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quarta-feira, 27 de julho de 2016

POR QUE EU DISPENSO O DISPENSACIONALISMO?










Um dos assuntos, talvez, menos abordados por uma comunidade seja escatologia - o estudo das últimas coisas. Contudo, apesar de muitos cristãos não terem um posicionamento convicto quanto a qual corrente escatológica crer, nota-se na maioria destes simplórios uma tendência a serem dispensacionalistas[1], mesmo sem saberem que são.Vamos aos Porquês.

1) Porque uma das maiores propagadoras da corrente escatológica dispensasionalista foi a Bíblia New Scofield, comentada pelo teólogo estadunidense Cyrus Ingerson Scofield. Na segunda metade do século passado esta Bíblia foi muito divulgada no meio protestante e nela continha todo arquétipo dispensacionalista, o qual difundiu a ideia da literalidade das passagens bíblicas-escatológicas e das várias dispensações que a humanidade passa, ou passaria. Para Scofield, as dispensações são “um período durante o qual o homem é testado com relação à sua obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus”.


2) Porque o cinema reabasteceu essa crença no dispensacionalismo. Sim, isto devido a Left Behind, o famoso “Deixados Para Trás” o qual deixou muita gente “para trás” mesmo no quesito coerência bíblica (inclusive eu que já fui um dispensacionalista). Estes filmes, resultantes de uma série de livros que vendeu mais de 70 milhões de exemplares publicada em mais de 34 idiomas, narram os últimos dias na terra após o arrebatamento da igreja, conforme doutrina desenvolvida no século XIX pelo ministro anglicano John Nelson Darby.


A doutrina dispensacionalista é recente. Apenas na segunda metade do século XIX John Nelson Darby passou a difundir esta corrente. Isto é, os principais expoentes da teologia reformada, de Agostinho a Spurgeon, oscilaram entre “pré-milenistas”, “pós-milenistas”, e amilenistas, mas não dispensacionalistas!


Veremos aqui alguns pontos da visão dispensacionalista a fim de concluirmos que nada mais coerente do que deixar as dispensações bem para trás:


a) Os dispensacionalistas creem na literalidade das escrituras e rejeitam verdade básicas do Novo Testamento, como por exemplo, a chegada do Reino de Deus. Deste modo as profecias veterotestamentárias que se cumpriram em Cristo são rejeitadas. Veja o que diz Herman Hoyt, um dispensacionalista contemporâneo:
“Este princípio claramente declarado é o de tomar as Escrituras em seu sentido literal e normal, entendendo que isso se aplica a toda Bíblia. Isto significa que o conteúdo histórico da Bíblia deve ser tomado literalmente; a matéria doutrinária deve ser igualmente interpretada desta forma; a informação moral e espiritual também segue este padrão; e o material profético deve ser igualmente entendido desse modo”.
Outro defensor desta corrente, o Pr. Marcos Granconato (recém-conhecido dos internautas e famoso por sua forma dura, e às vezes pitorescas, de defender algumas vertentes da teologia) chegou a dizer em sua rede social que “(...) esse modelo, (...) está livre de montagens artificiais, construídas na base da tradição, da fidelidade confessional cega e da hermenêutica espiritualista”.


Bem, será se a tradição cristã, no que tange a teologia dos principais teólogos reformadores, tem montagens artificiais e fidelidade confessional cega? Vamos as problematizações abaixo.


* Por que Jesus espiritualizou o Reino de Deus? Vejamos como nós, que rejeitamos o dispensacionalismo, pensamos.




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Apesar do termo “Reino de Deus” não ser encontrado no Antigo Testamento, o pensamento de que Deus é rei está presente especificamente em Salmos e nos profetas. Ele é visto como rei em Israel (Dt 33.5; Sl 84.3; 145.1) e em toda a terra (Sl 29.10; Sl 47.2; Sl 96.10; 97.1). Portanto, neste quesito os dispensacionalistas ainda aguardam a implantação de um reino literal de Jesus na terra! Isto é, para esta corrente o reino chegado, na pessoa de Jesus, ainda não é o reino prenunciado no Antigo Testamento.
“Se, porém, eu expulso os demônios, pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28).
Vamos pensar um pouco mais... Por que será que para os dispensacionalistas o reino de Jesus não chegara ainda? Segundo eles, seria porque que Cristo ofereceu tal reino aos judeus de sua época, mas eles rejeitaram, e portanto, a igreja é um parênteses na história que precede o retorno do Filho a terra para finalmente reinar em Israel literalmente com os judeus por um período de Mil anos e só depois disso tudo, partir para o estado eterno.


Você pode estar me perguntando: é sério que eles creem nisso? Sim. Eles conseguem crer assim.


b) Você acredita na doutrina da depravação total? (...) “que todos se extraviaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23) sendo impossível ao homem responder positivamente a Deus, sem que Ele antes opere sobrenaturalmente em cada ser? Se sim, como você conceberia a ideia de Deus passar a história toda testando a obediência do homem? Ora, não seria um contrassenso Deus continuar testado o homem, cujo seu estado natural passa a ser de rebelião contra ele? O homem foi reprovado! Deus não esperava mais nada da humanidade para providenciar a redenção de sua Criação. Em Gn 3.15 Deus faz uma promessa de restauração, sustenta-a e concretiza na Cruz. Esqueçam os testes! Deus conheceu nosso fracasso como humanidade, tanto é que imolou seu filho no madeiro, antes da fundação do mundo (Ap 13.8).

