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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Por que Deus não Resolve Meus Problemas?






O sofrimento humano não carece de nenhum tipo de teologia que o explique, mas tão somente de um olhar misericordioso sobre a dor e a tragédia. Quem é vítima da fúria da vida, que destroça planos, arrasa sonhos, desfaz esperanças, precisa de abraços solidários e silêncios reverentes, não de doutores da religião para inferir seus postulados filosóficos sobre a soberania, a presciência, a providência e a predestinação. Todas estão questões, acredite, não pacificam a alma, não enxugam lágrimas, não levantam caídos no solo infértil do desespero humano. Diante da dor, diz o poeta, todo mundo é igual, não há gênero, cor, raça ou crenças que não seja nivelada ante o inusitado quanto este nos visita no dia escuro da nossa alma. Sim, o dia mal sempre chega na vida, não há como evitá-lo, mas há como vivê-lo sem sucumbir a sua força esmagadora. Perante Deus, é legítima, sem dúvida, a questão daquele que sofre quando interpela: “Por que você não interfere no meu sofrimento?”. De certo, não há nada mais humano do que questionar o que não se pode compreender debaixo do sol. Seria Deus um aloprado brincando com a existência dos homens, marionetando circunstâncias, blefando com o destino, jogando dados com os mortais? Ou Deus é Senhor da história e das circunstâncias, capaz de fazer o que bem entende para dar significado, ao depois, àquilo que parecia inicialmente absurdo? 

Não Escuto o que Você Fala, Porque Vejo o que Você Faz.





Carlos Moreira

 
Houve um tempo, na Grécia antiga, em que um grupo de professores viajantes obteve destaque e relevância. Eles eram chamados de sofistas, mestres que, por determinado preço, vendiam ensinamentos de filosofia.

Etimologicamente, o termo sofista significa sábio, mas, historicamente, eles ficaram marcados, sobretudo pelas críticas de Platão, como impostores. Para um sofista, não importava se um conhecimento era verdadeiro ou falso, mas apenas a capacidade de argumentação. O discurso de um sofista, apesar de primoroso, era esvaziado de conteúdos e significados, suas vidas restringiam-se a transmissão do conhecimento, jamais a sua encarnação. 

Conta-se que, de certa feita, Sócrates, argumentando sobre o embuste dos sofistas, afirmou: “os Sofistas buscam o sucesso e ensinam as pessoas como conseguí-lo; Sócrates busca a verdade e incita seus discípulos a descobri-la”.

Você consegue ver semelhanças entre o discurso dos sofistas e a pregação dos pós-pentecostais? Estou usando o termo pós-pentecostais para acabar, definitivamente, com o uso do termo, ao meu ver equivocado, neopentecostais.

O pentecostalismo é um ramo sério da Igreja, que prega as verdades das Escrituras, os dons do Espírito Santo, a vida simples e a propagação do Evangelho através de ações de misericórdia. Isto não tem nada a ver com os pós-pentecostais, que enganam pessoas, falsificam doutrinas, extorquem dinheiro do povo, vivem em busca do sucesso, da prosperidade e da “benção”.

Pensando bem, o nome que melhor se aplicaria a este grupo seria o de “sofistas modernos”. Para eles, não importa se o que pregam é verdade ou não, mas apenas o fato de conseguirem, com argumentações supostamente lógicas, ancorados numa hermenêutica fraudulenta, convencer o povo a obedecer doutrinas de demônios. E a “massa”, muito mais interessada nas “promessas” de Deus do que no caráter de Deus, naquilo que Ele pode fazer, e não em quem Eleé, vai sendo espoliada, “depenada” como ave que vai para o abatedouro.

Quando Paulo escreve sua carta aos Romanos, faz uma citação de Isaías no capítulo 10 verso 14 “...como são belos os pés dos que anunciam boas novas”. Ora, eu sempre pensei, em se tratando da proclamação do Evangelho, que o apóstolo deveria afirmar “como é belo o discurso dos que anunciam a salvação”. Mas ele é que estava certo...

A questão é que o discurso vazio, desprovido de sentido, desacompanhado de boas obras, de nada aproveita para a vida. É por isso que a fala precisa ser seguida de ações, ou seja, de pés que se movam na direção do outro, pés que abandonem a zona de conforto, pés que representem este estado de movimento, de não-fixidez, que simbolizem o “espírito” do hebreu, na melhor acepção da palavra, um ser errante, desenraizado, habitante de tendas, peregrino em terra estrangeira.

