Se, no entanto, falamos de beleza, a águia é a rainha; a girafa é muito elegante; a gazela é distintamente formosa e não é à toa que os homens costumam chamar as mulheres excepcionalmente belas de panteras. Em inteligência, a abelha é uma matemática quando constrói seus favos; o joão-de-barro é engenheiro construtor e o papagaio imita até a voz do homem!

O concurso prosseguia e a decisão era difícil, conforme já frisamos, pois que a beleza, a força e a esperteza não são necessariamente importantes para o reino animal, ao contrário do que se possa supor precipitadamente. "O concurso pretende estabelecer dentre todos os animais aquele a quem a mãe natureza confiou uma tarefa verdadeiramente extraordinária, importante para todo o reino animal", disse um dos jurados, esclarecendo o público e os participantes. Dito isto, o leão, que tanto rugia para chamar a atenção dos demais, ficou em silêncio, tanto quanto os demais que haviam se aproximado pretensiosamente do palanque. Foi assim que nossa amiga dona Minhoca, que havia se colocado entre os últimos dos últimos, teve o seu nome lembrado (e com muita justiça, diga-se de passagem). Embora seja ela um dos mais desprezados seres, sem nenhuma beleza aparente, foi a ela que a mãe natureza confiou uma missão absolutamente fundamental para todo o reino: é a responsável por cavar inúmeros túneis na terra, os quais levam o ar atmosférico e minerais até as raízes de todas as plantas, fazendo-as crescerem fortes e saudáveis. Ainda que D. Minhoca não tenha ouvidos, olhos ou nariz, e apenas uma boca, sua importância é infinitamente superior à força do leão, à beleza da águia ou à inteligência da abelha.
Veja, caro leitor, como nem sempre os critérios humanos de julgamento dão importância ao que realmente é importante. Não foi assim que desprezaram ao nosso Senhor Jesus? Está escrito na Bíblia: "...não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca." (Isaías 53.2-7). Foi o próprio Senhor Jesus quem nos ensinou, dizendo: "Aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande." (Lucas 9.49).

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Troque a dor por lembranças.

 


No dia 12 de Agosto de 2021, faleceu de Covid-19, o ícone da teledramaturgia brasileira Tarcísio Meira trazendo comoção pública e familiar. Mocita Fagundes, sua nora, fez uma belíssima declaração publicada em muitos jornais: “O luto dói, o luto exaure a gente. Mas o luto também “te exige” um… recomeçar.  O exercício é trocar a dor pelas lembranças lindas.”

Que gigantesco desafio é este para pessoas que passam por grandes perdas. O problema é que, nem sempre a dor é facilmente elaborada, e assim transformamos a dor em mera dor. Ela não traz reflexão nem maturidade, e nos leva a um movimento fetal de introversão, não permitindo que saiamos do seu macabro ciclo. Quando a dor se torna tão onipotente, é impossível superá-la, e isto nos leva a uma paralisia pessoal. A dor prevalece e se torna senhora...dominando todas as áreas da vida.

Muitos conseguem transformar a dor em lembranças lindas. A saudade profunda se torna algo encorajador, levando a um aprofundamento e trazendo vida, generosidade, solidariedade, nos deixando mais humanos. Em alguns casos, um senso de enorme gratidão por ter sido abençoado de participar de uma vida que deixou tantas lembranças e se foi, na maioria das vezes, bem mais cedo que queríamos...

Sempre me surpreendi com as palavras de Cristo na hora em que ele distribuía o pão e vinho aos seus discípulos. “Tomando o pão, deu graças e repartiu dizendo: “Este é o meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Espantoso! Como dar graças a Deus por algo que aponta para seu sofrimento, para seu martírio e para a cruz? Aliás, Em essência, a palavra “Eucaristia” significa “ação de graças”, não é isto surpreendente?

O grande segredo é que Jesus não olhava a dor como mera dor. Ele via a dor como algo mais profundo. Sua dor apontava para uma oferenda de si mesmo, para algo redentivo. Sua morte trouxe vida. 

Tenho muito medo de fazer reflexão em cima da dor do outro, mas ao mesmo tempo, não posso me privar da possibilidade de ajudar aqueles que sofrem com uma reflexão que encoraje e ajude a dura caminhada no luto e nas doloridas perdas. Se pudermos transformar a dor em boas lembranças, o luto em algo produtivo, certamente isto será muito produtivo e cresceremos espiritualmente.

“Não é só pela morte que temos que sofrer. É pela vida. Pelas perdas. Pelas mudanças. Quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive. O luto vem em seu próprio tempo para todos. À sua própria maneira. O melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. E deixar pra lá quando podemos.” (Grey’s Anatomy)

Rev Samuel Vieira. 

O Segundo tempo

 



Os torcedores de futebol conhecem bem esta expressão. O jogo de futebol é dividido em duas etapas, e muitas vezes, o resultado do primeiro tempo é um desastre, mas subitamente, surge um fato novo, um gol inesperado, a expulsão de um jogador do time adversário, ou a mudança no ânimo dos jogadores, e o segundo tempo torna-se surpreendente.

Bob Buford, um bilionário texano, dono de uma grande rede de telecomunicações americana, escreveu o livro “A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida”. Para ele, a vida de um ser humano divide-se em duas etapas. Na primeira, a prioridade é a formação acadêmica, a luta pelo emprego, para se encaixar no mercado de trabalho, casar, criar filhos, e se firmar responsavelmente e com solidez na vida.

Nesta fase, ele luta para alcançar o sucesso, a realização profissional e o sustento de sua família. As pessoas são resistentes, agressivas nas suas ambições, aguerridas e quase incansáveis. As oportunidades estão diante dele que as agarra com tenacidade.

No segundo tempo da vida, ele descobre que suas conquistas pessoais, sucesso, não são suficientes para dar sentido, nem trazer plenitude à vida. Ser bem sucedido e encontrar significado são duas coisas completamente diferentes. A existência sem sentido gera frustração, angústia e vazio. 

Quase sempre nos vemos em um ou outro destes momentos da vida. Relutante ou corajosamente enfrentamos desafios. Muitas vezes entramos para o “vestiário” antes do segundo tempo, com um senso enorme de fracasso e derrota, mas podemos ser surpreendidos pelo desenrolar do novo tempo. 

Uma famosa loja de casacos de Londres fez uma afirmação magistral: “Estamos há 127 anos no mercado, já vimos de tudo. Tivemos períodos de grande sucesso, mal conseguindo atender os produtos que oferecemos, ganhamos muito dinheiro, expandimos a fábrica, fizemos muitas contratações. Também já passamos por duas guerras mundiais, nossa loja foi incendiada, fomos assaltados duas vezes, passamos pela Grande Depressão, já decretamos falência mas ainda assim continuamos no mercado. Você deve estar perguntando porquê? A razão é simples: Não queremos perder o próximo capítulo.”

O conhecido pensador cristãos G.K. Chesterton afirma: “Fé é aquilo capaz de sobreviver a um estado de ânimo.” Então, quando estiver desencorajado considere o seguinte: Ainda temos todo um segundo tempo de jogo, não é hora de desanimar.

Rev Samuel Vieira.