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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

RECUSANDO OBEDECER ÀS PALAVRAS DE JESUS

 

 

Há mais de 30 anos, aceitei a Jesus como o meu Salvador em uma pequena igreja Batista no interior de Minas. Lembro-me como se fosse hoje, quando corajosamente levantei a mão, respondendo com alegria ao apelo feito por um pastor visitante, que descreveu perfeitamente a minha situação de alguém que se encontrava vacilante “em cima do muro”, sem saber se ficava de um lado ou do outro nesta grande batalha entre as forças do mal e as forças do bem (1Re 18:21). A minha namorada na época, sentada do meu lado, ficou assustada com a minha decisão, mas se manteve firme até a sua morte, que eu saiba, em não assumir o mesmo compromisso de caminhar com Jesus rumo à vida eterna, para a tristeza da sua mãe, uma fiel serva do Senhor e membro da Assembleia de Deus da nossa cidade.

“São esses que naquele dia insistirão com Jesus que faziam parte do seu povo, apesar de não terem produzido frutos de arrependimento e santificação.”

Todo o Descrente Sabe que Vive em Desobediência a Deus

Antes desse dia, eu já sabia que se tomasse tal decisão teria que haver uma mudança radical na minha vida, envolvendo lazer, vícios, amizades, namoro e até profissão. Sem ninguém ter me alertado, no meu coração eu já sabia dessas coisas. Não creio que existe algo diferente em mim quando se trata de estar consciente em relação às coisas que Deus aprova e às coisas que Ele desaprova. Na realidade, tenho certeza que todos os seres humanos adultos estão bem a par de tudo aquilo que fazem contrário à vontade de Deus. Paulo nos escreveu sobre isso: “pois mostram a obra da lei escrita no coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rom 2:15). Esta verdade pode ser facilmente confirmada com as pessoas que conhecemos. Pergunte qualquer indivíduo, não convertido, e ele lhe dirá (se for honesto) que realmente teria que abandonar certas práticas se aceitasse a Jesus. No seu íntimo, ele já sabe que o mundo onde se encontra e o mundo que Deus oferece são incompatíveis, assim como luz e trevas (2Cor 6:14). O Senhor coloca este conhecimento básico nas suas criaturas para que a decisão de O seguir seja consciente e não às cegas. Se alguém não está disposto a pagar o preço do discipulado, é melhor que fique de fora: “Quem não leva a sua cruz e não me segue, não tem como ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar?” (Luc 14:27-28).

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Sabemos muito bem que a maioria dos seres humanos não quer se envolver com as coisas de Deus, ponto final (Mat 22:14). Sabemos também que apenas um grupo pequeno segue a Jesus em amor e obediência. Fortalecidos por sua maravilhosa graça, estes aguardam a vinda do Senhor com alegria (2Tim 4:7). Os verdadeiros servos de Deus tomaram a decisão se seguirem fiéis nesta caminhada rumo à Canaã celestial, obedecendo à tudo aquilo que lhes foi pedido como requerimento para percorrerem o caminho de santidade descrito pelo profeta Isaías: “E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para os remidos” (Isa 35:8). [Acesse Série Sobre a Santidade]

A Ilusão dos Cristãos Mornos

Este texto não é sobre nenhum destes dois grupos, mas sim sobre um terceiro. Este estudo é sobre um grupo que imagina ser possível seguir a Jesus sem ter que aceitar a parte que não gosta. Aqueles que fazem parte deste grupo racionalizam, argumentando que quando Jesus diz que temos que perder a nossa própria vida para segui-lo (Luc 14:26), Ele se refere ao coração e não ao mundo físico. Usam a palavra “coração” porque assim transformam os claros mandamentos de Jesus em algo poético, de interpretação individual, como se Deus aceitasse qualquer tipo de resposta ao seu contínuo chamado de separação do mundo e completa dedicação à sua obra, conforme nos foi exemplificado pelo próprio Jesus: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra” (João 4:34). Dizem coisas como: “Isso não tem nada a ver. Deus conhece o meu coração!” E assim seguem, ignorando as palavras de Jesus, abusando da graça, e vivendo uma vida às vezes mais mundana do que a de muitos mundanos.

Os Cristão Mornos são as Árvores sem Frutos que Serão Cortadas

Queridos, espero que vocês não estejam neste grupo, pois estes são os mornos; nem frios nem quentes, os quais muito em breve serão vomitados pelo Senhor (Apo 3:15). São estes que naquele dia insistirão com Jesus que faziam parte do seu povo, apesar de não terem produzido frutos de arrependimento e santificação (Mat 3:8); foram árvores inúteis e apenas ocuparam terreno. Serão assim cortadas e lançadas ao fogo: “Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mat 7:19-21).

Amados, imploro que não sejam pessoas insensatas, imaginando que o chamado de Jesus para uma vida dedicada a Ele não tem mais valor. Nada mudou. Suas palavras são tão válidas hoje como foram quando ainda as falava. Vocês não podem possuir este mundo presente e ao mesmo tempo herdar a vida eterna: “Se alguém quiser me acompanhar, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará” (Mar 8:34-35). Mais claro que isso é impossível. Não existe salvação para os amantes desta terra. Espero te ver no céu.

Por Markus DaSilva, Th.D.

 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Síndrome do pensamento acelerado.

 

 




Dr. Augusto Cury é um aclamado escritor na área da auto ajuda, tem mais 30 milhões de livros vendidos, e é o autor mais lido da última década no Brasil. Ele é idealizador da Teoria da Inteligência Multifocal, que analisa o processo de construção dos pensamentos e desenvolveu estudos sobre uma enfermidade que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro que ele chama de “Síndrome do pensamento acelerado” (SPA).

Para ele o mal deste século é a ansiedade decorrente do fato dos seres humanos estarem constantemente preocupados com as exigências do mercado e com os desafios que  vida impõe, fazendo com que a mente viva numa constante agitação, e não encontre descanso. O estresse é sempre decorrente de exigências excessivas que o organismo humano e os impulsos sensoriais não conseguem administrar nem elaborar, e isto tem atingido milhões de pessoas. 

Os sintomas do SPA são: Acordar cansado, dores de cabeça, dores musculares, irritabilidade, incapacidade de relaxar, descansar, dificuldade de lidar com pessoas lentas, sofrimento por antecipação e déficit de esquecimento ou déficit de memória. O pensamento acelerado faz com que as pessoas, mesmo em tempos de férias, continuem agitadas e inquietas. A mente, as emoções, a alma não entra em repouso.

O excesso de informação seria uma das causas. No passado, o número de informações dobrava a cada duzentos anos, hoje dobra a cada ano. O excesso de atividade e de trabalho intelectual aliado ao excesso de preocupação tem gerado esta síndrome. Muitas equivocadamente estão pensando que a vida é uma corrida de 100 metros rasos, quando na verdade trata-se de uma maratona. Não faz sentido correr demais na largada, se não conseguiremos cumprir a jornada. 