c) Dispensacionalistas crêem que Deus tem dois povos, e não só UM POVO. Veja só, enquanto os dispensacionalistas ainda fazem divisão entre judeus e gentios no que diz respeito aos planos e decretos de Deus, o apóstolo Paulo declara de forma clara “que o muro de divisão que anteriormente dividia judeus e gentios foi removido permanentemente por Cristo” (Ef 2.14-15).No Antigo Testamento Deus já expressara que Seu desejo era que a nação de Israel fosse luzeiro para todas as nações da terra (Gn 12.3) a fim de alcançar todos os povos.
“Anunciai entre as nações a sua Glória e entre todos os povos as suas maravilhas” (Sl 96.3).
E mais, em outras passagens o apóstolo Paulo reafirma que o verdadeiro Israel de Deus salvo não são os de linhagem étnica-racial israelita, mas os que pela fé estão em Cristo.
"Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus". (Gl 6.15-16)
Em outras palavras, o verdadeiro judeu não é aquele que fez a circuncisão da carne, e sim aquele que fez a circuncisão do coração (Rm 2.28-29)


d) Os dispensacionalistas acreditam que haverá um futuro reino milenar. Milênio para os dispensacionalistas seria um período literal de mil anos expressos em Apocalipse 20 e que será inaugurado com o arrebatamento parcial da igreja – parcial, pois os dispensacionalistas acreditam que Cristo vem por etapas - e a prisão de satanás que precederão um longo período de paz, prosperidade e evangelização mundial.


Vejamos os grandes problemas desta interpretação de Apocalipse 20.
* Não faz sentido interpretar os mil anos de Apocalipse 20 como anos literais! Isto porque o livro de Apocalipse não é um livro descritivo, mas em sua grande maioria simbólico. Números são utilizados na Bíblia como significados de perfeição (nº 7), imperfeição (nº6), totalidade (nº 10). Se Mil anos forem literais, então a chave, corrente, o dragão e tudo no texto também deixariam de ser figuras simbólicas e passariam a ser literais.

* “Mil anos” é uma expressão simbólica que demarca um tempo total e incerto entre a primeira vinda de Cristo e o Seu retorno para implantação do reino eterno.

* Satanás não será preso como esperam os dispenscionalistas. Ele já está preso! Como comprovamos isso? A vinda de Cristo ao mundo nos colocou entre uma tensão conhecida pelos teólogos de “já e ainda não”, isto é, Cristo implanta o seu Reino já, mas ainda não, plenamente. Portanto, com a descida do Filho ao mundo satanás foi preso. Mas, o que seria estar preso? Será que o diabo está literalmente acorrentado ou encarcerado em algum cubículo? Claro que não! Prisão de satanás significa dizer que o seu poder foi restringido e a sua atuação não está “mais tão livre” como antes, uma vez que agora a igreja recebera poder contra toda ação maligna.
“Também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" [Mateus 16.18]


Mas, onde podemos diagnosticar que satanás realmente foi preso com a vinda de Cristo? Veja:


“Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa” [Marcos 3.27] Nesta parábola fica claro que Jesus está se referindo a satanás no que diz respeito ao valente. O valente foi amarrado!! Aqui, mais do que nunca nós concluímos que não faz sentido algum aquele jargão, muito usado pelos pentecostais, “tá amarrado”. Ora, dizer isso ante uma situação adversa no intuito de amarra satanás é vão. Cristo amarrou-o. Limitou-o.


Outro verso que bíblico que corrobora para esta certeza encontra-se em Colossenses 2.15:“ E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo”.


A palavra despojar significa desarmar. Imagine um guerreiro que se arma com espada e escudo e avança para matar seu oponente. Agora pense no adversário que arranca a espada e o escudo deste guerreiro. Assim Cristo fez com satanás na Cruz! Ele humilhou-o e reduziu todo o seu “poder de ataque”. Ora, isto não significa que antes Deus não tivesse tamanho domínio, mas significa dizer que agora, através do evento da vinda de Cristo e a sua crucificação Satanás este domínio se dá plenamente ao passo que Deus concede autoridade ao seu povo e expande o seu Reino.


e) O dispensacionalismo crê que quando se iniciar o período de Grande Tribulação, o qual sucede a primeira vinda de Cristo, mesmo sem a pregação do Evangelho na terra e sem a presença intencional do Espírito Santo, alguns crentes nominais que ficaram ainda poderão ser salvos ao não negarem o nome de Jesus e resistirem a marca da besta, por méritos próprios e baseados, talvez, em uma espécie de um senso teológico de “essa é minha última chance”.


Ora, este talvez seja um dos pontos mais difíceis de serem harmonizados com a soteriologia bíblica. Afinal, como ser salvo pela Graça, mediante a fé, sem receber diretamente de Deus este dom?


E aí. Dispensa ou não?

Por Antognoni Misael

***


[1] Dispensacionalismo é uma abordagem teológica da Bíblia que divide a história sacra em várias eras específicas ou dispensações, sendo que em cada uma delas Deus lida com as pessoas de um modo diferente. A última dessas dispensações, dizem eles, será o Reino de mil anos de Cristo sobre a terra durante o milênio. Pré-tribulacionismo é a posição que diz que a Igreja será arrebatada e levada para o céu antes da grande tribulação que precede o milênio. [Anthony Hoekeman]


Texto produzido a partir dos comentários escatológicos de Anthony Hoekeman, Wayne Gruden, William Hendriksen, Hernandes Dias Lopes .

sábado, 18 de junho de 2016

07 motivos porque porque boa parte das canções entoadas nos cultos são de péssima qualidade.



"Quem canta os males espanta", diz o ditado tupiniquim. Todavia, parte da igreja nesse país, não tem conseguido " afugentar" dos seus púlpitos as bobagens entoadas pelos cantores gospel, que devido a inúmeros fatores, tem contribuído para a disseminação de falsas doutrinas, ensinos espúrios e esquisitices das mais variadas possíveis. 

Isto posto, resolvi elencar sete motivos porque porque boa parte das canções entoadas nos cultos são de péssima qualidade, senão vejamos:

1-) Além da falta de conhecimento bíblico falta conhecimento teológico ao cantores e compositores.

2-) Os cantores e compositores fundamentados no antropocentrismo desta geração preferem cantar aquilo que dá certo, e não o que é certo.

3-) Os pastores por razões distintas  deixaram se supervisionar as letras das canções entoadas nos cultos, "abandonando"   nas mãos de cantores e compositores a construção das composições evangélicas.

