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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Máscaras da Corrupção




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Comenta-se, com frequência, que há no Brasil uma cultura de corrupção. Uma cultura é forjada com a ação de pessoas e grupos de poder histórico, que então impulsionam uma nova interpretação dos fatos. Portanto, uma cultura não se forja no vácuo, mas pela intermediação de agentes humanos que, intencionalmente ou não, agem como protagonistas.

O problema da corrupção é que ela usa máscaras culturais e um dos melhores exemplos tem a ver com a força midiática. A mídia tenta construir narrativas e verdades. Por isso, ela depende da interpretação dada pelos agentes do jornalismo. Isto tem ficado cada vez mais explícito na polarização cada vez mais radical entre direita e esquerda no Brasil. 

Se você ouve a Jovem Pan, verá que, na maioria das vezes, o discurso da emissora apoia a direita. O modo como os fatos são colocados leva-nos a apoiar a versão apresentada. Se ouvimos ou assistimos a Globo vemos que, por mais favoráveis que as notícias sejam ao atual governo, ela vai tentar explorar um ângulo negativo nas abordagens que faz. E isso não é muito difícil, já que o governo tem telhado de vidro. Todos os movimentos do primeiro escalão são rigorosamente escrutinados.

Quem está dizendo a verdade? Seria a mídia inimiga ou a aliada à corrupção? As narrativas dependem do interesse pessoal e econômico das empresas de comunicação, por isso a mídia é tão interesseira e suscetível à corrupção quanto qualquer órgão do governo.

A corrupção é algo intrínseco à natureza humana. Os líderes da Reforma Protestante, como João Calvino, já falavam sobre a natureza intrínseca da corrupção humana. “Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores”. Pecado não é acidente de percurso ou deslize circunstancial, mas tem a ver com a essência da natureza humana. Isso é assustador! O coração humano tem uma tendência à decadência moral.

Em seu livro O Mito da Neutralidade Científica, Hilton Japiassu faz severas críticas ao pensamento de que a ciência é neutra, não carregada de interesses e intencionalidades, eventualmente sórdidos. Ele indaga: “Pode ainda (a ciência) ser considerada como um saber puro, como uma contemplação desinteressada e amorosa da verdade? (...) Estaríamos condenados a ficar presos aos sortilégios cúmplices da organização científica, submetendo-nos sempre mais às astúcias de seu controle insidioso a ponto de nos instalar, sem possibilidades de resistência, numa tecnonatura incessantemente aperfeiçoada?”

Tanto a mídia quanto o poder judiciário sofrem a influência de interesses. Não há “isenção jornalística”, nem isenção da corte e nem mesmo da ciência. Tudo isso revela o lado sombrio da existência humana. Nenhuma religião ou ideologia estão isentas desta lastimável realidade humana.

Jesus conhecia a natureza humana. A Bíblia afirma em João 2:24 que “(...) mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos, (...) porque Ele mesmo sabia o que era a natureza humana”. Por isso afirmava que Ele era a luz do mundo e aquele que o seguisse não andaria - e não anda - em trevas. Precisamos da graça de Deus para observar melhor as intenções e motivos dos nossos corações, para deixar que Ele ilumine os porões ocultos do nosso coração, removendo as máscaras da corrupção que tão facilmente obscurecem nossas decisões e nosso juízo de valores

Rev Samuel Vieira.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

BREVE HISTÓRIA DA PALAVRA ARREPENDIMENTO.