A pregação do Evangelho, em nossos dias, precisa ser ressignificada. Ao invés de usarmos a boca, para a divulgação das verdades do Reino – o discurso, os recursos homiléticos, a oratória – vamos passar a usar os pés, membros do corpo que não possuem tanta beleza, que talvez não recebam de nós tanto decoro, mas que podem nos levar pelo caminho da justiça e da verdade revelando que, em nós, Cristo se constitui ação, e não meras palavras, que os que nos vêem podem seguir-nos, pois fazemos o que falamos, a nossa fé tem se materializado através de atos de bondade e amor.

Desta forma, nunca se esqueça: a Palavra só se tornou verbo porque, um dia, o Verbo se fez carne, e habitou entre nós.  

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A DÁDIVA DE SABER ENVELHECER






Se Deus me permitir viver a média dos brasileiros, morrerei com cerca de 72 anos. Isso significa que há apenas mais 1/3 da jornada a ser conquistado, boa parte do caminho já foi feita, o dia da chegada no meu lar se aproxima.

Sim, eu já tenho calos nos pés de tanto chão trilhado, contudo, ainda há estradas por onde não passei, lugares dentro de mim que são inabitados. Herman Hess diz que os passos dos homens são dados para dentro, a vida é simplesmente um seguir de rastros.


Mas eu também tenho calos no coração, pois o existir produz marcas, esculpe na tapeçaria dos dias tatuagens que se projetam no chão do ser. Aos quase 50 anos vejo o físico sofrendo os desgastes dos anos, não obstante me regozijo ao perceber que minha musculatura emocional aguenta sopapos, eu estou na meia-idade, mas minha alma é velha.

Hoje, ao ler a carta de Paulo ao seu filho Timóteo, deparei-me com a exortação do apóstolo que diz: “Ninguém despreze a tua juventude”. Timóteo estava em Éfeso, exercia o ministério pastoral, devia ter aproximadamente 30 anos, o que era considerado muito pouca idade para um homem que precisava aconselhar anciãos.

Naquele tempo, era sinal de respeito o possuir cabelos grisalhos, algo que, certamente, faltava ao jovem pastor. Foi por isso, certamente, que Paulo se viu estimulado a pedir aos irmãos da igreja que respeitassem o “garoto”, discernissem o dom do Espírito Santo em sua vida e relevassem sua pouca experiência.

Ah, se fosse possível o apóstolo escrever para mim, gostaria que dissesse: “Ninguém despreze a tua velhice”. Seria de muita serventia esse conselho para o tempo presente. É que envelhecer cansa, sobretudo num país onde os idosos são desprezados e a idade avançada é vista como um fardo, um atrapalho, onde os filhos estão dispostos a deixar seus pais em asilos, ou, pior ainda, exilados de tudo dentro de suas próprias casas.

O mesmo se dá na igreja...

O Velho é visto como empecilho, ele é resistente ao “novo”, parece ter sempre uma palavra que estraga-prazer. Mais saiba que, por certo, um homem velho carrega a experiência de toda uma jornada, acumula muitos sonhos que não puderam se realizar, tem muito mais certezas do que dúvidas e apesar da fragilidade da visão, pode enxergar muito longe onde certos caminhos nos levarão. Eu tenho respeito pela velhice, ela revela no rosto as dores da vida, as perdas inevitáveis, os fracassos incontornáveis, a resignação ante o impossível.
Eu sei, este pode até parece um texto melancólico, mas eu gosto de pensar que são apenas palavras lúcidas, de um homem que não teme envelhecer, ainda que saiba que essa estação outonal da existência guarda mais tristezas do que sorrisos...

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Ateus exigem a retirada de cruz do World Trade Center.

Ateus exigem a retirada de cruz do World Trade Center e aproveitam para zombar da Soberania de Deus



A cruz no memorial
(CNN) - Um grupo de ateus entrou com uma ação retirar a cruz colocada no memorial dos ataques terroristas de 11/09 do World Trade Center.

A "consagração de uma cruz no local é inadmissível, visto que local é público e o estado é laico", afirma grupo de ateus de Nova York em um comunicado de imprensa.

O grupo  que entrou com a ação nesta semana em um tribunal estadual de Nova York e postou uma cópia do processo em seu site. A ação judicial envolve muitos réus, incluindo o estado de New Jersey, a cidade de Nova York,  Michael Bloomberg (prefeito de Nova York) e o governador de Nova Jersey Chris Christie.

A cruz do World Trade Center é um escombro sem emendas do desabamento das torres gêmeas. São duas vigas de aço que sustentavam uma interseção da estrutura central da torre norte e que ficou surpreendentemente de pé quando as torres gêmeas desabaram em 11 de setembro de 2001. Desde o início do processo de resgate o objeto foi "espiritualizado" por muitos.