4-) O Abandono por parte dos pastores do estudo bíblico e expositivo das Escrituras bem como das classes de ensino relacionadas as doutrinas fundamentais à fé cristã.

5-) O mercantilismo da industria gospel que nos últimos anos tem ditado segundo "o gosto do freguês", aquilo que deve ser cantado nos cultos públicos e congregacionais.

6-) O " sincretismo" da fé como também bem como a relativização das Escrituras por parte dos cantores e compositores.

7-)  A falta de entendimento que o objetivo das canções entoadas, como também do culto, é a glória de Deus e não a satisfação das necessidades e vaidades humanas.

Pense nisso!

Renato Vargens

terça-feira, 14 de junho de 2016

SEXO ANTES DA CERIMÔNIA RELIGIOSA PODE?



Dani Marques


Na fase da adolescência, e durante uma boa parte da vida, os homens "pegam fogo" quando o assunto é sexo. Isso mesmo mãe, seu filho adolescente deseja fazer sexo! "Oh meu Deus, e agora? O que eu faço?” Calma, pode ficar tranquila. Isso só mostra que a sexualidade dele está se desenvolvendo dentro dos padrões da normalidade. O homem foi criado desta maneira, Deus o fez assim. 


O corpo de um menino adolescente passa por um turbilhão de hormônios, e por volta dos 11/12 anos, iniciam-se as ejaculações. É absolutamente normal que ele pense e deseje sexo. Não podemos tapar o sol com a peneira e fingir que nada está acontecendo. É momento de buscar informações em fontes seguras e saudáveis e deixar o canal da comunicação aberto entre vocês. 


As meninas também pensam em sexo, só que de uma forma diferente e bem mais "florida". As cenas são mais românticas e enfeitadas de palavras encantadoras, cenários, carinhos, beijos e... sexo, claro! Meninas, estou mentindo? E quer saber de uma coisa? Se seu filho quiser transar com a namorada e ela também quiser, nada poderá impedi-los (a não ser que tranque cada um no seu quarto até o dia do casamento). Por isso digo que o que deve ser trabalhado na cabeça dos jovens não é o que "pode e o que não pode", mas sim o verdadeiro significado do sexo, do casamento, do amor e as consequências de uma decisão impensada.

E o que fazer com dois adolescentes e jovens apaixonados que estão pegando fogo? Quanto tempo um casal de namorados aguenta sem sexo? O que Deus pensa a respeito disso? Ele permite que o sexo aconteça antes do casamento? Calma, calma, calma! Antes de responder a todas estas perguntas, precisamos entender algumas questões, e uma delas é o real significado da palavra "virgindade".


Muitas pessoas pensam ou afirmam que casaram virgens, mas estão redondamente enganadas. O que dizer de um casal que fez de um tudo, mas não consumou o sexo com a penetração? Claro que não são mais virgens! Seria uma bela hipocrisia dizer o contrário. Ao invés de falarmos sobre virgindade, precisamos trabalhar na cabeça dos nossos jovens a questão do verdadeiro amor e da pureza diante de Deus, pois uma coisa é bem diferente da outra. 


O sexo puro é aquele feito dentro de uma aliança de amor verdadeiro e maduro, e não quando nosso corpo está dominado pelo desejo, no auge da paixão. O grande problema, é que o ser humano deturpou essa forma linda de expressão de amor. O sexo se tornou banal, usado apenas para satisfação pessoal. Se não está bom com o parceiro "x", simples, é só trocar pelo "y". Não vou nem entrar na questão “sexo sem compromisso”, pois já escrevi um texto sobre o assunto. Tudo o que fazemos na vida de solteiro, levaremos para a vida de casado, isso é fato! Hoje você faz as suas escolhas, amanhã suas escolhas fazem você. Temos que ter a convicção de que algumas atitudes que tomamos podem trazer consequências desastrosas para a nossa vida.


Ok, mas porque uma pessoa precisa entrar no casamento pura? Qual a importância disso pra Deus e para nós? 


Deus criou o sexo para o casamento, não há dúvidas quanto a isso. Aliás, vou muito mais além: Sexo é casamento! Se Jesus nos ensina que apenas desejar uma pessoa em pensamento (que não seja o nosso cônjuge) é adultério, o que dizer então de uma pessoa que se une sexualmente a alguém, se torna uma só carne com ela, e depois casa com outra? Entendo isso como adultério, e adultério só acontece no contexto casamento. Então, pra mim, sexo também é casamento! 


E o casamento envolve decisões muito importantes: "Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne." Gn 2:24. Esse é o tal do "casamento" que devemos esperar. Estas três coisas precisam acontecer juntas, isto é casamento!

A questão de deixar pai e mãe vai muito mais além do que sair da casa dos pais, mesmo porque, naquela época (e ainda hoje em algumas culturas), não se saía da casa dos pais. Na verdade, significa formar uma nova família e assumir uma responsabilidade sobre ela (e que responsabilidade!). Quando nos apaixonamos por alguém, desejamos estar com esta pessoa, dividir nossa vida com ela e por isso, somos impelidos a assumir um compromisso de "deixar pai e mãe". Há casais que estão unidos há dez anos mas o esposo ainda não deixou pai e mãe. Percebe como o buraco é mais embaixo?

Outra coisa é o tal do "se unir", que muitos entendem como a cerimônia religiosa. A Bíblia em momento algum diz que Deus proíbe o sexo antes da cerimônia religiosa, pois ela simplesmente não existia. O casamento era algo simples, familiar, singelo e não vinha cheio de regulamentações além do pacto entre as partes. "Adão e Eva não estavam menos casados por não terem tido “testemunhas humanas” para a cerimônia, que naquele caso foi apenas uma bela frase de surpresa: “Uau! Essa Sim!”. Isaque e Rebeca nem esperaram o jantar. Quando Isaque a viu no campo, sendo trazida pelo servo de seu pai, correu ao encontro de ambos, tomou a Rebeca sobre sua montaria e a levou direto para a tenda de sua mãe e a “possuiu”. 