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Não é segredo que as palavras não se dão ao respeito: prestam-se a qualquer coisa e rebaixam-se a qualquer metáfora ou abuso (pressupondo-se que haja uma diferença). O problema apenas se acentua quando a comunicação é intermediada por milênios de distância cultural e o ruído babélico de traduções, traduções de traduções e lembranças de traduções. Mesmo levando-se tudo isso em conta, é unânime entre os que se preocupam com essas coisas que poucas palavras quanto esta sofreram maltratos tão acentuados e repetidos ao longo tempo.
A desfiguração do termo é tão completa que quem se depara hoje em dia com ele – tão simples: arrependimento – não apenas não tem como saber o que significava há dois milênios para os autores do Novo Testamento que semearam o seu uso na civilização ocidental; não há na verdade como determinar ao certo o que a palavra implica nos nossos dias.
Dependendo de quem está falando e de quem está ouvindo, “arrepender-se” pode significar “sentir remorso”, “lamentar e/ou abandonar uma vida ou conduta de pecado”, “converter-se [à religião de quem está falando]“,”voltar atrás [com relação a qualquer assunto ou posição]“. “Arrependimento” pode ser rigoroso ou ligeiro, sacro ou mundano, duradouro ou passageiro.
Os pregadores ainda esbravejam “arrependam-se”, mas não tem como estar certos de como são compreendidos. O que exigem com esse “arrependimento”? Contrição sincera? Culpa reconhecida? Pecado lamentado? Conduta reformada? Uma combinação de tudo isso? É algo que só deve ser experimentado uma vez, ou é uma atitude a ser renovada periodicamente? É trato da mente, da vontade ou do coração? Diz respeito à conduta passada ou à conduta futura? Passa apenas pela vida interior ou deixa impressões digitais na vida real? Quais são suas marcas e suas implicações, em todos os âmbitos?
Ninguém sabe e não teremos como saber, pelo menos enquanto estivermos dançando ao redor desta tradução. Inteiramente esvaziado de sentido pelos abusos a que o submetemos, o termo “arrependimento” deve aguardar sem rosto na beira do caminho, enquanto saímos pelo mundo em busca de conceito mais iluminador que possa recuperar-lhe as feições.
Podemos começar, por exemplo, pelas origens.
Mudei de idéia
Garantem-me os que se ocuparam de estudar essas coisas (e serve-me de guia Guy D. Nave, de cujo The role and function of repentance in Luke-Acts tirei todas as citações que seguem) que a palavra grega que foi traduzida como “arrependimento”, metanoia (bem como seu verbo correspondente, metanoeo), era utilizada pelos gregos (se bem que em menor escala) muito antes que a palavra fosse apropriada e popularizada pelos cristãos.
Mesmo os que afirmam que os autores do Novo Testamento e cristãos posteriores imprimiram à palavra novas e revolucionárias nuances concordam que esses partiram do peso que a palavra já carregava do seu uso anterior por poetas e filosófos pagãos.
E, para os gregos clássicos, metanoia significava mudar de pensamento, pensar diferente, reavaliar uma postura, mudar de idéia; implicava em mudança de mentalidade, de visão, de opinião, de propósito.
Escrevendo no quarto século antes de Cristo, o historiador Xenofonte diz assim:
Concluímos naquela ocasião ser mais fácil governar todas as outras criaturas do que governar homens. Porém, quando refletimos sobre a vida de Ciro, o persa, fomos levados a mudar de opinião, e julgar que governar homens pode ser tarefa nem impossível nem difícil.
Menandro, dramaturgo cômico do mesmo século, faz um de seus personagens dizer:
Deixo que você fique com uma de minhas possessões. Se gostar, fique com ela. Se não gostar, ou se mudar de idéia, devolva.
Falando a um tribunal, o orador Demóstenes, também do quarto século antes de Cristo, argumenta contra o seu oponente:
Que suspeito ele trouxe ao tribunal e foi capaz de condenar das acusações trazidas contra ele? Que decreto ele propôs do qual, depois de serem inicialmente persuadidos de sua legitimidade, vocês não escolheram mais tarde mudar de idéia?
Plutarco (45-125? d.C.):
Creio que os que, como homens que caem num poço, adentram irrefletidamente a vida pública, devem necessariamente experimentar confusão e começar a mudar de idéia sobre o acerto do seu curso de ação.
E:
Cypselus, pai de Periandro, quando era recém-nascido, sorriu aos homens que tinham sido enviados para matá-lo, e eles o pouparam. Quando esses mais tarde mudaram de idéia e foram procurá-lo, não o encontraram, porque sua mãe o tinha escondido num baú.
Fílon de Alexandria (25 a.C-50 d.C):
Deus não visita com a sua vingança aqueles que pecam contra ele, mas dá a eles tempo para que reavaliem a sua postura e remediem e corrijam sua conduta perversa.
Todos esses autores usam, nas palavras em negrito, o verbo grego cuja raiz é o substantivo metanoia, traduzido no Novo Testamento como “arrependimento”, e em cada caso o que querem denotar é uma mudança de idéia ou de postura.
As palavras só carregam sentido pelo seu uso anterior. Esse uso de metanoia pelos autores de fala grega sem dúvida orientou o a escolha da palavra por parte dos autores do Novo Testamento. Era como mudança de idéia ou reavaliação de postura que eles esperavam que metanoia fosse entendida pelos seus leitores.
Evidência ainda mais inequívoca disso é o uso de metanoia e seu verbo correspondente na Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento que é a versão da Bíblia mais citada pelos autores do Novo Testamento.
E na Septuaginta metanoeo é usado consistentemente no sentido de mudar de idéia ou de opinião. Se não:
Também aquele que é a força de Israel não mente nem muda de idéia, porquanto não é homem para mudar de idéia (1. Samuel 15:29);
Por isso lamentará a terra, e os céus em cima se enegrecerão; porquanto assim o disse eu, assim o propus e não mudei de idéia, nem me desviarei desse propósito (Jeremias 4:28);
