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quinta-feira, 29 de agosto de 2019

QUANDO UM(A) FILHO(A) SE DISTANCIA DOS CAMINHOS DO SENHOR




De todas as experiências dolorosas na vida cristã, parece não haver nenhuma mais angustiante do que observar alguém que amamos se rebelando contra o Senhor. Se uma dessas pessoas for um filho ou uma filha, a dor é ainda mais intensa. O fato é que os pais crentes não criam seus filhos para perdição. Também, por conhecerem o que as Escrituras ensinam sobre o destino dos que se afastam da “fonte de vida”, veem a rebeldia dos filhos como algo praticamente insuportável.
Além da dor causada pelo afastamento da pessoa amada, há a frustração de perceber que os argumentos usados no apelo para que ela se arrependa parecem não ter qualquer efeito aos seus ouvidos. O diálogo fica totalmente prejudicado, pois os interesses se tornam distintos, os padrões de conduta e os valores não são mais os mesmos entre as partes envolvidas. Para piorar a situação, há a contínua sensação de impotência, uma vez que os pais não podem, de fato, mudar a estrutura do pensamento e nem o coração dos seus filhos.
Nessa condição, não são raras as experiências de “surtos de desespero existencial”, que tomam os pais cristãos, especialmente aqueles que se afadigam na obra do Senhor. Logo, uma palavra amiga, um ombro ou um ouvido sensível são sempre bem-vindos. Também, algumas poucas diretrizes práticas poderiam ajudar e por isso compartilho abaixo alguns tópicos para sua reflexão.
  1. Cultive sua alegria no Senhor. A Bíblia ensina que a alegria no Senhor é nossa força (Neemias 8.10), mas não apenas isso. O júbilo por quem Deus é e pelo que ele tem feito por nós é também testemunho para os filhos rebeldes. Se esses filhos observam seus pais tristonhos, deprimidos e desesperados por causa das escolhas erradas que os filhos tomaram, logo começarão a questionar a firmeza da fé dos pais. O inimigo é tão astuto que poderá levá-los a pensar que os pais amam mais os filhos do que o próprio Deus. Aliás, não foi essa a maneira como Satanás acusou Jó, sugerindo que o amor de Jó por Deus era somente em troca da estabilidade financeira e familiar que ele possuía (cf. Jó 1)? Por isso, cultive sua alegria em Deus, pregue as maravilhosas verdades do evangelho para si mesmo, ouça hinos e cânticos espirituais que proclamam a bondade do Senhor para contigo.
  2. Compartilhe sua dor com alguém e peça orações. Deus nos salvou para nos incluir em uma família e esse contexto comunitário é fundamental para nosso crescimento espiritual, mesmo quando atravessamos pelos desertos nessa vida. Alguns pais têm a tendência de manter a dor em segredo. Talvez por não desejarem expor seus filhos ou mesmo pelo orgulho de não serem julgados como pessoas que fracassaram nessa área. Todavia, na vida espiritual nenhum crente é chamado para ser um “cavaleiro solitário”, mas é possível recorrer ao apoio solidário existente no Corpo de Cristo. Um dos exemplos significativos nesse sentido é a história de Daniel (cf. Daniel 1). Aparentemente, o profeta tomou uma resolução sozinho em relação a resistir as ofertas de Nabucodonosor (v 8). No entanto, alguns versos à frente o leitor observa que ele contou com a ajuda, o apoio e as orações dos seus três amigos e aquilo foi importantíssimo para o sucesso da empreitada. Portanto, procure alguém para ajudá-lo nesses momentos.
  3. Interceda intensamente pela salvação de seus filhos. De fato, a única pessoa que pode transformar corações é o Espírito Santo. Nossos argumentos, nossos gestos de amor, nossas broncas, nossas explosões, e tantas outras atitudes, se revelam completamente impotentes e inoperantes nessas situações. Há alguns pais que ainda se lançam à prática do jogo das manipulações, apelando aos sentimentos, ao bom senso e à lógica dos filhos rebeldes. O problema é que a pessoa que está enamorada pelo mundo já tem suas emoções comprometidas com outro amor, com outros valores e outros alvos e sua lógica não opera como a do pai ou mãe cristã. Pior ainda, a manipulação acaba comunicando a vitimização dos pais e, tratando-se de vitimização, jovens rebeldes são, geralmente, especialistas e dificilmente serão vencidos nesse campo. A melhor escolha continua sendo falar deles para Deus em contínua intercessão, “derramando a alma” e colocando-os nas mãos daquele que pode convencê-los do pecado, da justiça e do juízo.