Esse casamento que temos hoje, com todos esses ritos e pompas não existia, no máximo acontecia uma festa entre amigos e parentes para comemorar a união do casal. Poucas coisas foram tão manipuladas pela religião quanto o ato do casamento. O que antes era leigo passou a ser “sacerdotal” e o que antes era coisa de duas pessoas e suas famílias, veio a se tornar algo que só é verdadeiro se um “ministro oficialmente ordenado” realizar a cerimônia dos plebeus desejosos de terem um dia de príncipe e princesa. 


Nada contra, desde que se assuma que é uma representação apenas, posto que aquele ato só deve acontecer se o amor já tiver unido as partes"¹. Um casal que se ama verdadeiramente e resolve celebrar esta união somente entre os dois, pedindo a bênção de Deus e vivendo de acordo com a Sua vontade, será tão abençoado e feliz quanto o casal que celebrou o casamento na igreja. Acha que estou falando besteira? O que me diz então dos casais que tiveram a bênção do padre ou pastor e hoje vivem um inferno matrimonial? Que poder teve esta bênção ou esta cerimônia? 

Ou seja, não é a bênção de um pastor ou uma cerimônia religiosa que vai te casar. "Quando dois seres humanos livres e sinceros se amam de verdade, eles já estão casados. Somente o amor casa e somente a falta dele descasa. Desse modo, quando há amor, nunca há sexo antes do casamento. Quando há amor de verdade, o sexo é o casamento! Mas sexo sem amor durante o “casamento” é pecado também, pois é uma afronta a alma, que "faz amor sem amor". Casamento não é algo que acontece de fora para dentro, só acontece de dentro para fora. É como tudo mais que tem valor para Deus: procede do coração. O casamento é como o batismo: um símbolo visível (o sexo), de uma realidade invisível (o amor entre duas pessoas)"². 


Nas bodas de Caná, Jesus poderia ter celebrado a cerimônia e abençoado o casal para nos deixar um exemplo a ser seguido, mas não o fez. Ele estava mesmo é preocupado com a alegria dos noivos e dos convidados, e não com o ritual em si. E o que dizer de Pedro? Vocês realmente acreditam que ele teve uma festa nos moldes atuais para celebrar sua união com a esposa? É óbvio que não... Com isto não estou querendo dizer que sou contra a cerimônia religiosa, mas apenas desmistificando o "poder" que colocaram sobre ela. Acredito que o que mantém um casal unido é o "depois", a obediência a Palavra no dia-a-dia e o compromisso de amar e servir. Casamento se faz todo dia.


O casamento civil e religioso que temos hoje, foi algo instituído por homens e não por Deus. Encontramos referências Bíblicas apenas sobre a carta de divórcio, e não sobre a "carta de casados". Mas se existia a necessidade de uma carta de divórcio, é porque antes houve um compromisso de união, certo? Então, sim, precisa existir um compromisso entre as partes. Como vivemos debaixo de uma autoridade que reconhece o casamento apenas se os papéis forem assinados no cartório, devemos ser submissos a esta autoridade e fazer tudo conforme a lei. Mas em alguns outros lugares não funciona assim. Não consigo ser tão radical. Quanto às testemunhas, concordo que elas colocam um peso de responsabilidade sobre ombros dos noivos, afinal, é um compromisso público. Isso gera uma certa influência, claro, mas não tem poder nenhum de manter um casamento. 


Quer dizer então que todos os jovens estão livres para transar se houver amor? Não é isso que estou dizendo! A grande questão é: Como saber se o que estou sentindo pelo meu namorado e noivo é amor de verdade? O amor pode ser facilmente confundido com paixão, e a paixão cega! Precisamos estar muito próximos de Deus para ter discernimento e domínio sobre a nossa carne: “Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne”. Gálatas 5:16. 

"E se eu já transei com três pessoas?" Desculpe lhe informar, mas você já está no seu terceiro casamento. Certa vez ouvi o Ed René compartilhando uma conversa que teve com um casal de noivos: "Vocês já transaram com outras pessoas?" O noivo respondeu que sim, com quatro pessoas. E a noiva também respondeu que sim, com três pessoas. Então o pastor disse: "Só gostaria que soubessem que este casamento que iremos celebrar agora será o seu quinto casamento (olhando para o noivo) e o seu quarto casamento (olhando para noiva). Ele também perguntou: “E vocês dois já mantiveram relações íntimas”? A resposta foi sim, e o pastor concluiu dizendo: "Então saibam que já estão casados, a cerimônia será apenas uma festa para celebrar uma união que já foi consumada e eu serei apenas mais um convidado dessa festa."

"E agora? Este casal vai pro inferno?" Eu te respondo com outras perguntas: Alguém vai pro inferno porque cometeu o pecado da gula 10 vezes? Ou porque se entupiu de guloseimas e refrigerante durante toda a sua vida? Ou quem sabe porque falou mal de alguns conhecidos? E qual é a diferença de um pecado sexual para outro qualquer?


Minha gente, a questão é muito mais profunda. Algo muito sério acontece quando duas pessoas se unem sexualmente: "Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois, como está escrito: "Os dois serão uma só carne" 1 Coríntios 6:16. Vou explicar com uma ilustração. Cole duas folhas de papel uma na outra, espere um tempo e tente separá-las. Com certeza não sairão inteiras e nunca mais voltarão a ser como eram antes. É algo muito sério! Deus não quer isso pra nós. Como Pai, ele deseja que tenhamos uma vida de casados livre e plena. Sabe quando uma mãe fala para um filho: "Não coloca a mão aí que dá choque?" Ela não faz isso porque é uma ditadora que tem prazer em cercear a liberdade dos filhos, mas sim porque os ama e não deseja vê-los sofrer. Deus é assim. Ele nos ama e sabe que corremos grande risco de sofrer (física e emocionalmente) quando nos unimos sexualmente com uma pessoa fora da aliança do casamento.