Esta síndrome não permite que as pessoas se coloquem no lugar do outro nem considerem a importância de terem qualidade de vida. Os mais aclamados profissionais e executivos, com melhores salários estão desenvolvendo esta síndrome cada vez mais cedo. Eles são ótimos para empresas e sistemas, mas são carrascos de si mesmos. 

Cury propõe duas abordagens simples:

A. Contemplar o belo, fazer das pequenas coisas um espetáculo aos olhos;

B. Não trair o essencial. Não trair sua cama, seu final de semana, o tempo com as pessoas mais caras e nem trair o tempo consigo mesmo.

Gostaria de sugerir outras coisas para desacelerar: 

-Fazer caminhadas ao ar livre

-Encontrar amigos

-Sair de férias

-Ter tempo para aprofundar sua fé e espiritualidade, são pontos essenciais. 

Quando Jesus viu seus discípulos estressados com a súbita morte de João Batista, ele os convidou para algum bem simples: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto” (Mc 6.31). 

O convite de Jesus é extremamente válido para nossos tempos agitados.

Rev Samuel Vieira

Não ouvir!!!



Não ouvir ou não dar ouvidos pode ser sabedoria. A Bíblia relata que quando Saul assumiu o reinado e tornou-se o primeiro rei em Israel, logo surgiram oponentes questionando sua competência e liderança. Então, a atitude dele foi a seguinte: “Porém Saul se fez de surdo” (1 Sm 10:27).

John Kennedy, o carismático presidente americano assassinado em Dallas, disse, certa vez: “Sempre se ouvirão vozes em discordância expressando oposição sem alternativa, descobrindo o errado e nunca o certo, encontrando escuridão em toda parte e procurando exercer influência sem aceitar responsabilidade.”  Não dê atenção demais às criticas e questionamentos, não vale a pena se consumir com gente eternamente crítica e insatisfeita.  De vez em quando precisamos afirmar: “Eu não sei do que você está falando ou até mesmo fingir-se de surdo com fez Saul para a nossa sobrevivência em um mundo cheio de pessoas insatisfeitas.   

Pense nisso!

sábado, 30 de outubro de 2021

Rm 1 Cuidado! Antes de Ler a Carta aos Romanos.

 


Introdução 

Se você deseja estudar a Carta de Paulo aos Romanos, é bom se prevenir. Mais do que qualquer outro texto das Escrituras Sagradas, seu conteúdo transformou a vida de muitos homens na história da igreja, trazendo grande impacto e profunda transformação nas gerações seguintes.
Se você deseja continuar, faça-o! Mas lembre-se, seu conteúdo é “perigosamente maravilhoso!”
Muitos líderes da igreja influentes, em diferentes séculos, dão testemunho do impacto produzido pela Epístola aos Romanos em suas vidas, tendo sido ela, em diversos casos, o instrumento para sua conversão.

Agostinho de Hipona (354-430)

No verão do ano 386, Santo Agostinho, então professor de retórica em Milão, ainda não convertido, Ali adquiriu o costume de ouvir, as pregações do Bispo Ambrósio. A mensagem atingia cada vez mais o seu coração. Começou a  apreciar a Bíblia e a entender que todo o Antigo Testamento é um caminho rumo a Jesus Cristo. Começou, então, a ler a Bíblia e sobretudo as Cartas de São Paulo e narra que, no tormento das suas reflexões, tendo-se retirado num jardim, ouviu uma voz infantil repetindo uma cantiga que nunca tinha ouvido: tolle, lege, tolle, lege, "toma e lê, toma e lê" (Confissões VIII, 12).
Ao tomar o manuscrito que estava ao lado do amigo, seus olhos caíram nestas palavras de Paulo: “A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências” (Rm 13.13,14).
Entendeu que esta palavra se dirigia a ele, e assim ele registra:

“Não li mais nada, e não precisei de coisa alguma. Instantaneamente, ao terminar a sentença uma clara luz inundou meu coração e todas as trevas da dúvida se desvaneceram” (Confissões VIII.29). Sentiu assim dissipar-se as trevas da dúvida e encontrou-se enfim livre para se doar totalmente a Cristo: "Tinhas convertido a ti o meu ser" (Confissões, VIII, 12).


Martinho Lutero (1483-1546)

Em Novembro de 1515, este monge agostiniano e professor de teologia, começou a expor a Epístola de Paulo aos romanos aos seus alunos, até setembro de 1516. Conforme preparava as lições, apreciava cada vez mais a doutrina da justificação pela fé: “Ansiava muito por compreender a Epístola de Paulo aos Romanos, e nada me impedia o caminho, senão a expressão: ‘a justiça de Deus’, por que a entendia como se referindo àquela justiça pela qual Deus é justo e age com justiça quando pune os injustos... Noite e dia refleti até que... captei a verdade de que a justiça de Deus é aquela justiça pela qual, mediante a graça e a pura misericórdia, Ele nos justifica pela fé. Daí por diante, senti-me renascer e atravessar os portais abertos do paraíso. Toda a Escritura ganhou novo significado e, ao passo que antes ‘a justiça de Deus’ me enchia de ódio, agora se me tornava indizivelmente bela e me enchia de maior amor. Esta passagem veio a ser para mim uma porta para o céu.” (Luther’s Work, edição de Weimar, vol. 54)

Esta Epístola é o mais importante documento do Novo Testamento, o evangelho na sua expressão mais pura”. Aos olhos de numerosos historiadores, o comentário à Epístola aos Romanos por Lutero, em 1516, foi o verdadeiro ponto de partida da Reforma. O momento decisivo na vida de Lutero foi a descoberta que a justiça de Deus, não como julgamento e exigências, mas dada por Deus através de sua graça. A justiça de Deus revelada em Cristo. As consequências desta nova compreensão tiveram grande repercussão na história.

Philip Melanchthon (1497-1560).

Foi um dos maiores colaboradores de Lutero e redigiu a “Confissão de Augsburgo” (1530). Em 1521 concluiu sua famosa obra Loci Communes (“Tópicos comuns” da Teologia), que é de fato uma explicação da Epístola aos Romanos que na sua visão fornecia o sumário da doutrina cristã. A dogmática luterana primitiva confundiu-se, na realidade, com uma dogmática da Epístola aos Romanos. Melanchton converteu-se no principal líder do luteranismo após a morte de Lutero e é considerado o primeiro sistemático da Reforma.