  4. Cultive o seu relacionamento conjugal. Poucos pais percebem o quanto a rebeldia dos filhos afeta seu relacionamento conjugal. O fato é que nesse contexto, o pai e a mãe acabam consumindo e investindo mais tempo e energia nos filhos do que no relacionamento conjugal. É possível ainda que esse relacionamento se torne marcado por discussões e brigas pelo fato de um querer tomar uma atitude em relação ao rebelde e o outro não concordar ou desejar algo diferente. Quando isso ocorre, além da distância dos filhos, os pais passam a viver um relacionamento conjugal distante e enfraquecido. Com isso, a angústia só aumenta e o sabor da vida se torna extremamente amargo! Dessa maneira, pais de filhos rebeldes devem fazer provisões para se unirem mais nessas horas, orarem juntos, chorarem juntos e procurarem fortalecer um ao outro.
  5. Ore para que Deus revele aos seus filhos a feiura do mundo. Quando filhos de pais crentes se encantam com o mundo ao redor, acontece com eles o que diz o ditado popular: “quem ao feio ama, bonito lhe parece”. No entanto, a Bíblia ensina que o mundo jaz no maligno (1João 5.19), ou seja, as influências satânicas estão por detrás de suas propostas e “encantamentos”. Somente Deus pode revelar aos enamorados por esse mundo maligno as feiuras nele existentes. Dessa maneira, parte do conteúdo das orações de pais crentes por seus filhos rebeldes deve ser que o Senhor conceda a eles a graça de perceber a malignidade dessa sociedade, a inconstância dos discursos humanistas e a crueldade de uma vida sem Deus. Suplicar que Deus abra os olhos do rebelde para a realidade espiritual do mundo é extremamente necessário.
  6. Peça perdão pelos erros que cometeu ao longo da criação dos seus filhos. É provável que na tentativa de afirmar seu novo estilo de vida um filho ou uma filha que se afasta do Senhor aponte as falhas dos pais em sua criação. Em determinados momentos parece até injusto para esses pais terem que concordar com filhos que não lhes dão mais ouvidos. Contudo, o evangelho nos convida a uma vida de transparência e honestidade, não apenas diante de Deus, mas também diante das pessoas com quem nos relacionamos. Além do mais, certamente existiram erros na forma de instrução e, embora esses não justifiquem a rebeldia dos filhos, é possível sentar com eles e honestamente pedir perdão pelas falhas, deixando assim um exemplo da humildade cristã. Afinal, quem nos julga é o Senhor.
  7. Trate-os os com a graça com a qual você tem sido contemplado em Cristo Jesus. Em outras palavras, é importante que pais de filhos rebeldes se lembrem de que um dia eles também se rebelaram contra o Pai celestial que, graciosa e insistentemente, os buscou. Em sua obra de perseguir criaturas desviadas, o Pai usou tanto a firmeza da Lei quando a cativante apresentação da Graça. O problema é que muitas vezes os pais de filhos rebeldes se lembram apenas de aplicar a Lei no tratamento com seus filhos. A Lei os expulsa de casa, mas a Graça deixa a porta aberta e convida para o almoço em família! A Lei exige que eles pratiquem a virtude para serem amados, mas a Graça os lembra que eles são amados até quando não vivem virtuosamente. Nesse sentido devemos aprender com o gracioso Pai celestial.
Enfim, não existe “receita de bolo” para situações tão complexas e dolorosas como essas. Ao final, um pai ou mãe pode seguir todos passos acima e ainda assim continuar com as lágrimas nos olhos e a dor no coração. Nenhuma dessas sugestões é garantia pragmática do sucesso, mas apenas dicas sobre como agir certo quando alguém que amamos tanto, como nossos filhos, agir errado! Minha oração é que o Senhor conceda graça aos pais que leem esse texto e se encontram em situações semelhantes.