E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e muda de idéia com relação ao mal [que pretendia fazer]. Quem sabe ele não se voltará e mudará de idéia, e deixará após si uma bênção, em oferta de cereais e libação para o Senhor vosso Deus? (Joel 2:13-14);
Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação, e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir; e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu mudarei de idéia do mal que intentava fazer-lhe. E se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação e acerca dum reino, para edificar e para plantar, se ela fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então mudarei de idéia do bem que lhe intentava fazer (Jeremias 18:7-10);
Laço é para o homem dizer precipitadamente: É santo; e, uma vez feitos os votos, mudar de idéia (Provérbios 20:25);
“Quem sabe se se voltará Deus, e mudará de idéia, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?” Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho, e Deus mudou de idéia do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez (Jonas 3:9-10).
Pœnitentiam agite
O problema começou, naturalmente, quando a palavra começou a navegar na nossa direção através de traduções. E logo na primeira instância, na tradução direta do grego original do Novo Testamento para o latim da Vulgata, a transição foi espetacular.
Se é preciso demonstrar o ponto de que toda tradução é ideológica, bastará este exemplo: os patriarcas latinos escolheram traduzir o grego metanoia pelo latim paenitentia. O que estamos habituados a ler como “arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” é em latim Pœnitentiam agite: appropinquavit enim regnum cælorum. Isto é, o que era “reavaliem sua postura”, ou algo parecido, passou a ser, sem rodeios, façam penitência.
Essa tradução foi orientada, sem qualquer dúvida, pela teologia prevalente no quinto século (e dali em diante), segundo a qual a salvação só podia ser obtida mediante a execução dos atos de justiça, caridade ou mortificação, fossem esses voluntários ou prescritos pelo padre após a confissão.
Numa única tacada, de metanoia paenitentia, a percepção coletiva da humanidade sobre o sentido de metanoia/arrependimento foi alterada para sempre. Como se não bastasse, a própria integridade da mensagem bíblica em sua viagem pelo tempo estava agora em questão. Se os guardiões da ortodoxia podiam transformar “mudem de idéia” em “façam penitência”, estava agora claro que o próprio texto bíblico não estava imune, via tradução ou interpretação (visto que não há diferença), a virtualmente qualquer manipulação ideológica. “Amem os seus inimigos” podia muito bem ser reformado em “queimem-nos na fogueira” – como de fato acabou acontecendo.
Nosso problema, naturalmente, está em que as palavras e sentidos da Bíblia são ainda hoje submetidos a esse tipo de desfiguração. As palavras não se tornaram mais fixas, nós mais iluminados ou os portadores da ortodoxia mais dignos de confiança. Cada um persiste encontrando o que quer no texto que quer, e impingindo ao mundo a sua própria leitura. Se é Rick Warren que está lendo, Jesus aprova as guerras em geral e a do Iraque em particular; se é R.R. Soares quem está lendo, Deus quer que você seja rico, e o caminho é você dar o seu dinheiro para mim. As palavras prestam-se a qualquer coisa, e não é à toa que o Apóstolo concluiu, devidamente enojado, que a letra é letal em 100% dos casos. A mensagem da boa nova é de tal natureza que só pode ser transportada em palavras de carne embebidas no espírito – mas estou me adiantando.
Do arrependimento como sentimento até os nossos dias
Quando João Ferreira de Almeida escolheu traduzir o grego metanoia pelo português “arrependimento”, estava devidamente iluminado por traduções anteriores, como a inglesa de Tyndale (1526) e a Autorizada do Rei Tiago (1611), que usam os verbos correspondentes repent e o substantivo repentance.
Essas traduções foram instruídas, por sua vez, pelas ênfases da Reforma na importância da recuperação do sentido original dos textos bíblicos e, neste caso em especial, na rejeição da doutrina católica das obras como agentes da salvação.
Em todos os sentidos traduzir metanoeo como “arrepender-se” foi um tremendo avanço em relação ao latim “façam penitência”. A metanoia deixava de ser tráfico da carne e voltava a ser transação do espírito.
Porém já no tempo de Almeida “arrepender-se” podia significar tanto um remorso ligeiro quanto a contrição que patrocina uma reforma mais profunda. Longe do sentido pragmático do grego original, segundo o qual metanoia representava a conversão em si, o arrependimento passava a ser associado a uma sensação de remorso, ao espírito de contrição necessário (e que antecede) à conversão genuína.
Desse conceito de arrependimento como sentimento tentam nos salvar muitas traduções e paráfrases contemporâneas da Bíblia, que buscam ao seu modo recuperar o sentido original do grego metanoia. Como é muito difícil fazer-nos mudar de idéia com relação a um conceito tão arraigado quanto arrependimento, essas traduções recorrem a todo um leque de alternativas para verter o usual “arrependei-vos”: mudem de atitude, mudem de idéia, mudem de mentalidade, reavaliem a sua postura, deixem o pecado e voltem-se para Deus, corrijam-se, abracem a nova ordem das coisas – porque, naturalmente, é chegado o reino de Deus.
Novamente, essas novas traduções representam um avanço formidável em relação ao mais fraco (e apenas transversalmente acurado) “arrependam-se”. O problema (e a tremenda vantagem) com relação à tradução “mudem de idéia” e suas variações está em que ela também permanece aberta a todo o tipo de interpretação. Mudem de idéia, está certo, mas com relação a quê?
Esse caráter aberto não está ausente, na verdade, do próprio grego metanoia. Nossa sorte é que, dos autores do Novo Testamento, nenhum está mais preparado e disposto a nos explicar o que representa na vida prática a metanoia no sentido usado por Jesus – qual é o sentido e quais são as implicações dessa mudança de mentalidade – do que o autor do livro de Atos.
Por Paulo Brabo