A cruz em meio aos destroços, desde então admirada por bombeiros e demais trabalhadores atuando no local da tragédia, além dos familiares das vítimas.
Até recentemente, a cruz estava em uma igreja católica muito frequentada por policiais e bombeiros nova iorquinos (lembrando que estas profissões são dominadas nesta região dos Estados Unidos por descendentes de irlandeses, povo majoritariamente católico).

No último sábado, foi colocada no local da tragédia por conta de um evento relacionado à construção do Memorial 11/09 e Museu. Houve também a bênção cerimonial da cruz e um serviço conduzido pelo Frei Brian Jordan, um monge franciscano que ministrou a trabalhadores limpando a área após os ataques de 9 / 11.

Joe Daniels, presidente Memorial, disse que a cruz é "uma parte importante do nosso compromisso de trazer de volta as lembranças autênticas que contam a história de 9 / 11 . "O seu retorno é um símbolo do progresso da construção do Memorial, que hoje sentimos em vez de ver, lembrando-nos que esta comemoração está no coração de nossa missão."

Mas o grupo ateu diz que a cruz envia uma mensagem muito diferente: "A cruz do WTC se tornou um ícone cristão", disse Dave Silverman, presidente do grupo ateu. "Tem sido abençoada pelos chamados "homens santos" e apresentada como um lembrete de um "deus", que não podia ser incomodado para parar os terroristas muçulmanos ou impedir que 3.000 pessoas fossem mortas em seu nome, mas se preocupou conosco apenas o suficiente para conceder-nos um entulho que se assemelha a uma cruz. Isto é ridículo! "



CNN - Traduzido por Genizah e acrescido de informações de Get religion.org (imagens) e The Raw History.


Cachorro Velho.







Por Lindoélio Lázaro


Uma senhora já idosa foi para um Safari, na África, e levou seu velho vira-lata com ela.

Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido.

Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem leopardo o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço... O velho cachorro pensa:

-Ops! Estou mesmo enrascado!
Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. E ao invés de apavorar-se mais ainda, o velho cão se junta ao osso mais próximo, e começa a roê-lo, dando as costas ao predador.

Quando o leopardo estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto:

-Cara, este leopardo estava delicioso! Será que há outros por aí?

Ouvindo isso, o jovem leopardo, com os pêlos arrepiados de terror, suspende seu ataque, já quase começado, e se esgueira na direção das árvores.

-Caramba! - Pensa o leopardo - Essa foi por pouco; o velho vira-lata quase me pega!

Numa árvore perto dali, um macaco assistia toda a cena e logo imaginou como se aproveitar daquela situação: em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido leopardo algum...

E assim foi, rápido, em direção ao leopardo. Mas o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e desconfia:

-Aí tem coisa!
O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que viu e faz um acordo com o leopardo.

O jovem leopardo fica furioso por ter sido feito de bobo pelo cachorro velho, e manda o macaco subir nas suas costas.

-Você vai ver o que vou fazer com aquele cachorro abusado!

Agora, o velho cachorro vê um leopardo furioso, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa:

-E agora, o que eu faço?

O invés de correr (já que suas pernas doídas não o levariam longe) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz:

-Cadê aquele macaco safado? Estou morrendo de fome! Ele disse que ia trazer outro leopardo para mim e não chega nunca!

Nem preciso dizer o que aconteceu com o macaco, não é?

Moral da história:

Não mexa com cachorro velho. Idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga. A sabedoria anda lado a lado com a experiência.

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Idosa cristã tem as roupas rasgadas e é carregada nua pelas ruas por muçulmanos no Egito.



Grupo de 300 homens atacou uma aldeia cristã copta no sul do país depois de boatos de que um morador do local estaria se relacionando com uma mulher da religião islâmica


Cristã copta chora durante oração pelas vítimas do voo MS804 da EgyptAir, na igreja Al-Boutrossiya, dentro do Complexo da Catedral Copta, na capital do Egito, Cairo - 24/05/2016(Amr Nabil/AP)

Uma mulher cristã de 70 anos foi despida, espancada e exibida publicamente pelas ruas de uma aldeia no sul Egito por um grupo de 300 homens muçulmanos. A multidão também incendiou sete casas pertencentes a famílias cristãs, de acordo com um comunicado da Igreja Ortodoxa Copta local.

O ataque na aldeia de Al Karam foi motivado por boatos na região de que um homem cristão chamado Ashraf Abdu Atiya estaria envolvido em um relacionamento com uma mulher muçulmana. A idosa vítima do linchamento seria mãe de Atiya, de acordo com o jornal britânico Independent, e o homem precisou abandonar a cidade perante as ameaças, que foram denunciadas por seus pais na quinta-feira passada em uma delegacia.