Mas colocando os pés no chão, estes motivos nunca foram empecilho para os jovens desejosos de sexo, já estamos cansados de saber. Se hoje eu tiver que dar um conselho pra você que é jovem e está desesperado pra transar com a namorada, leia e releia esse texto, entenda o que é casamento de verdade e tente esperar. Não por medo ou porque a igreja e seus pais proíbem, mas porque esta é a melhor e mais madura decisão que pode tomar em benefício do seu casamento. Como eu já disse em outros textos, sexo não é sujo, sexo não é pecado e se feito com amor dentro da aliança do casamento nunca é errado. 


"Mas Dani, se eu não transar antes de casar, como vou saber se ele(a) é mesmo bom(a) de cama?". Quando um casal se ama de verdade e procura ter intimidade sexual, desejando sempre o bem do outro, o sexo fica cada dia melhor! Pode até começar ruim, mas conversando sobre o que gostam ou não, sugerindo novas posições e carinhos, vão se aperfeiçoando e, JUNTOS, descobrem qual o sexo melhor para ELES. Não existe fórmula para um bom sexo, cada casal deve encontrar a sua, e isso só acontece com anos de convivência, regados de amor e verdadeira intimidade. 


E outra coisa, durante o namoro deve haver um diálogo sério e transparente a respeito deste assunto. Você precisa saber com quem está se casando. Conheci um casal em que o esposo era maluco por sexo anal, e quando casou, achou que sua esposa iria satisfazê-lo nesta área. Pra resumir a história, o casamento caminhou a trancos e barrancos e culminou em divórcio. Aos casais de noivos, aconselho que, antes de se casarem, leiam juntos o livro “Entre Lençois – de Kevin Leman” e alguns textos aqui do blog: Sexo anal é pecado?, O que Deus pensa do sexo oral? e Vale tudo entre as quatro paredes do quarto?


O grande problema, é que nos dias de hoje a sociedade pressiona o jovem a esperar tempo demais para casar. Eles precisam concluir a faculdade, pós-graduação, doutorado, arrumar um bom emprego, comprar um carro do ano, uma casa, ter uma boa estabilidade financeira, para só então poder pensar em casar. Aí vem a igreja e diz: "É pecado transar antes de casar e é pecado se masturbar". E fica de braços cruzados esperando que o jovem simplesmente cumpra o mandamento. E se ele não cumpre, ela rapidamente descruza os braços e aponta o dedo dizendo: "Pecador!". 


Deus instituiu o casamento, mas não instituiu o namoro que temos hoje, recheado de carinhos, beijos, abraços e momentos a sós. Tudo mudou! Antigamente as moças eram cortejadas e não existiam amassos no cinema, por isso era muito mais fácil resistir a tentação. O namoro que temos hoje, inclusive entre os cristãos, é um caminho que leva ao sexo. O beijo de língua faz parte das preliminares do sexo, ele excita! Nos padrões atuais, é quase impossível um casal que namora muito tempo ficar sem sexo. A não ser que eles sejam totalmente compromissados com Deus, busquem a santidade no namoro e evitem momentos a sós. 


Existe uma pesquisa feita pela BEPEC, com mais de 1,6 milhões de evangélicos, que diz que 77% dos neopentecostais, 54% dos tradicionais, 57% dos pentecostais e 58% de outras denominações, fizeram sexo antes do casamento. Não podemos ignorar estas informações! Isso é uma prova de que simplesmente dizer para um jovem: "Transar antes do casamento é pecado" não funciona.


Mas diante de tudo isso, qual a solução para este problema? Eu vejo apenas três opções: 1. Os jovens deveriam namorar por pouco tempo; 2. Simplesmente não namorar, apenas cortejar; 3. Buscar intimidade com Deus antes de buscar intimidade no namoro. Quanto mais próximos estivermos de Deus, mais longe ficaremos do pecado: "Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam. Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei." Gálatas 5:16-18.


Ser guiado pelo Espírito. Aí está o segredo. Quanto mais buscarmos a Deus, mais próximos ficaremos da Sua vontade. Não é mais a lei que vai me guiar, mas sim o Espírito de Deus. Não vou deixar de fazer sexo fora do casamento simplesmente porque alguém disse que é pecado, mas sim porque o Espírito Santo de Deus vai me conduzir a isto: "Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja, mas quem vive de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito deseja." Romanos 8:5. 

Mas como posso buscar a Deus? Sugiro que ore: "Senhor, eu não sei como é esse negócio de viver pelo Espírito, mas quero isso pra minha vida!" Deus vai te entender. Enquanto isso, devore os evangelhos, em especial o de João, e peça sabedoria e entendimento a Deus como alguém que clama por água no deserto! "Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes, ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração." Hebreus 4:12


"Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele". João 14:21. Faça a sua parte e Deus fará e Dele, creia! "Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexpremíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus. Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito." Romanos 8:26-28

A Palavra vai muito além do que nossos olhos podem enxergar e muito mais além do que um simples "não fornicarás"! Ensinamos aos jovens que é pecado transar antes de casar, mas esquecemos de ensiná-los que tudo começa com um mal pensamento bem alimentado, e que este mal pensamento precisa ser dominado, para não dar a luz ao pecado: "Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte." Tiago 1:14-15. E como dominar e discernir o pecado? "Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam. Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei." Gálatas 5:16-18


Deus criou o sexo para o casamento. Ele planejou que o homem tivesse apenas uma mulher para a vida toda e criou o sexo para selar esta união. O pecado, a maldade e a falta de amor distorceram e acabaram com este plano, que é perfeito. Se você ama a "mulher da tua mocidade", não fará mal a ela, ou seja, estará cumprindo a lei através do amor. Não falo do amor deste mundo, que é egoísta, erótico e sentimental, mas sim do Amor verdadeiro, dom dado por Deus: "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 1 Coríntios 13:4-7.