ARREPENDIMENTO DIVINO.


Por Hartman Mangueira
(NAHAM - ARREPENDEU)
O verbo hebraico "arrependeu" ("naham") foi traduzido na literatura bíblica portuguesa por "arrepender-se" ou "consolar". "O termo (naham) 'arrepender' ocorre cerca de 40 vezes e "consolar" cerca de 65 vezes no AT. Os estudiosos dão várias opiniões no esforço de determinar o significado de naham, relacionando a palavra com mudança ou disposição do coração, mente, propósito ou mudança da conduta pessoal.

Este verbo ocorre em alguns textos indicando sentimentos pessoais. Em Jz 21:15 retrata o sentimento que as onze tribos tiveram pela tribo de Benjamim no período de guerra civil, quando a tribo de Benjamim quase foi dizimada; então as demais tribos "tiveram compaixão" (naham). E em Gn. 24:67 afirma que Isaque foi "consolado" (naham) quando se casou, depois da morte de sua mãe, Sara. Naham aqui trata do sentimento ou amor pela esposa.

No hebraico o verbo (naham) ocorre no pual, hitpael, mas especialmente, no nifal e piel. O verbo reflete a idéia de "respirar profundamente" e, por conseguinte, a manifestação física dos sentimentos da pessoa, geralmente tristeza, compaixão ou pena. Define-se naham como: Arrepender-se, ter pena, consolar, ter compaixão, lamentar, ter tristeza ou ser consolado.

O uso do termo no AT está relacionado ao "arrependimento" de Yahweh (SENHOR) em textos centrais Gn. 6.6,7; Ex. 32.12,14; I Sm. 15.11,35 e Jn. 3.10. Nestas quatro ocorrências o verbo hebraico está no passivo, nifal. Isto é, o sujeito sofre ação. Neste caso Deus é o sujeito que sofre ação. Propõe-se afirmar neste ensaio exegético que Deus reage arrependendo-se devido ao comportamento de suas criaturas.