Pelo menos três pessoas foram detidas até o momento e a polícia procura outras dez por envolvimento no ataque, que aconteceu na sexta-feira passada (20). Segundo a diocese, a violência começou às oito da noite, no horário local, e a polícia só respondeu ao chamado duas horas depois, quando o grupo já havia dispersado. Os responsáveis pelo atentado estavam armados e saquearam as residências, antes de atear fogo.


Perseguição - Os cristãos coptas são de uma ordem religiosa originária no Egito e representam 10% da população do país, porém, são tratados como cidadãos de segunda classe pela maioria muçulmana. O episódio de violência representa as tensões entre as duas religiões na província ao sul do Cairo, onde casos extraconjugais entre cristãos e muçulmanos são tratados como tabu.

Pela primeira vez, a igreja copta criticou as autoridades do país pela negligência com tais ocorrências. Em uma entrevista na noite de quarta, o membro do clero mais importante da província de Minia - onde a aldeia está localizada -, Anba Makarios, disse que se um homem muçulmano estivesse com uma mulher cristã "nada parecido com isso teria acontecido".

O governador da província de Minia, Tareq Nasr, disse à agência oficial de notícias egípcia Mena que "o Estado não vai aceitar que ocorram estas violações e serão castigados todos os envolvidos". Já o primeiro-ministro do país, Sherif Ismail, qualificou o fato como "lamentável" e garantiu que tratará o assunto conforme a lei. Por sua parte, o presidente Abdul Fatah al Sisi, ordenou que se reparem os danos causados, estimados em 350 mil libras egípcias (mais de 140 mil reais), em um prazo de um mês e prometeu que o Estado assumirá as despesas.

(Com EFE)
 