Valdeci Santos

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A Mentira e a Verdade… Nua e Crua

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Certa vez, a Mentira e a Verdade se encontraram.
A Mentira, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe:
– “Bom dia, dona Verdade!”
Zelosa de seu caráter, a Verdade, ouvindo tal saudação, foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não havia nuvens de chuva; os pássaros cantavam; não havia cheiro de fumaça na mata; tudo parecia perfeito.
Tendo se assegurado de que realmente era um bom dia, respondeu:
– “Bom dia, dona Mentira!”
– “Está muito calor hoje, não é mesmo”, disse a Mentira.
Realmente o dia estava quente demais. Desse modo, vendo que a mentira estava sendo sincera, começou a relaxar, a “baixar a guarda”. Por qual razão haveria de desconfiar, se a Mentira parecia tão cordial e “verdadeira”?
Diante do calor insuportável, a Mentira, num gesto de aparente amizade, convidou a Verdade para juntas banharem-se no rio.
Como não havia mais ninguém por perto, a Mentira despiu-se de suas vestes, pulou na água e, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe, insistentemente:
– “Vem, dona Verdade, a água está uma delícia, simplesmente maravilhosa.”
O convite parecia irrecusável. Assim sendo, dona Verdade, sem duvidar da Mentira, despiu-se de suas vestes, pulou na água e deu um bom mergulho.
Ao ver que a Verdade havia saltado na água, rapidamente a Mentira pulou para fora, em segundos vestiu-se com as roupas da Verdade que estavam à margem e se mandou sorrateira.
Tendo suas roupas furtadas, a Verdade saiu da água e, por sua vez – ciosa de sua reputação -, recusou-se a vestir-se com as roupas da Mentira, deixadas para trás.
Certa de sua pureza e inocência, nada tendo do que se envergonhar e não tendo outra opção que lhe fosse coerente, saiu nua a caminhar na rua.
Desde então, aos olhos das pessoas, ficou mais fácil aceitar a Mentira vestida com as roupas da Verdade do que aceitar a Verdade nua e crua.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

QUANDO UM PASTOR LUTA CONTRA A DEPRESSÃO.