A primeira ocorrência de 'arrependimento divino' é devido à desobediência e atitude humana para com Deus; "então se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou o coração" (Gn. 6:6). A reação de Yahweh é de "arrependimento" porque a humanidade praticou violência e corrupção. "arrependimento" aqui é sentir tristeza e pesar diante da situação de decadência espiritual da humanidade.

Deus não está "arrependido" por ter criado o homem sobre a terra; e assim cometido uma falha; mas apenas mostrando o seu desprazer diante da corrupção e violência de suas criaturas. O arrependimento divino pode ser visto como tristeza e pesar divino diante da civilização violenta e corrupta.

Certamente, que há tristeza e pesar no coração divino diante da situação de violência e corrupção que se estabeleceu no mundo e em nosso país neste momento histórico. E, assim, como Deus atuou naquele momento histórico, fará o mesmo com nossa geração violenta e corrupta. Mas promete livramento e salvação para os fieis.

A segunda, ocorrência central encontra-se em Ex.32.14 "então se arrependeu o SENHOR do mal que dissera havia de fazer ao povo". Os israelitas no deserto desobedeceram a Deus ao fabricar um bezerro para adorar e servir; e, caíram na idolatria e prostituição. Neste incidente, Deus fala a Moisés que vai consumir seu povo com ira e fazer dele uma grande nação.

E Moisés intercede diante de Deus que perdoe e restaure seu povo. Moisés apela lembrando a Deus de dois fatos importantes, primeiro, lembra de sua honra diante dos egípcios. "por que hão dizer os egípcios: Com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes, e para consumi-los da face da terra" (Ex. 32:12a).

Moisés está apelando ao bom-senso e honra divina que considere a sua honra diante do Egito. Ou seja, o que os egípcios diriam de sua honra e intento.

Segundo, apela para as promessas de Deus no passado "lembra-te de Abraão, de Isaque e de Israel, teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes dissestes: Multiplicarei a vossa descendência, como as estrelas do céu, e toda esta terra de que tenho falado, dá-la-ei à vossa descendência, para que a possuam por herança eternamente".

Moisés apela para que Deus considere suas promessas do passado aos patriarcas, de descendência e terra. Após este apelo, Deus reage com sentimento de compaixão pelo seu povo.

Arrependimento aqui é sentir compaixão e conferir perdão. Neste caso o verbo naham encaixa melhor num contexto de compaixão do que de mudança. Sendo assim, Deus reage passivamente sentindo compaixão e perdoando seu povo.
O povo de Deus deve saber que Yahweh (SENHOR) é Deus de compaixão pelo seu povo até mesmo em momento de ira.

Terceiro, a palavra (naham) ocorre quando Deus convida Saul para destruir totalmente os amalequitas, e este obedece apenas parcialmente a ordem divina. " E Saul e o povo pouparam a Agague, e o melhor das ovelhas e dos bois, e os animais gordos e dos cordeiros e o melhor que havia, e não os quiseram destruir totalmente; porém toda coisa vil e desprezível destruíram" (I Sm.15:9).

Em I Sm. 15.11,35 o termo naham (arrependimento) é usado para indicar a reação de descontentamento e desprezo de Yahweh diante do comportamento de Saul.

O verbo naham está no nifal, isto é, passivo, onde Deus é o sujeito passivo da ação. Naham deve ser vista aqui como "sentir pena" ou "lamentar'. O sentimento interior de Deus é de lamento e desprezo diante do comportamento de Saul. E, não uma atitude divina de "arrependimento" por ter cometido um erro em eleger Saul rei. E, sim, o descontentamento pelo fracasso administrativo e espiritual de Saul.

O povo de Deus deve estar ciente de que obedecer a palavra de Deus parcialmente acarreta no lamento e desprezo do Senhor.

E por último, no livro de Jonas o Yahweh promete derramar sua ira destrutiva sobre os ninivitas que, eram pecadores sanguinários e violentos. Mas, antes de derramar sua ira sobre eles, o Senhor envia o profeta Jonas para avisar do perigo iminente. A reação dos ninivitas foi de "conversão" – Shuv (Jonas 3.8).