http://veja.abril.com.br/

terça-feira, 10 de maio de 2016

OS PROTESTANTES E A ALEMANHA SOB O NAZISMO



Um seminário teológico REFORMADO na Alemanha nazista
Stephen Nichols
Quando a igreja luterana alemã apoiou os nazistas em 1933, um seleto grupo de líderes dentro da igreja formou um movimento de resistência eclesiástica, o qual veio a se chamar de Igreja Confessante. Eles logo fundaram cinco novos seminários para treinar a próxima geração de ministros. Aproveitaram um jovem professor de teologia da Universidade de Berlim para dirigir o seminário recém criado em Zingst e posteriormente em Finkenwalde.
O modelo predominante para a educação teológica na Alemanha era amplamente acadêmico e as universidades dominaram a educação ministerial. Desde o Iluminismo (Aufklarung em alemão) os pastores alemães tinham digladiado pela respeitabilidade ao lado de médicos e advogados – profissionais das disciplinas mais “respeitáveis”. Eruditos no estudo bíblico e teólogos tinham de fazer o mesmo em contraposição aos seus colegas na academia. Após um punhado de palestras para futuros ministros e teólogos na Friedrich Wilhelm University, em Berlin, Dietrich Bonhoeffer sentiu que este tipo de ethos educacional estava errado – e era, por fim, danoso – para a igreja em geral.
Então, o novo seminário em Finkenwalde deu a Bonhoeffer uma oportunidade para traçar um curso diferente para a educação ministerial. Ele focaria sua escola na Escritura, oração e confissão teológica, e como Herr Direktor, Bonhoeffer poderia sustentar estes três pilares como achasse por bem. Mas nem todos concordaram. O altaneiro Karl Barth, por exemplo, protestou, dentre outros líderes na Igreja Confessante. Muitos estudantes seguiram o exemplo, contrariando as inovações de Bonhoeffer. Formidável demais para ser demitido, ele se manteve firme, e acabou ganhando tanto seus alunos como seus críticos.
Infelizmente, a história de Finkenwalde não acaba com sucesso – pelo menos não como a palavra “sucesso” é frequentemente definida, com os requisitos métricos de números e proezas. A maioria dos alunos de Bonhoeffer nunca chegou ao ministério pastoral. Vinte e sete foram presos. O seminário, como um todo, teve uma vida curta, fechado pela Gestapo após dois anos apenas.
Dito isto, o que foi realizado ali durante aqueles dois anos merece nota. Então, vamos considerar os três pilares de Bonhoeffer para a educação no seminário: Escritura, oração e confissão teológica.
Construa sobre a Palavra
Depois de alguns meses em operação, Bonhoeffer escreveu uma carta para as igrejas mantenedoras explicando a missão do seminário:
O caráter especial de um seminário da Igreja Confessante deriva da difícil situação na qual temos sido colocados devido ao conflito na igreja. A Bíblia constitui o ponto focal de nosso trabalho. Ela tem se tornado para nós uma vez mais o ponto de partida e o centro de nosso labor teológico e de toda a nossa ação cristã.1
Que esse foco bíblico era “especial” mostra porque a igreja luterana alemã murchou sob o governo nazista. A igreja como um todo há muito havia se afastado de suas amarras bíblicas. Sem um sólido fundamento bíblico, a igreja simplesmente não possuía os recursos necessários para se envolver nas questões éticas da década de 1930, a qual, em seguida, levou tragicamente às atrocidades na década de 1940 e da Segunda Guerra Mundial.
As palavras de Bonhoeffer também revelam sua convicção de que a Bíblia deve permanecer como o ponto central na educação ministerial e na igreja. A Escritura como o ponto focal em Finkenwalde implicava que os estudantes seriam treinados em hebraico e grego. Eles receberiam instrução no conteúdo bíblico. “A congregação”, Bonhoeffer disse uma vez, “é construída unicamente sobre a Palavra de Deus”2. Bonhoeffer exigia que os alunos praticassem a lectio divina, lendo um Salmo e capítulos do Antigo e do Novo Testamento a cada dia. Os alunos também tinham de meditar numa passagem selecionada a cada semana. Ele tinha a intenção de ajudá-los a formar os hábitos corretos.
Os alunos de Finkenwalde e o futuro biógrafo de Bonhoeffer, Eberhard Bethge, entenderam a mensagem. Anos depois, Bethge testificou: “Porque eu sou um pregador da Palavra, não posso expor as Escrituras a menos que as deixe falar para mim todos os dias. Usarei indevidamente a Palavra no meu serviço se não me mantiver meditando sobre ela em oração”.3
A oração faz um pastor
Os cursos de Bonhoeffer sobre oração usavam a Oração do Senhor [o Pai Nosso] e o Catecismo de Lutero para instrução. Ele também exigia que os estudantes orassem, como um tipo de dever de casa. Os críticos o acusaram de que estava sendo legalista; alguém até mesmo chegou a dizer a ele que o tempo era muito urgente para oração e meditação. Bonhoeffer respondeu a estas críticas vigorosamente: “Isso ou mostra uma total falta de compreensão por parte dos jovens teólogos de hoje, ou uma ignorância blasfema de como a pregação e o ensino vêm à existência”.4  Como Bonhoeffer disse uma vez à sua congregação em Londres: “Uma congregação que não ora pelo ministério do seu pastor, não é mais uma congregação. Um pastor que não ora diariamente por sua congregação, não é mais um pastor”.5
Confissão como currículo
Por fim, há o terceiro pilar: a confissão teológica. Como um luterano alemão, o padrão confessional de Bonhoeffer era a Confissão de Augsburg (1530), contida no Livro de Concórdia (1580). Da mesma maneira que a Escritura e a oração foram eclipsadas na igreja luterana, assim também acontecia com a confissão. Como tantas outras denominações no século 20, a igreja luterana alemã professava sua confissão teológica da boca para fora, e não mais do que isso.
Não era assim no seminário de Bonhoeffer. Bethge comenta sobre como a cópia do Livro de Concórdia de Bonhoeffer estava sublinhada, marcada com notas nas laterais, pontos de exclamação e interrogações. É evidente que Bonhoeffer lutou com sua confissão e a levou a sério6. De fato, para Bonhoeffer, a confissão era o currículo da teologia.
Mas ele não estava apenas interessado em que seus alunos conhecessem e lutassem com a teologia, pois também queria que eles a vivessem. A confissão moldaria suas vidas, sua ética, sua pregação e suas igrejas. “Teologia é a submissão ao conhecimento coerente e bem ordenado da palavra de Deus”, ele escreveu. “Ela serve à pura proclamação da palavra na congregação e à edificação da congregação de acordo com a palavra de Deus”.7
Seminários são para a igreja
Então, os seminários existem pra quê? Assim como a teologia que ensinam, eles existem para a igreja. E acerca do que eles deveriam tratar? Assim como a igreja para quem eles existem, eles deveriam tratar sobre a Escritura, a oração e a confissão teológica. Além do mais, estas são as marcas de todos os cristãos em todos os tempos, pois são os hábitos da vida cristã.