William Tyndale (1484-1536)

Este pastor protestante e acadêmico inglês, mestre em Artes na Universidade de Oxford foi profundamente influenciado pela carta de Paulo ao Romanos. Traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês. Seu objetivo era fazer o Novo Testamento um livro tal que "todo menino de arado" pudesse lê-lo e se tornasse mais conhecedor das Escrituras que o próprio clero. Apesar de numerosas traduções para inglês, parciais ou completas, terem sido feitas a partir do século VII, a Bíblia de Tyndale foi a primeira a beneficiar da imprensa, o que permitiu uma ampla distribuição.
Tyndale estudou as escrituras e começou a defender as teses da Reforma Protestante, muitas das quais eram consideradas heréticas, primeiro pela Igreja Católica que o perseguira e depois pela Igreja Anglicana. As traduções de Tyndale foram banidas pelas autoridades e o próprio Tyndale foi queimado na fogueira em 1536 em Vilvoorde (10Km a nordeste de Bruxelas), na atual Bélgica, sob a instigação de agentes de Henrique VIII e a Igreja Anglicana. Suas últimas palavras foram, "Senhor, abre os olhos ao rei da Inglaterra", o que de fato aconteceu anos depois.
Ele fez a seguinte declaração sobre Romanos:

“Visto que esta epístola é a principal e a mais excelente parte do Novo Testamento, e o mais puro Euangelion, quer dizer, boas novas e aquilo que chamamos de Evangelho, como também luz e caminho, que penetra o conjunto da Escritura, creio que convém que todo cristão não somente a conheça de cor, mas também se exercite nela sempre e sem cessar, como se fosse o pão cotidiano da alma. Na verdade, ninguém pode lê-la demasiadas vezes nem estudá-la suficientemente bem. Sim, pois, quanto mais é estudada, mais fácil fica; quanto mais é meditada, mais agradável se torna, e quanto mais profundamente é pesquisada, mais coisas preciosas se encontram nela, tão grande é o tesouro de bens espirituais que nela jaz oculto”.

João Calvino (1509-1564)

Teólogo francês, influenciou profundamente a Reforma Protestante. Foi inicialmente um humanista, e depois do seu afastamento da Igreja Católica, começou a ser visto, como uma das vozes mais influentes do movimento protestante. Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça. Para muitos historiadores, ele foi para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã.
Calvino também foi profundamente influenciado pela Carta de Paulo aos Romanos, em 1539 escreveu:

“Se... conseguirmos atingir uma genuína compreensão desta Epístola, teremos aberto uma amplissíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros das Escrituras”.

Foi explicando a Epístola aos Romanos, seu primeiro comentário bíblico (publicado somente em 1540), que Calvino preparou a segunda edição das Institutas da religião cristã (1539), formulando as principais teses da doutrina calvinista”.

John Wesley (1703-1791)

O coração de Wesley foi tomado por um fogo ao ouvir um estudo sobre a Carta aos Romanos. No dia 24 Maio de 1738, Wesley visitou a sociedade moraviana perto da Rua Aldersgate.  Ali experimentou a sua conversão, que ele descreveu no seu diário:

“Ao entardecer eu fui sem grande vontade a uma sociedade na Rua de Aldersgate, onde alguém estava a ler o prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos. Cerca de um quarto para as nove, enquanto ele estava a descrever a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, eu senti o meu coração estranhamente aquecido. Eu senti que confiava em Cristo, somente em Cristo para a salvação; e uma certeza foi-me dada que Ele havia retirado os meus pecados, mesmo os meus, e me havia salva da lei do pecado e da morte.” (Works [1872], vol. 1)

Este momento crítico da vida de João Wesley, para muitos historiadores, foi o acontecimento que mais que todos os outros, deu início ao Avivamento Evangélico do Século XVIII.

Karl Barth – (1886-1968)

Teólogo reformado suíço considerado por alguns como o maior teólogo protestante do século 20. Sua influência expandiu-se muito além do domínio acadêmico, chegando a incorporar a cultura,  o que levou a Barth ser apresentado na capa da revista TIME em 20 de abril de 1962.
Barth rejeitou sua formação na teologia liberal predominante típica do protestantismo europeu do século XIX, bem como as tendências mais conservadoras do cristianismo, assumindo  a teologia dialética chamada posteriormente de neo-ortodoxia - um termo que rejeitou enfaticamente.
Barth enfatizou a soberania de Deus, particularmente através da reinterpretação da doutrina calvinista das eleições, do pecado da humanidade e da "distinção qualitativa infinita entre Deus e a humanidade". Suas obras mais famosas são a sua Epístola aos Romanos, que marcou um recorte claro de seu pensamento anterior, e seu enorme trabalho de treze volumes, a Igreja Dogmática, uma das maiores obras de teologia sistemática já escritas. O Papa Pio XII disse que Karl Barth foi “o melhor teólogo desde Tomás de Aquino”.
Em Agosto de 1918, publicou sua exposição da Epístola aos Romanos, e logo no prefácio escreveu:

“O leitor perceberá por si mesmo que este comentário foi escrito comum jubiloso sentimento de descoberta. A poderosa voz de Paulo era nova para mim e se o era para mim, certamente o será para muitos. Entretanto, agora que terminei minha obra, vejo que resta muita coisa que ainda ouvi”.

Alguém teceu a seguinte comentário: “Sua análise caiu como uma granada no pátio de recreio dos teólogos”.

Charles E. B. Cranfield (1915-2015)

Considerados um dos maiores professores de NT em todo mundo, serviu como Capelão do exército na Segunda Guerra Mundial, como pastor para prisioneiros de guerra antes de ensinar por 30 anos como professor emérito de teologia da Universidade de Durham, no Reino Unido.
É autor do famoso Comentário de Romanos “A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans”, e “On Romans and Other New Testament Essays” cujos dois volumes integram a impressionante série mundialmente conhecida como International Critical Commentary (Icc, com 52 volumes), da qual é um dos editores.
Em 1985 fez a seguinte declaração:

“Tendo-me empenhado muito seriamente com a epístola aos Romanos durante mais de um quarto de século, ainda a encontro sempre nova e não posso lê-la sem prazer. Minha mais séria esperança é que cada vez mais pessoas se comprometam seriamente com ela, e, ouvindo o que ela tem a dizer, encontrem no Deus fiel, compassivo e Todo-Poderoso, como que ela se preocupa, alegria e esperança, bem como força até nestes sombrios, ameaçadores e – para muitos – dias carregados de angustia, através dos quais temos que viver”.


John R. W. Stott (1921-2011)

Pastor e teólogo anglicano britânico, conhecido como um dos grandes nomes mundiais evangélicos. Foi um dos principais autores do pacto de Lausanne, em 1974. Em 2005, a revista Time o colocou entre as 100 pessoas mais influentes do mundo.
Durante muitos anos foi reitor da Igreja anglicana de All Souls, em Londres. Em  1994 escreveu um dos seus grandes trabalhos acadêmicos que foi o comentário da  Carta de Paulo aos Romanos. Ele afirma o seguinte sobre esta carta: “Ela é a mais completa, a mais pura e a mais grandiosa declaração do evangelho encontrada no Novo Testamento”.