Quando um Pastor luta contra a Depressão
Depressão é um assunto controverso entre cristãos. Existe discordância quanto à natureza, às causas e aos tratamentos apropriados para esse mal. Mas, enquanto alguns debatem essas questões, outros sofrem intensamente lutando contra a depressão, inclusive pastores. De fato, esse é um assunto para o qual a igreja não pode fechar os olhos.
A depressão é uma das dores mais difíceis de suportar, pois sua própria natureza (a perda da esperança) milita contra a expectativa de recuperação. Em sua obra sobre o assunto, Ed Welch define depressão como “um sofrimento que não pode ser reduzido a uma causa universal”.[1]Assim, muito mais do que uma frustração ou desequilíbrio químico, a depressão é a intensa dor que nem mesmo o deprimido consegue explicar. Não se pode reduzir isso ao aspecto emocional, pois as emoções do deprimido estão em pleno funcionamento, em uma dinâmica tão intensa que não podem ser explicadas. Além do mais, o problema do deprimido não é falta de sensibilidade espiritual, pois as perguntas que ele faz, em sua maioria, possuem cunho espiritual e religioso: Por que Deus permitiu isso comigo? Até quando, Senhor? Por que estou aqui? Qual é a causa desse sofrimento? Dessa maneira, muito mais do que um sermão, uma confrontação ou o uso de um versículo bíblico como “vara-de-condão”, o processo de ajuda ao deprimido exige sensibilidade, generosidade, paciência e amor.
 Todavia, o propósito dessa reflexão não contempla uma discussão geral sobre a depressão, mas a consideração do que ocorre quando um pastor luta contra esse mal. De acordo com um estudo realizado pela Duke Divinity School em 2008 (e publicado em 2013), pastores possuem 1,6 a mais de probabilidade de experimentar depressão do que a população em geral (8,7% versus 5,5%).[2]Alguns estudiosos procuram explicações para esse fenômeno no fato de que diariamente os pastores se encarregam de atividades estressantes. Entretanto, a máxima de Welch deveria ser lembrada nesses casos também: não se pode identificar uma única causa para esse mal. Há pastores sofrendo na luta contra depressão e muitos membros de suas igrejas não fazem a mínima ideia disso. Alguns somente tomam conhecimento dessa realidade após evidências dramáticas desse mal: crises familiares, debilidades físicas, resignações no ministério e até casos de suicídio.
Como compreender o que ocorre quando um pastor luta contra depressão? O que se passa em sua mente e no íntimo de seu coração? O que poderia ser dito a ele nesses momentos? Como poderíamos começar a ajudar? De início, listo cinco observações a seguir que podem auxiliar nesse processo de compreensão e ajuda. Assim, tanto os que enfrentam a depressão quanto os que desejam ajudar pastores nessa luta poderão ter uma noção melhor do que ocorre nesses casos. Conquanto essas propostas não esgotem o assunto, elas indicam um caminho a ser trilhado nesses casos.
1. A dor do pastor é ampliada pelo mito de que pastor não fica deprimido
Para um pastor, confessar sua depressão equivale a admitir sua desqualificação para o ministério. Isso porque muitos cristãos insistem na ideia de que depressão é um mal que atinge apenas “outras pessoas” que não o pastor. Aqueles que pregam as boas-novas de alegria e paz nunca podem se sentir tristes e abatidos nem dominados pela ansiedade característica da depressão. Além do mais, algumas pessoas pensam que os servos de Deus vivem em perfeito equilíbrio e perfeita ordem o tempo todo. Nesse sentido, como eles poderiam experimentar a “noite escura da alma”? Como poderiam ser tomados pelo desespero se pregam a esperança? Todo esse questionamento revela o mito popular de que o pastor não fica deprimido.
Todavia, a própria história do cristianismo revela que grandes homens de Deus que serviram no pastorado lutaram intensamente contra a angústia da depressão. Nessa lista estão incluídos Bernardo de Claraval, Martinho Lutero e Charles H. Spurgeon. Esse último, em um de seus sermões confessou aos ouvintes: “sou alvo de depressões de espírito tão assustadoras que espero que nenhum de vocês jamais tenha que passar por tais extremos de desgraça”.[3] Portanto, ainda que o mito persista, não corresponde à realidade.
2. A aflição do pastor é agravada pela dor que ele causa em seus familiares e pessoas próximas
O ministério pastoral implica cuidar de outros, mas quando o pastor não consegue cuidar nem de si mesmo, ele se sente fracassado por causar dor e tristeza naqueles que estão mais próximos, principalmente seus familiares. Na luta contra a depressão, a dor do pastor é agravada pelo fato de ele ver o sofrimento estampado nos olhos de quem ama e não conseguir fazer nada para mudar sua própria condição, causa da dor alheia. Notar a esposa triste pela casa, os filhos sem saber como se aproximarem do pai e a igreja sem compreender como cuidar do seu pastor nesses momentos é uma experiência dolorosa.
Para o ministro do Evangelho, necessitar receber cuidado intenso por quem deveria ser cuidado por ele pode ser excruciante. Além do mais, como se encontrar desorientado quando se sente responsável por orientar outros? Ao final de tudo, o pastor nem conseguirá dizer qual é a fonte de sua maior angústia e sofrimento: se algo interno ou externo, se algo existencial ou relacional? Enfim, isso se torna motivo de maior angústia e confusão.
3. O sofrimento do pastor é intensificado pela culpa que o esmaga