Se você deseja conhecer mais sobre a vida de Dietrich Bonhoeffer recomendamos os dois links abaixo:

http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2016/04/voce-sabe-quem-foi-dietrich-bonhoeffer.html

http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2016/04/voce-sabe-quem-foi-dietrich-bonhoeffer_10.html
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
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Desde já agradecemos a todos.
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* Texto original disponível em: http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2013/08/08/seminary-in-nazi-germany/. Tradução de Nelson Ávila, bacharelando em teologia pela Escola Teológica Charles Spurgeon, em Fortaleza-CE.

1  Dietrich Bonhoeffer, "A Greeting from the Finkenwalde Seminary," Oct. 1935, The Way to Freedom (New York: Harper & Row, 1966), 35.

2  Dietrich Bonhoeffer, "Theology and the Congregation," Dietrich Bonhoeffer Works, Vol 16: 1940-1945 (Minneapolis: Fortress Press, 2006), 494.

3  Ibid., 57.

4  Cited in Eberhard Bethge, Dietrich Bonhoeffer: A Biography (Minneapolis: Fortress Press, 2000), 465.

5  Dietrich Bonhoeffer, Oct. 22, 1933, in Dietrich Bonhoeffer Works, Vol 13: London, 1933-1935 (Minneapolis: Fortress Press, 2007), 325.

6  Bethge, Dietrich Bonhoeffer, 449.

7  Bonhoffer, DBW, Vol. 16, 494.   

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IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS DÁ PASSOS FIRMES EM DIREÇÃO À TOTAL JUDAIZAÇÃO