Shuv é o termo hebraico para "conversão, arrependimento e volta" para Deus depois de reconhecimento de pecado. Shuv é a palavra usada para o arrependimento humano em retornar a Deus, e indica contrição, mudança e confissão. "Viu Deus o que fizeram como se converteram do seu mau caminho: e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez" (Jonas 3:10).

Após esta atitude de mudança dos ninivitas, a reação passiva de Yahweh foi de consolo. Neste caso o termo (naham) "arrependimento" divino deve ser visto como o consolo de Yahweh diante da conversão (shuv) transformadora dos ninivitas. Yahweh não derramou sua ira por que foi consolado pela atitude de conversão dos pecadores.

O povo de Deus deve ter consciência de que qualquer pecador que chega a ele em arrependimento (shuv), mudança e contrição tem a promessa do consolo restaurador do Senhor.

Conclui-se que o termo "arrependimento" (naham) atribuído a Yahweh, define-o como Deus de sentimento, que se compadece e que não muda seus propósitos soberanos diante dos acontecimentos e circunstâncias na vida de suas criaturas. O termo trata dos sentimentos interiores de Yahweh e não de mudança dos seus propósitos soberanos que são eternos e imutáveis. Pode-se afirmar que Yahweh tem propósitos eternos e imutáveis; mas também tem sentimento, afeição e amor pelo seu povo.

O Arrependimento de Deus.


Por duas vezes a Bíblia diz que Deus se arrependeu de algo que ele fez no passado (Gênesis 6:6-7 e 1 Samuel 15:11), e pelo menos onze vezes a Bíblia diz que ele se arrependeu ou se arrependeria de algo que estava prestes a fazer no futuro (Êxodo 32:12-14, 2 Samuel 24:161 Crônicas 21:15, Salmos 106:45, Jeremias 4:28, 18:8, 26:3, 13, 19, 42:10; Joel 2 :13-14; Amós 7:3, 6; Jonas 3:9-10; 4:2).
Porém, a Bíblia também diz que Deus não se arrepende. Por exemplo, o Salmo 110:4 diz:
Jurou o Senhor e não se arrependerá: “Tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque”.
E Ezequiel 24:14 diz:
"Eu, o Senhor disse: Será assim, e o farei; não tornarei atrás e não pouparei, nem me arrependerei; conforme os teus caminhos e conforme os teus feitos, te julgarão, diz o Senhor". (Veja Jeremias 4:27-28)
Mas ainda mais importante do que estes, são os textos que dizem que Deus seria como um homem se ele se arrependesse. Ou seja, a imunidade de Deus da necessidade de se arrepender é baseada em sua divindade. Ser Deus significa que ele não pode se arrepender.
Números 23:19 — Deus não é homem para que minta; nem filho do homem para que se arrependa.
1 Samuel 15:29 — Aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa.
Este último texto está também na mesma história que diz que Deus se arrependeu de ter feito Saul um rei (1 Samuel 15:1135). Portanto, não devemos pensar que estes dois pontos de vista vêm de diferentes autores do Antigo Testamento que não concordam um com o outro.
Pelo contrário, nós provavelmente devemos dizer que por um lado Deus de fato se arrepende, e por outro lado ele não se arrepende. 1 Samuel 15:29 e Números 23:19 têm a intenção de nos impedir de ver o arrependimento de Deus de uma forma que iria colocá-lo na categoria limitada de um homem.
O arrependimento de Deus não é como o do homem. Eu considero que isso signifique que Deus não é pego de surpresa por eventos inesperados como nós somos. Ele conhece o futuro. ("Eis que as primeiras coisas passaram, e novas coisas eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir". Isaías 42:9). Deus também nunca peca. Portanto, seu arrependimento não é devido à falta de previsão nem à tolice.
Pelo contrário, o arrependimento de Deus é a expressão de uma atitude e ação diferentes a respeito de algo passado ou futuro — não porque os acontecimentos o pegaram desprevenido, mas porque alguns acontecimentos fazem a expressão de uma nova atitude mais adequada agora do que teria feito antes. Deus "muda" de idéia não porque ele responde a circunstâncias imprevistas, mas porque ele determinou que sua mente esteja de acordo com a maneira como ele mesmo determina as mudanças e acontecimentos do mundo.
Descansando na confiabilidade de Deus,
Pastor John PIPER