Se você já escorregou, transou fora da aliança do casamento e está realmente arrependido por ter "adiantado o processo", peça perdão a Deus, vá e não peques mais! “Mas como vou aguentar?” Sinto-lhe dizer, mas pelas suas próprias forças você não vai conseguir: "Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus, mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!" Romanos 7:22-25.

Que a sua plena realização e alegria esteja em Deus, e não no seu cônjuge ou futuro cônjuge. Se acha que vai preencher o vazio que existe em seu peito ao se casar, está redondamente enganado. Um casamento feliz é formado por duas pessoas que já encontraram a verdadeira felicidade em Cristo Jesus. Se o seu relacionamento com Ele for prioridade, TUDO cooperará para o seu bem: "Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito." Romanos 8:28



¹ e ² www.caiofabio.net
Dani Marques é colaboradora do  Genizah

Afinal, o que os evangélicos querem da política?




A pesquisadora Bruna Suruagy do Instituto Presbiteriano Mackenzie conta o que descobriu sobre a bancada da bíblia, alvo de sua tese de doutorado







A professora de psicologia Bruna Suruagy, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, fez 42 entrevistas para sua tese de doutorado Religião e política: ideologia e ação da ‘Bancada Evangélica’ na Câmara Federal”. Ouviu parlamentares da bancada evangélica (de 2007 a 2011), assessores e jornalistas. Continuou acompanhando o movimento dos políticos evangélicos e o crescimento da bancada no Congresso. Em entrevista à Pública, Bruna explica como acontece a seleção dos candidatos dentro das igrejas, o esquema político das principais denominações pentecostais e o que querem os políticos evangélicos.


Como começou sua pesquisa sobre a bancada evangélica?

Meu objetivo era entender como se processava a articulação entre os discursos religiosos e políticos. Foi na legislatura de 2007 a 2011, que aconteceu logo após a CPI das Sanguessugas que apresentou alguns nomes de parlamentares evangélicos. Na ocasião, a Igreja Universal retirou a candidatura de muitos parlamentares e o início da legislatura de 2007 foi bastante tenso por conta desse processo. Teve uma redução significativa da bancada. Na época eles estavam com 45 membros.


Quando os evangélicos passaram a se organizar politicamente?

Antes da década de 1990, já existiam vários parlamentares evangélicos, mesmo antes da Constituinte – muitos protestantes históricos e alguns pentecostais, mas não existia uma organização institucional da campanha desse grupo específico. Eram evangélicos que decidiam se candidatar e eventualmente recebiam o apoio de suas igrejas. Claro que, embora independentes, havia na Câmara uma certa articulação em nome sobretudo da manutenção dos interesses e valores morais próprios desse grupo. Mas no início da década de 1990 a Universal passou a protagonizar a participação política entre os evangélicos e já começou atuando com um plano político. Ela criou uma forma de fazer política no sentido de quase atuar como partido.

Funciona assim: A cúpula da igreja, formada por um conselho de bispos da confiança de Edir Macedo, indica candidatos em um procedimento absolutamente verticalizado, sem a participação da comunidade. Os critérios para a escolha desses candidatos geralmente têm base em um certo recenseamento que se faz do número de eleitores em cada igreja ou em cada distrito. E cada templo, cada região, tem apenas dois candidatos, que seriam o candidato federal e o estadual. Ela desenvolve uma racionalidade eleitoral a partir de uma distribuição geográfica dos candidatos e a partir de uma distribuição partidária dos candidatos. Isso mudou um pouco agora porque existe um partido que é da Universal, o PRB, que fica cada vez mais forte no Congresso. Na época, havia uma distribuição por vários partidos para garantir a eleição. E são escolhidos bispos com um carisma midiático, que conduziram programas, radialistas e mesmo não bispos, mas figuras que se destacavam como comunicadores. Porque existe uma interface da mídia religiosa com a igreja e a política.

Não são parlamentares que se destacam na questão litúrgica como grandes estudiosos da Bíblia – até porque a tradição pentecostal está mais na produção de emoções e de momentos afetivos do que de fato na liturgia. Então os bispos e líderes religiosos que promovem essas catarses coletivas e demonstram esse carisma institucional são normalmente os escolhidos para candidatos. A Universal se tornou um modelo para outras igrejas porque a cada novo mandato havia um aumento significativo dos parlamentares da Universal. A Assembleia de Deus, que hoje tem a maioria dos deputados, mas que não funcionava assim, passou a ter a Universal como modelo. Não atuando da mesma forma porque o funcionamento institucional é outro. A Assembleia é uma igreja com muitas dissidências e muitas divisões internas, por isso não é possível estabelecer hierarquicamente os candidatos oficiais. As igrejas têm fortes lideranças regionais e uma fragilidade do ponto de vista nacional. A sede não tem tanta força e, por isso, eles criam prévias eleitorais. As pessoas se apresentam voluntariamente ou são levadas pela própria igreja e ainda há a ideia de que alguns são indicados por Deus porque mobilizam grandes multidões, ou contagiam, como dizia Freud, também termina sendo um critério.

"Ainda há a ideia de que alguns são indicados por Deus porque mobilizam grandes multidões"

Então tem uma lista, depois uma pré-seleção que passa por um conselho de pastores – isso em cada ministério [a Assembleia de Deus é uma igreja com muitas ramificações]. É interessante que os que pretendem se candidatar assinam um documento se comprometendo a apoiar o candidato oficial caso ele não seja escolhido. Na Universal, como o poder é nacional, tem uma sede hierarquizada que consegue controlar a instituição, candidaturas independentes não acontecem. Até porque os parlamentares que foram eleitos com esse apoio institucional e que na segunda legislatura tentaram se candidatar de forma independente não ganharam as eleições. A vitória está totalmente atrelada à instituição. Existe uma estratégia bem construída porque eles preveem uma fidelidade de 20%, que não é alta. A Assembleia de Deus está tentando construir essa fidelidade e essa unidade política que são extremamente difíceis devido a essa fragmentação interna. E faz as prévias nacionais com a participação de pastores e obreiros, novamente sem a participação da comunidade – não é um processo transparente. No Congresso então você tem essas lideranças religiosas que demonstram uma maior habilidade na interlocução com o sujeito, um carisma que gera catarse, contágio, impacto afetivo e as lideranças que foram identificadas e constituídas pela igreja como nomes importantes para ocupar o cenário nacional.