O material abaixo foi publicado pela revista Cristianismo Hoje.
Entre levitas e menorás
Com o Templo de Salomão, Igreja Universal busca maneiras de se reinventar em meio a uma concorrência crescente.
Escrito por Leonildo Campos
Recebi um convite para participar de uma cerimônia no recém-inaugurado Templo de Salomão depois de ter sido incluído numa lista com nomes de colegas professores e alunos que seria submetida a alguém da Igreja Universal do Reino de Deus. Recebi então o convite para o chamado “Congresso de Pastores Evangélicos”, acompanhado de um cartão com as regras a serem seguidas no local e uma fita de identificação autorizando, somente para aquele dia e hora, o trânsito pelo santuário.
No dia marcado, acompanhado de minha mulher – que recebeu a orientação para não ir de calças compridas ou blusa com decote – estacionei num enorme espaço nos subterrâneos do prédio, com capacidade para aproximadamente dois mil veículos. Na entrada, rapazes com batas brancas e um cordão como cinto, chamados de “levitas”, recebiam os visitantes com uma saudação hebraica: “Shalom”, à qual respondi com um não menos simpático “bom dia”. A nave do templo permaneceu na penumbra durante o tempo de espera, com uma música orquestral de fundo e clipes com imagens filmadas na região do Sinai ou em cenários cinematográficos.
Às nove horas da manhã, começou a apresentação de um pequeno filme em projeção de 180 graus, contendo uma síntese da história de Abraão até o surgimento da Universal. Aliás, a qualidade das imagens e do som era excelente. Quando as luzes se acenderam, abriram-se as cortinas e o bispo Edir Macedo entrou acompanhado de um pequeno grupo de “levitas”. A cortina, na verdade, é um enorme véu – e por detrás dela, apesar da escuridão da nave do templo, dava para ver as palavras grafadas seguindo a curvatura das letras hebraicas: “Santidade ao Senhor”. No centro do palco, também chamado de “Altar de Deus”, estava uma enorme réplica da arca da aliança e um candelabro com sete luzes acesas. Aparentemente, os dois objetos são folheados ou banhados a ouro.    
O bispo e os “levitas” se ajoelharam diante da arca e, depois de uma breve oração, saíram todos, menos Macedo. O bispo, então, começou a cerimônia, seguindo-se uma ordem litúrgica simples, tal como ocorre nos demais templos da Iurd. Edir Macedo vestia terno e gravata, com um quipá na cabeça e uma capa com bordados judaicos sobre os ombros. Durante os 90 minutos seguintes, houve orações, cânticos e momentos reservados às ofertas, entremeados de curtos momentos de pregação, tudo sempre acompanhado por uma discreta música de fundo. Na hora das ofertas, as pessoas levaram seus envelopes à frente. Uns depositaram-nas em cofres; outros, nas salvas trazidas pelos “levitas”. Outro obreiro, com uma maquininha online, esperava pacientemente que alguns doadores, em uma pequena fila, digitassem as suas senhas de banco e o valor a ser depositado na conta da igreja.
O clima do culto parecia se inspirar quase que exclusivamente no Antigo Testamento. Aliás, essa tem sido a fonte de legitimação não somente para a Igreja Universal como para outras denominações pentecostais, que têm se entregado, desde os anos 1990, a uma onda de “judaização” crescente. A bem da verdade, a Iurd não é pioneira neste sentido na América Latina. A partir do Peru, está se espalhando pela região amazônica a Igreja Israelita do Novo Pacto Universal, ligada a grupos cristãos sionistas do Chile e da Colômbia. Surgida nos anos 1960, a instituição celebra as festas judaicas – e, em suas cerimônias, os fiéis se vestem a caráter e realizam sacrifícios de animais. Muito antes disso, ainda no século 19, o Adventismo do Sétimo Dia focou parte de suas doutrinas nas tradições judaicas e no Antigo Testamento.  Desde os anos 1980, no Brasil, a pastora Valnice Milhomens, da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, comemora a Festa dos Tabernáculos ou das Cabanas. Devem-se acrescentar, aqui, algumas comunidades judaicas chamadas de messiânicas, que aceitam Jesus de Nazaré como Messias; mas, ao mesmo tempo, reproduzem festas judaicas e ordens de culto tirados das sinagogas, usando-se, para isso, vestes, costumes e hábitos tipicamente judaicos.
Magali do Nascimento Cunha, professora de pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, menciona alguns exemplos de como o processo de ressignificação de símbolos do Antigo Testamento estão presentes na comunidade evangélica dos dias de hoje. “Expressões-chave retiradas do Antigo Testamento bíblico passam a representar o tipo da prática e de qualidade da relação dos fiéis com Deus”, explica. “O Senhor é identificado como ‘Rei’ e ‘General’ e relacionado a poder, domínio e majestade”. Por outro lado, ela observa que inúmeras canções de artistas gospel usam expressões como “chegar ao santo dos santos”; “estar nos átrios de Deus”, “trazer a arca”, “trazer o sacrifício” etc.
IMAGINÁRIO JUDAICO
As ligações da Universal ao imaginário judaico são enormes. É famosa, na denominação, a campanha intitulada Fogueira Santa de Israel, quando orações e ofertas dos fiéis são acompanhadas de pedidos por escrito de bênçãos específicas. A Igreja diz que os papéis são depois queimados e as cinzas, levadas pelos bispos para os montes situados na região do Sinai. Desde há muito, a Iurd tem ensinado que Israel é a “Terra Santa”; portanto, o óleo de oliveiras da Galileia, o sal do mar Morto e outros materiais trazidos de lá, como água, areia ou pedras, são muito valorizados por seus supostos poderes curativos ou pela alegada capacidade de produzir milagres econômicos na vida dos fiéis.
Outra evidência dessa aproximação é a ênfase na necessidade de o ser humano estabelecer uma aliança com Deus, como fizeram os patriarcas do Antigo Testamento. Mediante contribuições financeiras à igreja, Deus ficaria comprometido em atender a todos os pedidos – uma espécie de contrato feito entre o céu e a terra, tendo a Igreja Universal como intermediária. A arca da aliança exposta no templo, portanto, é a exteriorização desse contrato que Deus fez com Israel por meio de Moisés, ainda no deserto. Quando firmado hoje, é a garantia de que a bênção pedida será concedida, desde que o fiel aja com muita fé e faça a sua parte corretamente. Isso, pelo menos, é o prometido pelos pastores e bispos. Se algo der errado, a culpa não é da Igreja: o fiel é que não conseguiu cumprir todas as cláusulas da aliança feita com Deus.