Conclusão:
F. F. Bruce afirmou:

“Não é possível predizer o que pode acontecer quando as pessoas começam a estudar a Epístola aos Romanos. O que sucedeu com Agostinho, Lutero, Wesley e Barth acionou grandes movimentos espirituais que deixaram sua marca na história do mundo. Mas coisas parecidas com essas aconteceram muito mais vezes com pessoas bem comuns, quando as palavras desta epístola penetraram nelas com poder. Assim, aqueles que a lerem até esse ponto, estejam preparados para as consequências de prosseguirem na leitura. O leitor está avisado!”

Do ponto de vista doutrinário, é uma das mais ricas e a mais notavelmente estruturada. Calvino afirma “Esta epístola toda inteira é disposta metodicamente...  entre as muitas e notáveis virtudes, a epístola possui uma em particular, a qual nunca é suficientemente apreciada, a saber: se porventura conseguirmos atingir a genuína compreensão desta epístola, teremos aberto uma amplíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros da escritura”.

Historicamente nenhuma carta exerceu igual influência; um teólogo protestante chegou a dizer que a história da Igreja se confundia com a da interpretação desta epístola. Não há como negar que este texto sempre ocupou um lugar privilegiado na história da exegese.

Sua interpretação desempenhou papel decisivo na vida destes grandes homens, conforme descrevemos acima, e particularmente em dois momentos cruciais da história da Igreja: No século V, quando Pelágio criou uma das grandes controvérsias sobre a gratuidade da salvação e no século XVI, quando se redescobriu a doutrina da Justificação pela graça.

O estudo desta carta é vital para a saúde teológica da igreja de Cristo. Todos os reformadores da igreja viam Romanos como sendo a chave divina para o entendimento de toda a Escritura.
Então, caso você decida estudar esta carta, esteja alerta, como nos adverte F. F. Bruce.

Rev Samuel Vieira

NÃO ULTRAPASSE OS LIMITES QUE DEUS LHE DEU

 

1 Sm 13

            Alguns anos atrás eu subi com um sofá dezesseis andares de um edifício. Naquela ocasião eu e minha família estávamos mudando de residência. O sofá não entrava dentro do elevador, e não tivemos escolha, tínhamos que subir dezesseis andares ou desmonta-lo. Você já sabe qual foi à conclusão. Naquele dia descobri que meu corpo não estava pronto para suportar aquela subida, quando coloquei o sofá no chão, ouvi um estralo na minha costa, naquele dia tudo continuou normal, ajudei depois ainda a subir um freezer para o andar de cima da cobertura. No outro dia não consegui levantar da cama, arrastei meu corpo pelo chão do quarto até chegar na maçaneta da porta, onde me apóie para me levantar. A partir daquele dia tenho convivido com uma hérnia de disco. Por isso quero dizer “não ultrapasse os limites que Deus lhe deu” sejam eles físicos ou espirituais.


Saul foi o primeiro rei de Israel e estava encurralado pelos filisteus; seus homens haviam se escondido entre cavernas, túmulos e penhascos para não serem vistos pelos inimigos. Samuel havia pedido para Saul espera-lo sete dias e então ele viria para oferecer a Deus holocaustos em favor de todo o povo que estava na guerra. Passaram-se os sete dias e Samuel não havia chegado, Saul resolveu então fazer a vez do sacerdote diante o fato de que seus homens haviam se cansado de esperar por Samuel.
Saul havia sido ungido por Deus para ser rei, e não para o ministério sacerdotal. Saul pecou quando fez o serviço de Samuel e não o esperou. Então percebemos aqui dois erros de Saul: primeiro não teve paciência para esperar Samuel; segundo fez algo que Deus não lhe deu autoridade para fazer. O segundo erro de Saul foi conseqüência em parte do primeiro.
Alguns membros de nossas igrejas vivem cometendo estes dois pecados.
Muitos têm pecado por causa da falta de paciência. Esta falta de paciência os leva a arrumarem confusão no transito, em filas de banco, restaurante, às vezes os levam a falarem palavras torpes ou baterem em seus filhos com ira ao invés de faze-lo com amor.
A falta de paciência demonstra a falta de um dos frutos do Espírito: longanimidade. Devemos buscar este fruto para nossa vida. Muitas decisões podem ser mais bem tomadas quando temos longanimidade.
Alguns têm cometido o segundo pecado de Saul, não só não fazem o que Deus não os outorgou a fazer como vivem cobiçando os cargos ou dons dos outros irmãos (Ex 20:17).
Precisamos compreender que Deus nos deu dons diferentes e nos colocou em posições diferentes dentro do corpo (Ef 4:11). Não devemos querer ser pé quando somos a mão, não devemos querer ser o olho, se Deus nos colocou como ouvido (1 Co 12:20-21). Devemos respeitar o dom de cada um e ser submisso a autoridade que Deus deu a cada um dentro do corpo.
Não deixemos que nossa falta de paciência para com aqueles que ainda não estão tão aptos dentro do corpo venha nos levar a pecar contra o corpo. Precisamos fazer com que todo o corpo trabalhe e não querer trabalhar por todo o corpo; precisamos esperar e se necessário ajudar os demais membros que necessitem de apoio a desenvolverem seus dons e não querer tomar o seu lugar no corpo.

A Minhoca





Conta uma velha lenda que há muitos e muitos anos, em uma vasta planície do Quênia, próximo ao coração da África, os animais se reuniram em uma clareira junto ao Rio Impumelelo, para descobrirem qual deles era o mais importante dentre todos. Era uma escolha difícil. O mais importante não seria apenas o mais forte, o mais formoso ou o mais esperto, mas aquele que, por sua tarefa natural, fosse imprescindível para todos os outros, e que sobre os seus ombros e o desempenho de seu trabalho pesasse o futuro de toda a bicharada.
Assim começou o grande concurso. Os animais mais formosos foram logo tomando à frente dos outros, para desfilarem diante do júri. Da mesma forma os mais robustos abriram espaços entre a platéia e se colocaram em posição de destaque. Os pequenos e feios, coitados, foram tomando os lugares de trás. No mundo animal, quando se trata de força e coragem, vem-nos logo à mente o leão. O búfalo, o rinoceronte e o elefante também são muito fortes. Se, no entanto, falamos de beleza, a águia é a rainha; a girafa é muito elegante; a gazela é distintamente formosa e não é à toa que os homens costumam chamar as mulheres excepcionalmente belas de panteras. Em inteligência, a abelha é uma matemática quando constrói seus favos; o joão-de-barro é engenheiro construtor e o papagaio imita até a voz do homem!