A bancada evangélica é homogênea?

Na bancada evangélica no Congresso e também nas bancadas estaduais e municipais, você tem uma diversidade tão grande de integrantes que não dá pra pensar esse grupo como um bloco coeso, homogêneo. Muitos vêm representando a Assembleia de Deus e a Universal e algumas neopentecostais que tentam imitar essa estratégia, como, por exemplo, Sara Nossa Terra, de onde saiu o Cunha. Você tem muitos parlamentares das chamadas protestantes históricas [batistas, presbiterianas, luteranas, metodistas] que têm uma candidatura totalmente independente porque não há um plano político já estabelecido dentro das igrejas. Eles simplesmente são evangélicos, mas a trajetória política geralmente não se dá dentro da igreja e não há uma vinculação direta ao exercício da fé. Esses parlamentares gostam de dizer que separam bem a fé no âmbito privado da política na esfera pública. Mas é uma distinção contraditória porque eles tomam, sim, como referência algumas crenças e valores para orientar suas práticas parlamentares e votações como quando se discute aborto e homofobia,a por exemplo.

"A Universal passou a protagonizar a participação política entre os evangélicos e já começou atuando com um plano político"

Lembro que um parlamentar me disse na época em que fiz as entrevistas que não há como fazer uma separação absoluta porque um marxista, por exemplo, vai acabar se submetendo a essa orientação de consciência na hora de atuar. E que ele, como cristão, se submete a essa orientação de consciência. Mas que vota orientado pela consciência, e não por uma filiação religiosa ou institucional específica. Então, nas protestantes históricas, não há essa presença ostensiva da instituição. A pentecostal, que traz consigo a teologia da prosperidade, que tem a presença do neoliberalismo, do conservadorismo institucional e moral, já tem essa coisa de práticas políticas fisiológicas e clientelistas. É um grupo heterogêneo, mas os parlamentares pentecostais têm uma posição mais orientada pelas instituições religiosas. O mandato não é do parlamentar; é pouco do partido, é mais da instituição.


Isso já é combinado com relação aos temas que eles vão defender? “Te ponho lá mas você me garante que o aborto não sai!”


No começo, a gente tem a impressão de que a igreja interfere totalmente em tudo. Mas o Edir Macedo, por exemplo, é um líder muito complexo. Alguns parlamentares me contaram que ele determinou que eles precisavam ter uma formação política. Então eles frequentam cursos de formação política na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Alguns outros cursos são dirigidos para bispos e parlamentares da Igreja Universal. Eles disseram isso explicando que não iam totalmente despreparados. “A gente tem uma formação, antes de vir tenta entender e conhecer.” O grande paradoxo da Universal é que no período eleitoral há uma mistura entre religião e política que é clara, não é velada. Ela se dá dentro do templo, o templo vira palco, o púlpito vira palanque político e as discussões pragmáticas sobre as eleições acontecem no púlpito. Tem toda uma pedagogia eleitoral que acontece dentro do templo. E no Parlamento eles tentam separar o discurso político do discurso religioso. Na verdade, isso começou a ser exigido pela cúpula da Universal depois de aparecerem escândalos e irregularidades envolvendo parlamentares evangélicos. Na época, quem era o grande líder político era o Bispo Rodrigues, que era o braço-direito do Edir Macedo. Depois dos escândalos do caso Waldomiro e do mensalão [que o levou à condenação a seis anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro], ele renunciou em 2005, perdeu o título de bispo e retiraram todas as candidaturas dos parlamentares justamente para não arranhar a imagem da igreja. Dizem que o Edir Macedo tem o privilégio de não participar desses momentos.

"O templo vira palco, o púlpito vira palanque político e as discussões pragmáticas sobre as eleições acontecem no púlpito"

Tem até um líder de outra igreja, o Robson Rodovalho, que é da Sara Nossa Terra, que se candidatou e se elegeu, que dizia que era muito difícil para ele como líder estar ali. Que para o Edir Macedo era muito mais fácil porque, se algum parlamentar fosse citado ou cometesse alguma irregularidade, ele simplesmente diria que não sabia de nada. No caso dele, a igreja correria o risco de se enfraquecer. O que me chamou atenção quando fiz as entrevistas foi que nenhum tinha mais o título de bispo. Com os outros, eu começava sem perguntar nada sobre a religião, e eles mesmos em algum momento entravam nessa parte da fé. Já os parlamentares da Universal não falavam de Deus, era um discurso totalmente parlamentar. Não mais progressista, mas eles queriam separar os processos. E, segundo um deles, o próprio Edir Macedo orienta os parlamentares a seguir as orientações do partido nas votações exatamente para que eles não tenham divergências e eventualmente percam as verbas públicas destinadas às emendas parlamentares.


Então qual é o grande interesse da Universal?


Quando as temáticas são institucionais, relacionadas a isenção fiscal, alvará de funcionamentos das igrejas, doações de terrenos, distribuição de concessão de rádios e TV, a transformação de eventos evangélicos em eventos culturais pra receber financiamento da Lei Rouanet, questões relacionadas à lei do silêncio. Aí eles atuam de forma articulada, como um bloco, convergem em nome desses interesses, como em relação a questões morais. Com algumas diferenças, mas muitas aproximações. Alguns cargos dos gabinetes têm que ficar à disposição da igreja, que indica quem vai ocupar. É uma igreja pragmática, tem muito mais interesses institucionais do que morais. Se for analisar do ponto de vista moral, é muito mais flexível e aberta do que igrejas como a Assembleia de Deus. Essa, sim, tem um discurso de natureza moral além do institucional, de manutenção da ordem. Quando há convergência nesses temas institucionais e morais, a bancada se articula. É importante salientar que poucas vezes você verifica a articulação desse bloco de forma totalmente coesa. Eles excluem a política nessa discussão de pauta dos parlamentares evangélicos para criar uma falsa aparência de unidade. Muitas vezes a imprensa anuncia a bancada evangélica como um ser único, e para a bancada é muito interessante aparecer assim como um corpo único, um bloco suprapartidário…

E dizer “a bancada” convenientemente não dá nomes, né?