Pastores geralmente se sentem fracassados e culpados quando são tomados pela depressão. Muitos deles partilham da convicção popularizada por Martyn Lloyd-Jones de que “De certa forma, um cristão deprimido é uma contradição de termos, e é uma péssima recomendação do evangelho”.[4]Essa crença pode levar o pastor a questionar sua própria conversão e fé. Além do mais, ele se culpa por seus sentimentos e ações não corresponderem ao seu conhecimento da verdade. Em sua opinião, e certamente na opinião de muitos, ele deveria saber lidar com toda essa confusão que o assola. Mas o conhecimento teórico parece muito distante da ação efetiva nessas horas.
Nos momentos de depressão, a mente do pastor pode ainda ser tomada por uma avalanche de lembranças de quando ele negligenciou sua família em prol do rebanho, ocasiões em que ele não teve o tempo necessário para resolver as crises ou atentar para as necessidades familiares. A dor se mistura com culpa e a culpa gera mais dor ainda! Desolado, o pastor deprimido tende a fazer penitências com o objetivo de se livrar de tamanho fardo. A complexidade, porém, está no fato de que o componente da culpa nesse caso pode ser irreal, pois Deus não culpa uma pessoa por cair em depressão ou abatimento em si. Há, certamente, casos nos quais o abatimento resulta de pecados, mas nem sempre (cf. Sl 31, 32 e 38). Embora não se possa emitir diagnóstico de depressão aos personagens bíblicos, em seu abatimento eles foram ouvidos e não condenados pelo Senhor (cf. Sl 42 e Sl 88).
4. O suplício do pastor acaba tendo que ser processado por ele mesmo
Tomado pela vergonha e medo, o pastor em luta contra a depressão geralmente se isola e se afasta das pessoas ao redor. A resposta mais comum nesses casos é o silêncio e a reclusão. As programações da igreja se tornam cansativas e encontrar os amigos acaba sendo arriscado, pois em qualquer momento ele pode “perder o controle” e revelar o verdadeiro estado do seu coração. Até as conversas em família parecem ameaçar, pois na tentativa de auxiliar, as pessoas próximas acabam apresentando uma série de perguntas que incomodam: por que você está se sentindo assim? Por que não ora e busca a Deus para te livrar disso? Até quando você acha que isso durará? etc. Ainda que bem-intencionadas, perguntas como essas indicam que o inquiridor realmente não compreende o que está acontecendo. Pior ainda, para um abatido, interrogações diretas podem ferir como espadas pontiagudas.
Em sua solidão, o pastor erroneamente prega para si mesmo: “médico, cura-te a ti mesmo”. Nesse ponto, a esperança de auxílio de um conselheiro, amigo e ajudador, se esvai. Ele sempre pareceu dar atenção às pessoas, mas, agora que sua alma realmente necessita de atenção, não sabe para quem correr. Nem percebe o pastor deprimido que, em sua angústia, acabou se afastando das pessoas, inclusive daqueles que poderiam lhe prestar alguma assistência. Ele imagina que terá que processar sua própria dor em quietude.
5. O tormento do pastor precisa ser processado à luz das Escrituras
Em meio ao emaranhado de fatores complicadores, durante sua luta contra a depressão, o pastor corre o risco de se esquecer do poder vivificador das Escrituras. Essa lição foi claramente ensinada pelo salmista que orou: “O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica” (Sl 119.50). Em sua Palavra, o Senhor Deus concede recursos para que nossa depressão seja processada. Menciono aqui apenas três desses elementos de ajuda.
Em primeiro lugar, é bom trazer à memória que, em sua angústia, você nunca está só. O Deus Emanuel nunca abandona os seus servos. É importante lembrar que a invisibilidade de Deus não é sinônimo de indiferença e que sua demora em atender não significa que Ele não se importa! Ao contrário, Ele nos cerca com o seu cuidado providencial carregando-nos durante os momentos mais aflitos de nossa vida (cf. Is 43.2-3).
Outra verdade a ser lembrada é que nós não somos nossos próprios salvadores. Ou seja, não somos os responsáveis por nos trazer alívio, Cristo é. Somente o Redentor é poderoso e capaz de livrar a alma da morte, pois Aquele que venceu a morte também graciosamente concede vida. Nesse sentido, deixar de esperar em nós mesmos e em nossos próprios esforços e lançar toda a confiança em Deus é a atitude mais sábia nesses momentos. Essa lição foi claramente deixada pelo apóstolo Paulo em 2Coríntios 1.8-10.
Em terceiro lugar, é necessário lembrar que até nossas lágrimas não são desperdiçadas por Deus (cf. Sl 56.8). Em outras palavras, Deus não apenas não desiste do aflito como é poderoso para usar até sua aflição para sua edificação espiritual (como aconteceu com Jó) e para impactar outros ao redor (como no caso de Estêvão e Paulo). Por isso, é importante que o pastor deprimido faça uma distinção entre seus sentimentos e os fatos afirmados pela Palavra de Deus. As promessas de Deus são verdadeiras, enquanto os sentimentos são projeções da dor alojada no coração.
A depressão entre pastores não é uma impossibilidade. A ordenação pastoral não é um manto sagrado a proteger os servos de Deus dos sofrimentos e aflições nesse mundo. Ademais, o selo do Espírito no coração do crente não o torna imune às dores comuns nessa vida terrena. O que o servo de Deus, comprometido em lutar contra o abatimento e depressão de alma, pode fazer é pregar para si mesmo aquilo que constantemente prega para outras pessoas e dizer assim como o salmista: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.5). Dessa forma, que a graça do Altíssimo repouse sobre os seus benditos pastores!
 