O concurso prosseguia e a decisão era difícil, conforme já frisamos, pois que a beleza, a força e a esperteza não são necessariamente importantes para o reino animal, ao contrário do que se possa supor precipitadamente. "O concurso pretende estabelecer dentre todos os animais aquele a quem a mãe natureza confiou uma tarefa verdadeiramente extraordinária, importante para todo o reino animal", disse um dos jurados, esclarecendo o público e os participantes. Dito isto, o leão, que tanto rugia para chamar a atenção dos demais, ficou em silêncio, tanto quanto os demais que haviam se aproximado pretensiosamente do palanque. Foi assim que nossa amiga dona Minhoca, que havia se colocado entre os últimos dos últimos, teve o seu nome lembrado (e com muita justiça, diga-se de passagem). Embora seja ela um dos mais desprezados seres, sem nenhuma beleza aparente, foi a ela que a mãe natureza confiou uma missão absolutamente fundamental para todo o reino: é a responsável por cavar inúmeros túneis na terra, os quais levam o ar atmosférico e minerais até as raízes de todas as plantas, fazendo-as crescerem fortes e saudáveis. Ainda que D. Minhoca não tenha ouvidos, olhos ou nariz, e apenas uma boca, sua importância é infinitamente superior à força do leão, à beleza da águia ou à inteligência da abelha.
Veja, caro leitor, como nem sempre os critérios humanos de julgamento dão importância ao que realmente é importante. Não foi assim que desprezaram ao nosso Senhor Jesus? Está escrito na Bíblia: "...não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca." (Isaías 53.2-7). Foi o próprio Senhor Jesus quem nos ensinou, dizendo: "Aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande." (Lucas 9.49).

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Troque a dor por lembranças.

 


No dia 12 de Agosto de 2021, faleceu de Covid-19, o ícone da teledramaturgia brasileira Tarcísio Meira trazendo comoção pública e familiar. Mocita Fagundes, sua nora, fez uma belíssima declaração publicada em muitos jornais: “O luto dói, o luto exaure a gente. Mas o luto também “te exige” um… recomeçar.  O exercício é trocar a dor pelas lembranças lindas.”

Que gigantesco desafio é este para pessoas que passam por grandes perdas. O problema é que, nem sempre a dor é facilmente elaborada, e assim transformamos a dor em mera dor. Ela não traz reflexão nem maturidade, e nos leva a um movimento fetal de introversão, não permitindo que saiamos do seu macabro ciclo. Quando a dor se torna tão onipotente, é impossível superá-la, e isto nos leva a uma paralisia pessoal. A dor prevalece e se torna senhora...dominando todas as áreas da vida.

Muitos conseguem transformar a dor em lembranças lindas. A saudade profunda se torna algo encorajador, levando a um aprofundamento e trazendo vida, generosidade, solidariedade, nos deixando mais humanos. Em alguns casos, um senso de enorme gratidão por ter sido abençoado de participar de uma vida que deixou tantas lembranças e se foi, na maioria das vezes, bem mais cedo que queríamos...

Sempre me surpreendi com as palavras de Cristo na hora em que ele distribuía o pão e vinho aos seus discípulos. “Tomando o pão, deu graças e repartiu dizendo: “Este é o meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Espantoso! Como dar graças a Deus por algo que aponta para seu sofrimento, para seu martírio e para a cruz? Aliás, Em essência, a palavra “Eucaristia” significa “ação de graças”, não é isto surpreendente?

O grande segredo é que Jesus não olhava a dor como mera dor. Ele via a dor como algo mais profundo. Sua dor apontava para uma oferenda de si mesmo, para algo redentivo. Sua morte trouxe vida. 

Tenho muito medo de fazer reflexão em cima da dor do outro, mas ao mesmo tempo, não posso me privar da possibilidade de ajudar aqueles que sofrem com uma reflexão que encoraje e ajude a dura caminhada no luto e nas doloridas perdas. Se pudermos transformar a dor em boas lembranças, o luto em algo produtivo, certamente isto será muito produtivo e cresceremos espiritualmente.

“Não é só pela morte que temos que sofrer. É pela vida. Pelas perdas. Pelas mudanças. Quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive. O luto vem em seu próprio tempo para todos. À sua própria maneira. O melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. E deixar pra lá quando podemos.” (Grey’s Anatomy)

Rev Samuel Vieira. 

O Segundo tempo

 



Os torcedores de futebol conhecem bem esta expressão. O jogo de futebol é dividido em duas etapas, e muitas vezes, o resultado do primeiro tempo é um desastre, mas subitamente, surge um fato novo, um gol inesperado, a expulsão de um jogador do time adversário, ou a mudança no ânimo dos jogadores, e o segundo tempo torna-se surpreendente.

Bob Buford, um bilionário texano, dono de uma grande rede de telecomunicações americana, escreveu o livro “A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida”. Para ele, a vida de um ser humano divide-se em duas etapas. Na primeira, a prioridade é a formação acadêmica, a luta pelo emprego, para se encaixar no mercado de trabalho, casar, criar filhos, e se firmar responsavelmente e com solidez na vida.

Nesta fase, ele luta para alcançar o sucesso, a realização profissional e o sustento de sua família. As pessoas são resistentes, agressivas nas suas ambições, aguerridas e quase incansáveis. As oportunidades estão diante dele que as agarra com tenacidade.

No segundo tempo da vida, ele descobre que suas conquistas pessoais, sucesso, não são suficientes para dar sentido, nem trazer plenitude à vida. Ser bem sucedido e encontrar significado são duas coisas completamente diferentes. A existência sem sentido gera frustração, angústia e vazio. 

Quase sempre nos vemos em um ou outro destes momentos da vida. Relutante ou corajosamente enfrentamos desafios. Muitas vezes entramos para o “vestiário” antes do segundo tempo, com um senso enorme de fracasso e derrota, mas podemos ser surpreendidos pelo desenrolar do novo tempo. 

Uma famosa loja de casacos de Londres fez uma afirmação magistral: “Estamos há 127 anos no mercado, já vimos de tudo. Tivemos períodos de grande sucesso, mal conseguindo atender os produtos que oferecemos, ganhamos muito dinheiro, expandimos a fábrica, fizemos muitas contratações. Também já passamos por duas guerras mundiais, nossa loja foi incendiada, fomos assaltados duas vezes, passamos pela Grande Depressão, já decretamos falência mas ainda assim continuamos no mercado. Você deve estar perguntando porquê? A razão é simples: Não queremos perder o próximo capítulo.”

O conhecido pensador cristãos G.K. Chesterton afirma: “Fé é aquilo capaz de sobreviver a um estado de ânimo.” Então, quando estiver desencorajado considere o seguinte: Ainda temos todo um segundo tempo de jogo, não é hora de desanimar.

Rev Samuel Vieira.

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O dia da Reforma e o sacerdócio de todos os crentes.

 


 



Para muitos estudiosos da Reforma Protestante do século XVI, as ênfases centrais desse movimento foram cinco: só Cristo (solus Christus), só a Bíblia (sola Scriptura), só a graça (sola gratia), só a fé (sola fide) e só a glória de Deus (soli Deo gloria). Todavia, há boa base para afirmar que, além dessas ênfases fundamentais, os reformadores também reservaram um lugar de destaque para uma doutrina que (por razões que daremos mais adiante) poderia ser considerada a Cinderela tanto da Reforma clássica como do movimento evangélico no tempo presente. Refiro-me à doutrina do sacerdócio de todos os crentes, também chamado de sacerdócio universal ou comum.