Com o Templo de Salomão, verifica-se a exacerbação de um processo que já vinha sendo implantado há muito tempo na Universal. A sacralização do espaço religioso é algo que vem da tradição católica, dos cultos afrobrasileiros e das Escrituras judaicas, mais do que do Cristianismo protestante. No espaço ao redor do templo, foram plantados 12 pés de oliveira, para representar as doze tribos de Israel. E, à semelhança dos antigos templos católicos, há na sede mundial da Universal espaço para os túmulos onde, possivelmente, Macedo, seus familiares e figuras ilustres da igreja serão sepultados. Convém lembrar, no entanto, que Jesus insistia na temporalidade do templo de Jerusalém e dizia que, a despeito de sua beleza e do destaque que tinha na vida religiosa judaica na época, seria completamente destruído – e que o próprio Filho de Deus deixou claro que seus seguidores poderiam se reunir em qualquer lugar, sem preocupação com estruturas e quantidade de pessoas presentes.
Inteligentemente, os líderes da Igreja Universal fizeram uma adaptação das regras que regiam o templo da Israel. Excluíram, por exemplo, a proibição à entrada de mulheres, de pessoas de outras etnias ou portadores de deficiência física, o que seria inadmissível nos dias de hoje. Também não há sacrifícios de animais, rito que jamais voltou a ser praticado pelos judeus depois da destruição, pelos romanos, do templo de Jerusalém, no início de nossa Era.
O modelo seguido na construção da réplica do templo é outro ponto interessante, já que há divergência entre historiadores e pesquisadores a esse respeito. Arqueólogos como Israel Finkelstein consideram que a construção erguida pelo rei Salomão foi parte de uma saga histórica, contida na Bíblia desde o encontro de Abraão com Deus até o surgimento e queda dos reinos de Israel e Judá. Por outro lado, algumas correntes duvidam até da existência daquele templo, já que as únicas referências a ele estão na Bíblia. Essa discussão coloca um distanciamento entre fatos e mitos e levanta algumas questões. A partir de qual modelo Edir Macedo teria projetado a sua réplica? Onde ele teria se inspirado ou se motivado a projetá-lo, além das descrições e medidas registradas na Bíblia? Até que ponto ele se valeu do imaginário religioso brasileiro, no qual a ideia de majestosas catedrais católicas ocupa um importante lugar?
A réplica do templo judeu plantada em São Paulo tenta fazer conexão mística com a santidade de uma construção que não mais existe – ou nunca existiu, segundo os mais céticos. Porém, a Universal necessita ter, por causa de sua simbologia, um lugar que seja uma espécie de centro do mundo; um espaço que possa ser considerado shekinah (morada de Deus) num mundo de crescente secularização. Portanto, a construção está conectada à Terra Santa, de onde provêm a água do rio Jordão, a areia do Sinai e as pedras santificadas que foram colocadas em suas paredes. Paredes sólidas, que parecem representar o esforço da Igreja Universal do Reino de Deus em construir a imagem de uma denominação religiosa estável, que veio para ficar e se espalhar pelo Brasil e pelo mundo.
CONCORRÊNCIA
A construção do Templo de Salomão é o ponto mais alto de um processo que começou num coreto de subúrbio. Mais tarde, a Iurd ocupou salas de cinemas decadentes e passou a adaptar galpões abandonados como casas de culto para centenas, milhares de pessoas. Curiosamente, a importância que Macedo dá ao antigo templo hebreu parece ter muita semelhança com a relevância simbólica que aquela construção tem para o pensamento e os rituais da franco-maçonaria. A Igreja Universal e seu fundador necessitam de espaços sacralizados, que exorcizem um passado de desprestígio e de negação da grandeza atual e demarquem fronteiras entre o sagrado e o profano numa sociedade em que tais limites são cada vez mais dissolvidos.
Ao mesmo tempo, os templos majestosos que a Iurd exibe hoje estão interligados às catedrais eletrônicas, que são as suas emissoras de rádio e de televisão, onde a fé é teatralizada por meio de liturgias hibridamente construídas, que exigem a presença dos fiéis maciçamente e onde se expõem as influências da psicologia das massas e da hegemonia das leis do mercado. Pois é exatamente nos megatemplos que se coloca em prática, com mais facilidade, as formas de associação e hierarquização dos valores e das crenças, tendo como eixo uma cultura gospel e mercadológica. Nesses espaços em que tudo é grande, as crenças são reconfiguradas e adquirem novos significados; uma massa recrutada nas classes médias baixas e nas camadas oriundas das classes “C” e “D” consome avidamente os produtos religiosos oferecidos em busca de uma vida melhor aqui e agora.
Com isso, Macedo ataca rivais incômodos, como Valdemiro Santiago, ex-bispo da Iurd e hoje o exitoso líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, que nos últimos dez anos absorveu fatia significativa do público de Macedo e mostrou-se um adversário forte na TV. Ao mesmo tempo, ao não colocar o nome da Igreja na frente do templo, tenta ele diminuir as desconfianças existentes entre evangélicos, católicos e judeus frente aos seus empreendimentos. É preciso, diante do pluralismo e da concorrência cada vez mais predatória, reforçar o que deu certo e partir para novas formas de ser Universal – e de conquistar visibilidade numa sociedade em que a mídia tem se mostrado avessa a esta igreja e seus pastores, bispos e fiéis.
Leonildo Silveira Campos é pastor aposentado da Igreja Presbiteriana Independente, doutor em Ciências da Religião e professor efetivo do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie e professor-colaborador da Universidade Metodista de São Paulo.
O arquivo original do site da Cristianismo Hoje poderá ser visto por meio do link abaixo:
 
 http://ograndedialogo.blogspot.com.br/