Exatamente, uma entidade com um poder e as divisões não aparecem. Mas no discurso desses parlamentares que estão à frente e que normalmente são os das igrejas pentecostais apresentam a bancada dessa forma. “A bancada decidiu”.

Eles se reúnem?

A mídia faz parecer que sim, mas não. Porque eles estão filiados a partidos e a movimentação na Câmara se dá por partidos. Eles ficam muito indignados com a falta de poder que têm, porque têm poder na igreja, mas a divisão por partido privilegia o alto clero. Você tem alguns líderes partidários que definem as orientações e eles tem que seguir ou são punidos de alguma forma, principalmente não tendo as verbas públicas para realização das emendas parlamentares. “Estou aqui mas não tenho muito poder de decisão, tenho sempre que obedecer partido, não tenho autonomia” eram reclamações constantes. Estou falando principalmente desse grupo pentecostal, que é o mais barulhento e que fala pela bancada, principalmente os assembleianos [da Assembleia de Deus]. Eles têm o Feliciano, o Cunha, o João Campos, que é o líder da Frente. Engraçado que na época em que eu fiz a pesquisa o Eduardo Cunha era superinexpressivo como integrante da bancada evangélica. Mas eles se reúnem muito pouco, às vezes no dia do culto, quarta de manhã, fazem o ritual religioso e têm alguma discussão sobre projetos de lei e discussão de pauta.

O interessante é a atuação dos assessores. Eles acompanham os projetos diariamente, em uma tentativa de mapeamento dos projetos em tramitação e seleção dos mais importantes, projetos “anticristãos”. Você também tem uma distribuição dos parlamentares pelas comissões que eles consideram mais importantes como a de Seguridade Social, de Direitos Humanos, de Constituição Justiça e Cidadania. Aí eles vão tentando barrar a tramitação dos projetos. Alguns mais ativos tentam conseguir posto de presidente ou relator. Você tem uma estratégia bem elaborada, mas não conta com uma participação tão ativa quanto parece. É uma bancada barulhenta, intempestiva, aguerrida, beligerante, e esse barulho cria a impressão de volume, de quantidade de poder, de coesão. Acho que também é uma estratégia de parecer maior do que é pelo grito. Que é o que acontece nas próprias igrejas. As igrejas têm esse discurso de guerra, de combate. O exército da Universal que deixou todo mundo perplexo, mas isso sempre aconteceu, é o discurso de todas as igrejas. A convocação nas igrejas tem todo esse ritual bélico mesmo. E o soldado é aquele que está ali para obedecer e para combater. A bancada usa isso também. Você valoriza o tamanho do adversário para convocar os integrantes. Mas eu ouvi muitos relatos de parlamentares que estavam acompanhando votações e que tinham poucos para impedir a continuação da votação. Aí o assessor ligava para a lista da FPE: “Esse é pró-vida, vou chamar”. Aí liga: “Deputado, vem aqui, pede vista”. Eles têm uma assessoria que conhece os procedimentos regimentais e que orienta os parlamentares que muitas vezes não sabem nem o que está acontecendo ali. Tem uma disponibilidade em participar quando convocados e uma entrega total de alguns pela causa.

"É uma bancada barulhenta, intempestiva, aguerrida, beligerante, e esse barulho cria a impressão de volume, de quantidade de poder, de coesão"


Qual é a missão da bancada evangélica nesse sentido? Ao meu ver, é de preservação, não de criação. Eles não querem criar projetos, querem manter tudo intacto. É uma atuação ideológica, se posicionar contra projetos inovadores, transformadores. Agora que houve algumas críticas, eles estão tentando elaborar projetos mais numa perspectiva de manutenção de uma ordem do que de transformação. É uma ação mais combativa, defender uma ordem social hegemônica. Os projetos que estão surgindo são pra fazer frente a projetos que estão em andamento, por exemplo, com relação a projetos do grupo LGBT. Criminalização da homofobia – criminalização da heterofobia. São projetos estapafúrdios. Aborto, drogas, criminalização da homofobia, casamento entre pessoas do mesmo sexo, são contra a discussão de gênero, a favor do ensino religioso, contra todos os projetos pedagógicos e educativos que combatem qualquer tipo de discriminação de gênero, sexual…

Você acha que é uma causa legítima? Eles acreditam mesmo nisso?


Antes do Eduardo Cunha, eles estavam caminhando para um discurso mais coerente com aquele espaço. No fim de 1980, os discursos condenavam o aborto e justificavam trazendo passagens bíblicas, dizendo que Deus não permite. Depois a bancada amadureceu um pouco nesse sentido, entendeu que não dava pra usar esse discurso porque não tinha coerência e começaram a argumentar de forma mais legislativa, aderir a um discurso que tinha mais ressonância naquele contexto. Toda moral é um sistema de controle. A sexualidade é um tema central na igreja com um discurso muito forte constante porque a sexualidade de alguma forma expressa liberdade. Então, você tem um sistema normativo de controle. É genuíno no sentido de que eles acreditam nessas coisas, mas virou, sim, um jogo de poder com os movimentos LGBT, por exemplo. O aborto é um tema controverso. Alguns acham que o aborto deveria ser crime hediondo, que é um assassinato. Mas outros, como os da Universal, acham que o aborto é uma possibilidade. É uma defesa genuína de posições morais que eles querem transferir para a realidade social. É legítimo que um grupo pense assim. O que não é legítimo é trazer esse discurso para a esfera pública de um Estado laico.

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