Quando Martinho Lutero lançou seu desafio de reforma da Igreja Católica Romana, ele não o fez animado por um espírito de inovação ou rebeldia, mas movido por convicções enraizadas na Palavra de Deus. Na doutrina da justificação pela fé ele encontrou a base para a solidariedade inalterável dos cristãos entre si, que tornava impossível a divisão tradicional entre “eclesiásticos” (o clero) e “seculares” (os leigos). Parafraseando Gálatas 3.28: “Não existe nem sacerdote nem leigo, pároco nem vigário, ricos nem pobres, beneditinos, espiritanos, freis menores nem agostinianos, porque não está em questão ter este ou aquele estado, grau ou ordem.” Em seus memoráveis tratados de 1520, o famoso reformador elabora esse conceito com uma orientação predominantemente cristológica. Ele alega que Cristo é nosso irmão maior, e que todos os cristãos participam da glória e da dignidade que correspondem a essa relação como reis e sacerdotes com Cristo. Todo cristão é sacerdote pelo simples fato de ser cristão. Ele escreve:

Um sapateiro, um ferreiro ou um lavrador têm cada um a função e a obra de seu ofício. Não obstante, todos são igualmente sacerdotes e bispos ordenados, cada um com sua função ou obra útil para o serviço do outro, de modo que as várias obras estão voltadas para a comunidade, para favorecer o corpo e a alma, assim como os membros do corpo físico servem todos uns aos outros.

A conclusão é que todo cristão tem um “serviço sacrificial”, que não é a missa (já que a missa não inclui o oferecimento de um sacrifício), mas um ofício por meio do qual ele expressa seu louvor e obediência a Deus. O cristão tem, além disso, um ministério de intercessão e o “poder de apontar e julgar o que é correto e incorreto na fé”. Lutero não nega o papel que desempenha o ministério de administração e ensino dentro da igreja. Contudo, ele afirma que a única autoridade que os pastores e mestres têm é a que deriva da Palavra de Deus e que, em consequência, todo cristão tem a capacidade de julgar segundo as Escrituras e de rejeitar todo ensino que contradiz o que as Escrituras ensinam. Ele argumenta:

Se Deus falou contra um profeta por meio de um burro, por que não pode falar contra o papa por meio de um homem bom? Paulo repreendeu Pedro por estar equivocado. Disso se conclui que cabe a todo cristão preocupar-se com a fé, entendê-la e defendê-la, e condenar todos os erros.

A mesma doutrina do sacerdócio de todos os crentes tem lugar na obra monumental de João Calvino, as Institutas da religião cristã, e em outras obras dos reformadores. A Reforma não foi apenas a redescoberta de que “o justo viverá pela fé”, que resume um aspecto central do ensino evangélico sobre a salvação, relacionado com as cinco ênfases da Reforma mencionadas acima. Ela foi também um retorno ao início de uma eclesiologia enraizada na obra de Jesus Cristo, que, por amor, “fez de nós um reino de sacerdotes a fim de servirmos ao sei Deus e Pai” (Ap 1.6).

Desse ponto de vista, não se faz justiça aos reformadores quando se entende que sua motivação foi colocar “por cima da igreja e sua tradição, sua interpretação pessoal e subjetiva das Escrituras”, como afirma Hans Küng. A intenção que motivou os reformadores foi, antes, colocar a igreja sob o juízo da Palavra de Deus, chamá-la de volta das tradições humanas para a liberdade do evangelho.

Cabe acrescentar, no entanto, que a Reforma clássica ficou aquém das expectativas no que tange às consequências práticas do sacerdócio de todos os crentes para a vida e missão da igreja. Como John Yoder assinalou, “a maior parte da reflexão protestante sobre o sacerdócio de todos os crentes não resultou em estruturas para implementar a visão apostólica de que cada membro da igreja tem seu dom ministerial”. Em termos concretos, nas igrejas protestantes em geral prevaleceu a dicotomia entre os clérigos que exercem seu dom ministerial e os leigos que nem conhecem seus dons ministeriais nem se preocupam em descobri-los e exercê-los para o bem comum, em conformidade com o ensino bíblico (ver especialmente 1Co 12.1-31 e Rm 12.3-8). É a expressão eclesiástica da dicotomia entre o sagrado e o secular que leva a uma distorção lamentável do cristianismo, especialmente no que diz respeito à ética.

No contexto latino-americano, o movimento das comunidades eclesiais de base foi uma tentativa valiosa de recuperar uma eclesiologia enraizada no Novo Testamento, uma eclesiologia que superou a dicotomia entre clero e leigos e recuperou a dimensão essencialmente comunitária da igreja. Leonardo Boff entendeu essa mudança como uma eclesiogênese, um novo nascimento da igreja. Sem voltas nem rodeios, ele afirmou que “as comunidades de base reinventam a igreja”. Elas a reinventam, segundo o famoso teólogo, não como “expansão do sistema eclesiástico vigente, assentado sobre o eixo sacramental e clerical”, mas como “uma forma diferente de ser igreja, baseada sobre o eixo da Palavra e do leigo”, ou seja, sobre o mesmo eixo que os reformadores propuseram como base para o sacerdócio de todos os crentes. Não é de surpreender, portanto, que várias das características da igreja, segundo a “nova eclesiologia” que Boff descreve, coincidam em termos gerais com as da igreja com que sonhavam os reformadores:

- Igreja – povo de Deus;

- Igreja em que os leigos são “verdadeiros criadores da realidade eclesial, do testemunho comunitário, da organização e da responsabilidade missionária”;

- Igreja como “koinonia de poder”, “contrária ao princípio de monopolização do poder nas mãos de um corpo de especialistas, por cima e por fora da comunidade”;

- Igreja em que “toda a comunidade é ministerial, não só alguns dos seus membros; dessa forma supera-se a rigidez do trabalho religioso: hierarquia/direção, laicato/execução”;

- Igreja de diáspora que se faz presente na sociedade civil, “disseminada dentro do tecido social”, gerando “uma mística de ajuda mútua”;

- Igreja libertadora, “porta de entrada (do ponto de vista do povo) para a política como compromisso e prática em busca do bem comum e da justiça social”;

- Igreja que “prolonga a grande tradição”, de Jesus, dos apóstolos e das primeiras comunidades cristãs, que tem como eixo articulador “a Palavra de Deus ouvida e lida no contexto dos seus problemas, a execução das tarefas comunitárias, a ajuda mútua e as celebrações”;

- Igreja que “constitui a unidade a partir da missão libertadora”, não a partir de um governo hierárquico, um “poder centralizador [...] que chega a expropriar o povo cristão de todas as formas de participação decisória”;

- Igreja com uma nova compreensão da sua universalidade, universalidade esta que leva a sério as causas universais, como “a libertação econômica, social e política que abre a perspectiva para uma libertação plena no reino de Deus”;

- Igreja “toda ela apostólica”, já que “todo enviado (e todo batizado recebe a tarefa de anunciar e testemunhar a novidade de Deus em Jesus Cristo) é um apóstolo e continua o envio dos primeiros doze apóstolos”.