[1] WECH, Edward. Depressão: A tenebrosa noite da alma. São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 11.
[2] Duke Today Staff. Clergy more likely to suffer from depression and anxiety. Disponível em: https://today.duke.edu/2013/08/clergydepressionnewsrelease. Acesso em: 20.01.2019.
[3] SPURGEON, Chales H. Joy and peace in believing. Metropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 12, sermão 692.
[4] LLOYD-JONES, Martyn. Depressão spiritual. São Paulo: PES, 1987, p. 5.

- Valdeci Santos

O caminho sombrio para o suicídio de pastores.

Por que pastores se deprimem? Como pode um homem de Deus ficar tão abatido assim?

Andrew Keller/Freeimages.com
Andrew Keller/Freeimages.com
De acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo”.
A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes é a depressão, associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos.

DEPRESSÃO:
Por que pastores se deprimem? Como pode um homem de Deus ficar tão abatido assim?
– A Bíblia menciona homens e mulheres fiéis que ficaram neste estado e que desejaram morrer — entre esses estão Rebeca, Jacó, Moisés e Jó. — Gn 2522; 37.35; Nm 11.13-15; Jó 14.13. Especialmente Elias (1 Reis 19.4)
– Elias teve um ministério de sucesso: previsão da seca; ressuscitou uma criança; enfrentou os profetas de Baal; etc.
– Tinha vigor físico – correu à frente do carro de Acabe (1 Reis 18.46) – ou seja, não tinha problemas físicos;
– Uma ameaça real – jurado de morte – fez perder o sentido da vida em um escalonamento (1 Reis 19.3 e 4):
  • Preocupação com a vida
  • Isolamento social
  • Desistência da vida
– O medo de perder a vida paradoxalmente o fez perder o sentido da vida
– Escalonamento de vitimização:
  • Ocorre em relacionamentos simétricos quando não há concordância sobre as posições de superioridade e sujeição na relação
  • Podem brigar pelo controle em suas posições (de superioridade ou sujeição) – existe pouco consenso em relação às posições e ambos acabam se sentindo vítimas
  • A escalação sacrificial se dá quando quem ganha perde
– Ameaças reais que se interpõe na vida cotidiana – podem ser o ‘gatilho’ para desencadear a falta de desejo pela vida:
  • falência financeira
  • término de um relacionamento amoroso – divórcio
  • perda do emprego
  • perda de uma pessoa amada, de um filho
  • fracasso profissional – injustiças
  • abandono social – falta de amigos

ESGOTAMENTO FÍSICO E EMOCIONAL:
Descanso e saúde:
– Trabalho e descanso marcam um ritmo vital
  • São atitudes complementárias
  • Uma iniciativa humana que se articula complementarmente através do “descanso” com a natureza própria da vida
– Quando o homem descansa, ele não interrompe sua tarefa vital, apenas a significa
  • Outorga um sentido – trabalha confiante que sua tarefa é um prolongamento de uma bondade que se afirma no próprio Deus
  • O trabalho do homem não se assegura em um rendimento transacional, mas em uma mutualidade originada na doação do tempo que cada um de nós recebe com um presente.
– Descansar é um comportamento que surge de estar existencialmente “confiado”:
  • Crer que cada um faz o que faz a partir de uma “boa vontade”, ou seja, da própria espontaneidade da vida
  • É deixar que a beleza da rosa o atravesse, enquanto se trabalha e criar com o martelo que labora os ritmos de descanso que o florescer da rosa convida
  • Descansar é imprescindível para uma vida saudável:
    • Descansar significa “ser capaz de distanciar-se daquilo que nos torna obsessivos”
    • Esta disposição está ligada à nossa corporalidade e é independente de nossa vontade – não pode ser fabricado, apenas chega a nós
    • O descanso é aquilo que nos faz dormir em paz
  • As manobras da sociedade de consumo:
    • A tentativa de descanso através da “prótese”: excesso de álcool, tranquilizantes, compulsões (do turismo merecido até a religião tóxica, passando por uma sexualidade de performance)
  • O descanso é como uma visita que realça a hospitalidade própria do amor, criando uma nova fecundidade onde o cansaço havia obscurecido a esperança
  • Em síntese: descansar é RE-VIVER!