Lamentavelmente, o próprio Vaticano se encarregou de criar obstáculos e, finalmente, de impedir o crescimento de um movimento que tinha o potencial de injetar vida nova na Igreja Católica Romana.

Cabe acrescentar, no entanto, que é igualmente lamentável o crescimento atual do clericalismo em círculos evangélicos na América Latina e em outras regiões do mundo, com o surgimento de pastores e apóstolos que monopolizam o poder e desconhecem a liderança de serviço. Quanta falta faz uma nova Reforma, que torne possível uma eclesiogênese evangélica que tenha como eixo a Palavra de Deus e o laicato, e reconheça em termos práticos a importância do sacerdócio de todos os crentes para a vida e missão da igreja!

Traduzido por Hans Udo Fuchs.

Jesus, o grande sumo sacerdote



Texto: Levítico 8.1-9; Hebreus 4.14-16

Com a graça de Deus identificaremos Jesus no livro de Levítico. O que torna mais fascinante é perceber o zelo do Senhor em atrelar o Antigo ao Novo Testamento. Jesus é conhecido como o bom pastor, o Supremo Pastor (João 10.11; 1 Pedro 5.4), Rei (Apocalipse 19.16), profeta (Deuteronômio 18.17-19, Lucas 13.33), Mediador (Hebreus 8.6), Salvador (Efésios 5.23), mas olharemos para ele como o Grande Sumo Sacerdote (Hebreus 4.14).

Os sacerdotes eram responsáveis pela intercessão a Deus em favor do povo ao oferecer os muitos sacrifícios que a lei requeria, fazendo a expiação pelos seus próprios pecados e pelos do povo. Entre os sacerdotes, um era escolhido como o sumo sacerdote, o qual entrava no Santo dos Santos, uma vez por ano, no dia da Expiação, para colocar o sangue do sacrifício sobre o Propiciatório purificando todo o tabernáculo (Levítico 16.32-33).


Através desses sacrifícios diários e anuais, os pecados do povo eram perdoados diante de Deus que os santificava quanto à purificação da carne (Hebreus 9.13). Quando a lei foi dada no Monte Sinai, os levitas foram identificados como os servos do tabernáculo, com a família de Arão tornando-se sacerdotes.

É interessante perceber que o sumo sacerdote também fazia expiação pelos próprios pecados e pelos do povo, mostrando que mesmo nessa posição era homem pecador, passível de falhas quanto à lei do Senhor. Então nosso Deus manifestou ao mundo um sumo sacerdote que se diferenciou de todos os já existentes que, embora não pertencesse à família de Arão, foi divinamente ordenado “sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque”, Jesus Cristo(Hebreus 5.10).

Cristo, o Filho do Deus vivo, se diferenciou, e muito, na função sacerdotal, começando pela vida totalmente desvinculada do pecado, distante de toda obra praticada pela natureza decaída como podemos ler em Hebreus 7.26-27: “Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo”.

Logo, através da mediação sacerdotal de Jesus, totalmente aceitável a Deus, nós temos livre acesso na presença do Senhor, e mais, ele põe o seu povo em permanente relação com Deus; e como sacerdote, mantém-nos nela, segundo a perfeição do que ele é. Deus, conhecedor da fragilidade humana, num ato de pura justiça, enviou seu Filho único capaz de fazer, de uma vez para sempre, a expiação dos nossos pecados.

Além da perfeita justiça, manifestou também um amor maioral capaz de sacrificar seu Filho em favor de nós, portanto, Deus, na pessoa de Jesus, pagou o preço pelo pecado da humanidade.

Graças a esta maravilhosa obra, temos um sumo sacerdote que vive para interceder por nós, que se compadece das nossas fraquezas, que derrama graça sobre graça a cada dia. Conservemos, portanto, firme a nossa confissão (Hebreus 4.14-16).

Por toda essa diferenciação, Jesus tornou-se o Grande Sumo Sacerdote, nome que está acima de todo nome (Filipenses 2.9), o sacerdote da mais alta confiança do Pai, que nos proporcionou a segurança necessária para nos achegarmos a ele. Confiemos, portanto, em nossa aceitação por Deus, pois ele recebe a mediação de Cristo, o Grande Sumo Sacerdote.

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Pr. Marcelo Galhardo

OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA REFORMA DO SÉCULO XVI

 



A Reforma do século XVI foi uma volta às Escrituras Sagradas, um retorno à doutrina apostólica. Podemos sintetizar as ênfases da Reforma em cinco pontos distintos e axiais:
1. Sola Scriptura – Só as Escrituras – Os reformadores reafirmaram a supremacia das Escrituras sobre a tradição. A Bíblia é a única regra normativa de fé e conduta. Todas as doutrinas e ensinos forâneos ou estranhos às Escrituras devem ser rejeitados. A autoridade da igreja precisa estar debaixo da autoridade das Escrituras. Nenhum dogma ou experiência pode ser aceito se não tiver base na Palavra de Deus. Eis o que diz o artigo V da Confissão da Igreja Reformada da França, adotada em 1559: “Não é lícito aos homens, nem mesmo aos anjos, fazer, nas Santas Escrituras, qualquer acréscimo, diminuição ou mudança. Por conseguinte, nem a antiguidade, nem os costumes, nem a multidão, nem a sabedoria humana, nem os pensamentos, nem as sentenças, nem os editos, nem os decretos, nem os concílios, nem as visões, nem os milagres, devem contrapor-se a estas santas escrituras; mas, ao contrário, por elas é que todas as coisas se devem examinar, regular e reformar”.
2. Sola Fide – Só a Fé – Os reformadores sublinhavam também a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. A salvação não é mérito humano, conquistado pela prática de boas obras, mas é obra de Deus, recebida de graça pelo homem mediante a fé em Cristo. A salvação não resulta da somatória de fé mais obras. A salvação é dom de Deus, recebida exclusivamente pela fé.
3. Sola Gratia – Só a Graça – Os reformadores reafirmaram a doutrina apostólica de que somos salvos pela graça. A graça é um dom imerecido de Deus a nós. O salário do pecado é a morte. Merecemos o juízo, a condenação, o inferno, mas Deus, pela sua infinita misericórdia, suspende o castigo que merecíamos e nos dá a salvação, que não merecemos. Isso é graça!
4. Solo Christu – Só Cristo – Os reformadores rejeitaram peremptoriamente a autoridade do papa sobre a igreja. O papa usurpa o lugar da Trindade. Ele usurpa o lugar de Deus Pai ao ser chamado de Pai da Igreja (Mt 23:9). Ele usurpa o lugar de Deus Filho ao ser chamado Sumo Pontífice (Supremo Mediador). A Bíblia diz que há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (1 Tm 2:5). Ele ainda usurpa o lugar de Cristo quando ele se auto-intitula a pedra fundamental da igreja sobre a qual a igreja foi edificada. Cristo e não Pedro é a pedra fundamental da igreja (Mt 16:18; At 4:11-12; 1 Co 10:4; 1 Pe 2:6-8). Além do mais, o papa não é um sucessor de Pedro, visto que não existe sucessão apostólica. Finalmente, o papa usurpa o lugar do Espírito Santo, quando se autoproclama o Vigário de Cristo na terra (o substituo de Cristo na terra). Essa posição é exclusiva do Espírito Santo (Jo 14:16-17; 16:7-14). O Espírito é o outro consolador que veio ficar para sempre com a igreja. Assim, a reforma resgatou a verdade infalível da supremacia de Cristo como o nosso salvador, mediador e rei. Por causa da obra de Cristo todos os salvos são sacerdotes reais. O sacerdócio universal dos crentes é uma verdade consoladora. Todos temos livre acesso à presença de Deus, por meio de Cristo. Desta forma, cai por terra toda hierarquia espiritual no Reino de Deus.
Soli Deo Gloria – Só a Deus a Glória – Os reformadores reafirmaram a doutrina bíblica de que Deus não reparte sua glória com ninguém. Somente ele deve ser adorado e honrado. Toda glória que é dada ao homem é vanglória, é glória vazia.