FALTA DE AMIGOS:
  • Pastores têm poucos amigos, às vezes nenhum.
  • Em reuniões exclusivas para pastores, a maioria conta proezas, sucessos, vitórias e conquistas na presença dos demais, num clima de competição para mostrar que possui êxito no exercício ministerial.
  • Na conversa íntima dos consultórios, o sofrimento se revela.
  • Pastores contemporâneos são cobrados como – e muitos se sujeitam a ser – executivos que precisam oferecer resultados numéricos às suas instituições.
  • Há uma relação circular perversa de falso significado de sucesso: pastor e instituição se conluiam em uma rota autodestrutiva
  • A figura do pastor-pai-cuidador está escassa; aquele que expõe a Palavra à comunidade-família, aconselha os que sofrem e cuida dos enfermos e das viúvas.
  • Há uma crise de identidade funcional entre o chamado pastoral e as exigências do mercado religioso institucional.

Estratégias de poder
Poder SOBRE:
Estratégias de compaixão
Poder COM:
curarcuidar
expertajudador
técnicointeração
distância emocionalenvolvimento
unidirecionalcircular
razãoimaginação
 
quando me sinto responsável
pelo outro “eu”
quando me sinto responsável
pelo outro “eu”
faloescuto
dirijoconvido
coloco/retirosintonizo
protejoanimo
resgatocompartilho
controlorelevo
interpretosou sensível
 
eu me sintoeu me sinto
ansiosolivre
cansadosolto
temerosoalerta
obrigadocorresponsável
 
eu estou comprometido comeu estou comprometido com
a soluçãorelacionar alma com alma
respostassentimentos
circunstânciaspessoas
estar bemter compaixão
 
espero que a persona viva minhas expectativasconfio que o  processo me permita dançar com…

ALGUMAS ALTERNATIVAS:
Pastores:
  • Encontrar um amigo que o aceite como é, com suas bobagens e defeitos, com quem se possa “jogar conversa fora” e não se saiba explicar o porquê da amizade.
  • Encontrar um conselheiro ou terapeuta de confiança para abrir a alma.
  • Ter tempo para o SHABATT – fora do padrão compulsivo
  • Descobrir a importância do “descanso relacional”
  • Estar atento às relações de escalonamento sacrificial – especialmente com a instituição (representada por dirigentes/membros obsessivos)
Instituições:
  • Promover encontros de pastores que possuam caráter terapêutico/curador. Com facilitadores habilitados na condução de compartilhamento de emoções que afetam a vida pastoral;
  • Diminuir as pressões de resultados numéricos sobre a função pastoral.
  • Estar atenta a um padrão mínimo de orçamento-salário pastoral, para que ele e sua família não sofram privações.
  • Desmitificar pseudo-hierarquizações: papéis x poder, realçando a humanidade de todos e o pertencimento mútuo.
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sábado, 10 de agosto de 2019

DIA DOS PAIS, QUANDO SURGIU A DATA?

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 Em 1909, em Washington, Estados Unidos, Sonora Louise Smart Dodd, filha do veterano da guerra civil, John Bruce Dodd, ao ouvir um sermão dedicado às mães, teve a idéia de celebrar o Dia dos Pais. Ela queria homenagear seu próprio pai, que viu sua esposa falecer em 1898 ao dar a luz ao sexto filho, e que teve de criar o recém-nascido e seus outros cinco filhos sozinho. Já adulta, Sonora se sentia orgulhosa de seu pai ao vê-lo superar todas as dificuldades sem a ajuda de ninguém. Então, em 1910, Sonora enviou uma petição à Associação Ministerial de Spokane, cidade localizada em Washigton, Estados Unidos. E também pediu auxílio para uma Entidade de Jovens Cristãos da cidade. O primeiro Dia dos Pais norte-americano foi comemorado em 19 de junho daquele ano, aniversário do pai de Sonora. A rosa foi escolhida como símbolo do evento, sendo que as vermelhas eram dedicadas aos pais vivos e as brancas, aos falecidos. A partir daí a comemoração se difundiu da cidade de Spokane para todo o estado de Washington. Por fim, em 1924 o presidente Calvin Coolidge, apoiou a ideia de um Dia dos Pais nacional e, finalmente, em 1966, o presidente Lyndon Johnson assinou uma proclamação presidencial declarando o terceiro domingo de junho como o Dia dos Pais (alguns dizem que foi oficializada pelo presidente Richard Nixon em 1972). O Dia dos Pais no Brasil, foi importado pelo publicitário Sylvio Bhering. Instituído no dia 14 de Agosto de 1953, atualmente é comemorado no 2º domingo do mês de agosto, sendo a data brasileira diferente da americana e europeia.