Rev. Hernandes Dias Lopes.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Universo 25





O experimento "Universo 25" é um dos experimentos mais aterrorizantes da história da ciência, que, por meio do comportamento de uma colônia de camundongos, é uma tentativa dos cientistas de explicar as sociedades humanas. A ideia do "Universo 25" surgiu do cientista americano John Calhoun, que criou um "mundo ideal" no qual centenas de ratos viveriam e se reproduziriam. Mais especificamente, Calhoun construiu o chamado "Paraíso dos Ratos", um espaço especialmente projetado onde os roedores tinham abundância de comida e água, além de um amplo espaço para viver. No início, ele colocou quatro pares de camundongos que em pouco tempo começaram a se reproduzir, resultando em um rápido crescimento populacional. No entanto, após 315 dias sua reprodução começou a diminuir significativamente. Quando o número de roedores chegou a 600, formou-se uma hierarquia entre eles e surgiram os chamados "desgraçados". Os roedores maiores começaram a atacar o grupo, com o resultado que muitos machos começaram a "entrar em colapso" psicologicamente. Como resultado, as fêmeas não se protegeram e, por sua vez, tornaram-se agressivas com seus filhotes. Com o passar do tempo, as fêmeas mostraram comportamentos cada vez mais agressivos, elementos de isolamento e falta de humor reprodutivo. Houve uma baixa taxa de natalidade e, ao mesmo tempo, um aumento da mortalidade em roedores mais jovens. Então, apareceu uma nova classe de roedores machos, os chamados "ratos bonitos". Eles se recusaram a acasalar com as fêmeas ou a "lutar" por seu espaço. Tudo o que importava era comer e dormir. A certa altura, "belos machos" e "fêmeas isoladas" constituíam a maioria da população. De acordo com Calhoun, a fase da morte consistia em duas fases: a "primeira morte" e a "segunda morte". O primeiro foi caracterizado pela perda de propósito na vida além da mera existência - nenhum desejo de acasalar, criar jovens ou estabelecer um papel na sociedade. Com o passar do tempo, a mortalidade juvenil atingiu 100% e a reprodução chegou a zero. Entre os camundongos ameaçados, a homossexualidade foi observada e, ao mesmo tempo, o canibalismo aumentou, apesar de haver fartura de comida. Dois anos após o início do experimento, nasceu o último bebê da colônia. Em 1973, ele havia matado o último rato do Universo 25. John Calhoun repetiu o mesmo experimento mais 25 vezes, e todas as vezes o resultado foi o mesmo.

O trabalho científico de Calhoun tem sido usado como um modelo para interpretar o colapso social, e sua pesquisa serve como um ponto focal para o estudo da sociologia urbana.

Atualmente, estamos testemunhando paralelos diretos na sociedade de hoje ... homens fracos e feminizados com pouca ou nenhuma habilidade e nenhum instinto de proteção, e mulheres excessivamente agitadas e agressivas sem instintos maternos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A Falência dos relacionamentos.

 




Como relacionamentos são difíceis...


Um dia a filha adolescente chegou em casa muito zangada da escola. Sua mãe procurou conversar com ela, mas ela estava tão irritada que entrou no seu quarto e não quis abrir a porta. Quando o pai chegou, e soube do fato, ele, prudentemente, bateu na porta do quarto pedindo para entrar, mas ela disse: - “Vai embora”. Ele insistiu: - “Filha, o que aconteceu. Abra a porta pra conversarmos. O que foi que fizemos?”. Ela respondeu: “-Vai embora porque você é gente e eu odeio gente”. 


Paul Tripp no seu livro “Relacionamentos” afirma: “Somos pecadores capazes de causar grandes danos a nós mesmos e aos nossos relacionamentos. Necessitamos da graça de Deus para nos salvar de nós mesmos. Mas também somos filhos de Deus, providos de grande esperança e potencial. Relacionamentos serão sempre forjados no fogo da batalha.” 


Apesar das lutas que podemos ter é importante lembrar que as portas sempre se abrem por meio de relacionamentos. É por meio de relacionamentos que temos os melhores momentos de nossa história, damos risadas, crescemos em maturidade e somos protegidos e cuidados. Infelizmente também, a maioria das dores, traumas, conflitos, decepções, neuroses, distúrbios psiquiátricos se dão por relacionamentos disfuncionais, traição e injustiça.


Certa vez conversei com alguém que me relatou o seguinte: “Eu não sei mais o que fazer com meu irmão. Ele é desequilibrado e parece que a cabeça dele tem uma rotação fora do eixo, e uma forma de pensar que não faz sentido. Não tenho conseguido sequer ficar no mesmo ambiente onde ele está. Eu não vou a casa minha mãe no horário que ele está. Eu me sinto mal com isto, mas é o único jeito de não me ferir mais”. 


Nem sempre é possível se relacionar com todas as pessoas, até mesmo a Bíblia que é um livro de relacionamentos, reconhece esta verdade ao afirmar: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”. É importante investir nos relacionamentos, o quanto for possível, mas nem sempre é possível ter paz, porque simplesmente existem pessoas absolutamente psicopatas, manipulativas, querem sempre tirar proveito, explorar, mentir, enganar e chegam a um ponto em que não se pode mais confiar.


Mas não deixe de preservar e lutar por seus relacionamentos. Muitas vezes encontramos obstáculos, ficamos cansados e irritados, mas ainda assim, a única forma de sermos tratados, é por meio de pessoas que nos ajudam e se tornam nossos referenciais. E Deus sempre coloca pessoas assim na nossa história.

Rev Samuel Vieira.